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UM


N o s    d i a s    d e    h o j e ...

— UM JANTAR? — PERGUNTO OLHANDO encantada para o vaso transparente com rosas vermelhas e brancas sobre a mesa de vidro do escritório.

— Aham. Parece que um certo alguém está loucamente apaixonado. — Luna diz sorridente, segurando seu bloquinho de anotações e a caneta com enfeite de borboleta e glitter.

Não era de hoje que Álvaro Zambrano insistia em estreitar nosso vínculo, e eu me divertia com suas investidas. Mesmo sendo rico, viúvo e muito bonito, nunca me senti completamente confortável para dar um passo à mais em nossa "amizade".

E é óbvio que não sou nenhuma santa. Nos divertíamos muito juntos, mas assumir um compromisso com ele implicava em outras questões, e a mais importante delas era meu filho.

Meu filho.

As duas palavras não soam tão estranhas e pesadas como há cinco anos, quando vi o rostinho de Enrique pela primeira vez, me dando conta da responsabilidade que recaiu sobre mim, já que minha mãe se negou a criar o próprio neto e Henry fugiu para sempre. Mesmo coberta de medos e inseguranças, eu enfrentei o maior desafio da minha vida, e assumi a criação dele, lhe dando todo amor e atenção que poderia dar.

Enrique era o pedacinho de Celina que eu tinha bem próximo de mim.

— Hoje é um dia ruim para jantar fora. — Digo, me sentando na cadeira giratória, e analisando alguns papéis.

— Porque, Val? — Luna perguntou, parecendo inconformada.

— Hoje é sexta, e fico com o Enrique, sabe disso. E o Álvaro também. Não sei por que ele propôs isso.

— Talvez ele tenha uma surpresa para você, quem sabe.

Ergo a cabeça e a encaro.

— Sabe de alguma coisa?

Ela parece assustada e começa negando com a cabeça antes de falar:

— Claro que não, Val. Foi só algo que passou na minha cabeça.

Isso não estava cheirando bem.

— Mande mensagem para o Álvaro e confirme o jantar. — Peço, até porque a suposição de Luna me deixou completamente curiosa. — Vou conversar com o Enrique, e ver se consigo alguém para ficar com ele até eu chegar.

— Posso ficar com ele, se quiser. Sabe que ele me adora, não é? — Propõe.

— Tem certeza de que não sabe de nada, Luna? — Pergunto desconfiada.

— Sim, senhora. — Ela responde apenas.

Eu a conhecia muito bem para saber que escondia algo, mas decidi segurar minha curiosidade, não insistindo ou investigando.

As horas se passam, e quando me dou conta, já é o momento de buscar Enrique no colégio. Deixo a galeria e em poucos minutos estou em frente ao prédio de três andares, pintado de azul, amarelo e vermelho.

A moça da portaria já me conhece, e assim que encosto o carro, chama meu menino. Em alguns segundos, ele aparece, com passos alegres e um enorme sorriso no rosto.

Era tão bom saber que aquela demonstração de felicidade era por mim, por saber que eu estava ali. Eu me sentia completa.

E cada vez mais, Enrique se assemelhava à Celina. Os cabelos, o sorriso, os gestos e a forma de argumentar. Eu tentava não me prender nestes detalhes, mas com o passar dos dias ficava cada vez mais difícil.

SENTIDO DO AMOR - Série AMORES PARADISÍACOS Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora