P R Ó L O G O

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• V A L E N T I N A •

5   a n o s   a t r á s ...

— OLHE SÓ ESSAS FOTOS! Você está linda, Celina! – Digo animada, segurando o álbum bordado em azul e branco repleto de fotos dela e sua enorme barriga, enquanto tomávamos limonada na grama do jardim de nossa casa em Miramar, Havana.

— Val, não tenho a mesma certeza que você. – Sua expressão vazia me deixa preocupada.

Tudo bem que as circunstâncias não eram tão boas, mas não era o fim do mundo. De alguns anos pra cá, nossa situação financeira declinou bastante, mas diminuindo gastos aqui e ali, e unindo as economias ao salário que eu iria ganhar do estágio, conseguiríamos criar o bebê de maneira confortável.

— Por que acha isso? Não vê que é a melhor coisa que já nos aconteceu? – Tento animá-la mais uma vez.

Nos aconteceu?

— Claro. Você vai ser mãe, e eu vou ser titia. Olhe só para nós duas. Nem sabemos o que queremos da vida direito, e mesmo assim, estamos transbordando de emoção e felicidade.

— Fale por você, Val. A última coisa que eu queria no momento era estar imensa assim. Se eu soubesse... — Reflete, arrependida.

— Ei? Ficou louca? O que está acontecendo com você? – Tinha alguma coisa errada, e eu estava torcendo para não que não fosse tão grave quanto aparentava.

— Eu não sei. Só acho que esse foi o momento errado. Olhando agora, eu percebo que não nasci para isso. Não nasci para ser mãe, Val.

Começo a rir. Não de alegria, mas de puro nervoso.

— Espera aí, como assim? Nunca ouvi falar de alguma coisa dessas. Como uma mulher pode não nascer para isso?

O pior de toda essa situação era que Celina dizia tudo na mais pura calma, como se tudo que houvesse falado fosse completamete normal.

Onde ela estava com a cabeça?

— Não fique tão perplexa, por favor. Não é preciso ir tão longe para encontrar um caso como o meu. Nossa mãe não nasceu para ser mãe. Isso é mais que óbvio! — Me lembra, aborrecida.

— Não coloque nossa mãe nessa equação. Ela não nasceu para ser minha mãe. Ela adora você. – Digo tranquilamente, até porque, com o passar dos anos, aprendi a não dar tanta importância as preferências e a personalidade amarga de Alma Montero.

Ser a filha mais velha nunca me trouxe nenhum privilégio. Desde criança, eu já percebia a indiferença da minha mãe comigo, mas isso nunca foi motivo para que eu me revoltasse com ela, que a odiasse. Na verdade, sua falta de amor me fortaleceu, me fez ser quem sou hoje, e eu tinha muito orgulho disso.

— Nunca descobri o real motivo. — Celina diz, alisando a barriga sem perceber, parecendo confusa.

— Não se esforce. — Ordeno, pensando numa forma de trocar de assunto. — Quando o Henry chega?

Celina respira fundo.

— Daqui a dois dias. Ele teve alguns problemas burocráticos na faculdade, mas nada que atrapalhe seu estágio na empresa da tia. — Conta nitidamene desinteressada.

Celina e Henry já estavam juntos há quase dois anos, e eram perfeitos juntos, mesmo com as inúmeras brigas e crises de ciúme — da parte dela, é claro. Os dois se conheceram quando ele veio passar as férias da faculdade aqui, junto de seus primos Ethan e Max.

Para Alma, ele era o partido perfeito. Mesmo sendo órfão, Henry tinha um sobrenome de peso, foi criado por sua única tia que é dona de uma rede de pousadas em Miami, na Flórida, além de ser estudioso e focado, duas qualidades que minha mãe prezava em um "homem de negócios".

SENTIDO DO AMOR - Série AMORES PARADISÍACOS Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora