C I N C O

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V A L E N T I N A

NUNCA ACREDITEI QUE EXISTIAM assombrações. Para mim, eram apenas justificativas banais e folclóricas para testar o seu nível de tolerância ao terror.

No entanto, os fatos estavam tão turvos e incoerentes que pela primeira vez em toda a minha vida, eu só pensava em fugir do que tinha me encontrado. Não era lógico, tão logo, não poderia ser verdade.

Mas era. Eu vi, falei, e toquei, mesmo que tenha sido de uma forma grosseira. Aquele era um lado meu que não aparecia faz tempo.

Desde que Celina morreu, eu tive que me tornar um alguém diferente do que fui durante toda minha vida. E eu tinha orgulho do que estava me tornando, dia após dia. Porém, naquele instante que vi Henry novamente, ao ouvir todas as barbaridades que ele despejou sobre mim, senti falta de perder o controle, de deixar que o mundo explodisse e que a opinião alheia se ferrasse.

Bem, fiz isso. Pelo menos naqueles segundos em que a ideia de lhe dar um tapa passou pela minha mente, e sem perceber, eu tinha acabado de cometer o ato.

De alguma forma, eu poderia estar errada, mas céus, eu não acreditava nisso. Tinha certeza de que minha reação foi a que qualquer pessoa teria ao se deparar com aquele tipo de situação.

E ele o queria.

Vi isso em seus olhos, em seu semblante desafiador e determinado.

E isso doía de um jeito estranho.

Era até engraçado, porque sempre me perguntei o motivo pelo qual levou Henry a fugir e abandonar o filho. Mesmo que eu achasse que estava se aproveitando da situação, eu não acreditava totalmente nessa suposição, ciente de que no fundo ele amava o filho e um dia retornaria.

E agora, eu não queria que isso estivesse acontecendo. Queria que ele continuasse onde estava, fazendo sabe lá o quê e com quem, vivendo sua vida e afastando qualquer lembrança que deixou para trás.

Como eu estava sendo mesquinha. Não era sobre mim e minhas decepções, era sobre Enrique. O pequeno não sabia de nada. Achava que o pai trabalhava no exterior, e vivia muito ocupado. Menti dizendo que o visitou algumas vezes, mas que ele era pequeno demais para se lembrar.

Acho que cavei minha própria cova!

— Não acha, Val? — Me assusto ao ouvir meu nome sair pela boca de Álvaro e me lembro em que outra situação estou.

Uma reunião. No meu apartamento. Com os representantes que iriam participar do leilão.

Que droga!

— Me perdoem. Não estou me sentindo muito bem. Podemos marcar uma próxima reunião em alguns dias? — Sondo.

Sinto o olhar investigador de Álvaro em mim. Ele me conhecia tão bem que sabia que algo estava errado.

— É claro. Temos muito o que ser resolvido ainda. Iremos aguardar o contato. — Um deles se levanta, seguido dos outros dois. — Tenham uma ótima tarde. — Respondo ao cumprimento silenciosamente, enquanto Álvaro os acompanha até a porta.

É impossível olhar naquela direção e não recordar o que houve há horas atrás. É como se Henry fosse aparecer à qualquer momento, e sinto um arrepio ao imaginar o que ele pode tentar fazer para ter Enrique.

— O que está acontecendo com você? Esteve distraída a reunião inteira. Sei que algo está te incomodando. É a Alma outra vez? — Pergunta, não parecendo muito contente. — Ela esteve aqui após nosso almoço?

Eu queria contar à ele, me sentia totalmente segura.

— Não. São só coisas de mulher. Nada que se preocupar, prometo. — Minto.

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2022 ⏰

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