Capítulo 2 - Colega de quarto.

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A parte da decolagem é a minha parte favorita, gosto da sensação, do frio na barriga, gosto de parecer que tudo está mexendo dentro de nós, e quando o avião estabiliza na sua rota, a primeira vez que você inspira depois disso, é como se estivesse segurando por muito tempo e agora consegue sentir o ar  entrando pelo nariz, fazendo um caminho até entrar nos pulmões, então você expira colocando tudo no lugar de novo. Parece que estava segurando minha respiração por muito tempo, 25 anos para ser mais exata. 

Sentei no assento da janela, amo olhar para o céu, as nuvens, as cidades de lá de cima que parecem tão pequenas, tudo parece tão pequeno, os problemas parecem que não existem. Sempre gostei de aviões, associei eles na minha cabeça como pássaros de metais mágicos que podem te levar para os lugares mais incríveis do mundo, tinha uma regra comigo mesma que sempre que via um no céu eu olhava até não conseguir avistar mais, prendia minha visão nele o máximo que conseguia e instantes pedia que um dia fosse eu dentro de um deles indo atrás dos meus sonhos. 
Pensei em ser comissária de bordo, mas além de matar minha mãe do coração, acho que não tenho altura suficiente, tenho entre 1,58 e 1,60 depende de quem mede e se me alonguei nesse dia. Cabelos castanho cacheado comprido com uma mecha azul, e olhos castanhos também. Um pouco, acima do peso, mas já fui bem mais, hoje em dia estou mais feliz e conformada. Sou branca como a neve também, com bastante pintinhas e sardas, nunca gostei de tomar sol ou ficar muito me expondo à ele, talvez porque eu me queimo até na sombra, ou até mesmo no frio quando está tudo nublado. Acho que tenho uma aparência normal, nada fora do comum. Gosto do meu cabelo e da minha boca, ela bem desenhadinha, e meus cachos demorei um pouco para me entender entender com eles, mas hoje em dia não vivo mais sem. 

Não tive problemas com no voo, sem turbulências, consegui dormir a maior parte, e não precisei levantar mais que uma vez para ir ao banheiro, ainda bem porque o cara que sentou ao meu lado não parecia ser muito simpático, mas pelo menos ficou em silêncio com seu notebook. 
Cheguei em Toronto, aqui vou descer e fazer a imigração, pelo menos não preciso pegar minhas malas, vão direto para Montreal, e lá já posso entrar como se fosse voo doméstico, e me livro da imigração. 

Esse aeroporto é gigante, e demoro um pouco para me achar e descobrir onde é meu próximo portão de embarque. Tenho tempo, mas prefiro ir direto para para lá e ficar por perto. 
Acho um banheiro e uma lanchonete, primeiro o banheiro, a imigração demorou mais do que imaginava, foi tranquila, os canadenses são mesmo o povo mais simpático e educado que já conheci, mas fizeram muitas perguntas e checaram todos os meus documentos, e me fizeram confirmar cada um pelo menos duas vezes, além de confirmar meus dados bancários, a quantia que tinha comigo, a carta da escola, e a confirmação da acomodação na residência estudantil que vou ficar no primeiro mês enquanto estudo e me preparo para o teste de proficiência, para depois dar entrada na matrícula do curso de business.
Pelo menos já posso procurar emprego, mesmo que só possa trabalhar meio período terá que ser o suficiente por enquanto, nas férias posso trabalhar mais horas, mas no momento preciso chegar, me estabelecer, começar a procurar alguma vaga e depois conseguir um lugar definitivo para morar. Quem teve essa ideia de mudar para outro país, mesmo?! 

A moça que me atendeu na lanchonete foi uma fofa, conversamos enquanto meu pedido ficava pronto e ela me deu algumas dicas para usar na hora das entrevistas, de como montar meu currículo, e ajudou muito! Na escola pela qual me matriculei eles também têm esse tipo de consultoria, mas quanto  mais dicas melhor ainda.
Já tenho a lista de alguns hotéis na região onde vou ficar, e vou começar por eles, uns até da mesma rede na qual trabalhava em São Paulo, tentativa de um território minimamente familiar. 

...

O voo para Montreal também foi tranquilo e super rápido, o aeroporto daqui é bem menor. Preciso achar a esteira e enquanto faço isso, vou pedindo para Deus que todas as minhas malas tenham chegado, se estiverem inteiras melhor ainda. 
Consegui resgatar todas e parece não terem sofrido grandes escoriações, yes! 

Saindo pelas portas do desembarque tem algumas pessoas esperando outras que estão chegando, e vejo a plaquinha com meu nome "Joanna Boletti", minha mãe achou que os dois "n's" iriam combinar com os dois "tt's", mas ai o "Coca"que é meu último sobrenome fica meio solto no meio de tudo isso. 
Empurro meu carrinho cheio de malas até o homem de cabelos grisalhos e óculos que parece ter uns 60 anos bem conservados, com um moletom azul marinho, que está segurando a placa. 

- Olá, sou a Joanna - digo em inglês. 

- Olá! Prazer em conhecê-la! Meu nome é George e sou seu coordenador na escola. Estou aqui para te levar até seu alojamento para guardar as malas e depois para a escola onde vou te mostrar o lugar. 

- Prazer em conhecê-lo George, muito obrigada pela ajuda! 

Conversamos sobre como o clima está bom hoje durante o caminho, o sol está se mostrando e as flores que começaram a florescer semana passada estão mais bonitas que nunca. Cheguei no começo da primavera, a temperatura não passa de 25° durante o dia, tem sempre uma brisa geladinha e a noite esfria um pouco mais. Dizem que no verão é quente, mas dura muito, ainda bem. 

George me ajuda com as malas para subir as escadas, me deixa ajeitando um pouco as coisas e diz que está me esperando no carro. 
O quarto é branco, pequeno, tem duas camas, uma da qual já aparenta ter alguém que está usando, um armário,  uma mesa cor de mostarda com uma cadeira com algumas coisas em cima e um lugar para pendurar casacos com duas jaquetas e um cachecol pendurados. O banheiro fica no final do corredor e é para todos do andar, não tenho problema com isso. 

Enquanto coloco minhas malas em um canto para não atrapalhar a passagem, uma pessoa entra no quarto. 

- Oh... Ah sim, me avisaram que você chegava hoje. Prazer, sou Alexa. - Diz em um inglês, a menina alta, magra, que parece ter a minha idade, cabelos tão loiros que chegam a serem brancos, e olhos tão azuis que nem parecem ser de verdade. Ela tem um sotaque que não consegui identificar, mas aposto que é de algum país nórdico, pelo menos ela parece uma dessas amazonas que lutam junto com o Thor. 

- Oi, sou Joanna, sua colega de quarto. 









O Trem para MontrealWhere stories live. Discover now