O Trem para Montreal

Capítulo 3 - Segundo andar.

- Eu preciso ir, vou conhecer a escola agora. - Digo para Alexa

- Sem problemas, teremos tempo para nos conhecermos. Até mais. 

Desço as escadas, e encontro George no carro. 

- Está cansada? - Ele me pergunta. 

- Um pouco, mas consegui dormir até que bastante no voo mais longo. 

O caminho de carro do alojamento até a escola é bem rápido, isso é bom, vou conseguir ir a pé todos os dias, uma coisa a menos com o que gastar. Pelo menos por enquanto.
As ruas são tão lindas aqui, prédios de tijolos com estilo antigo, muitas placas em francês, postes de luz e bancos que parecem terem sido importados de Paris, muitos canteiros com flores, e as típicas arvores de maple que no momento estão as folhas estão bem verdes, e não aquela imagem que temos das cores do outono, mal posso esperar para chegar essa época e ver esse lugar mudar, tenho a impressão de que cada estação é lindamente desenhada. 

- Bom, chegamos - diz George - bem-vinda a escola OneWay! 

- Obrigada! - Respondo sorrindo para ele, ainda não consigo acreditar que estou aqui. 

George começa o tour.

- Aqui temos 6 andares que fazem parte da escola, o primeiro fica a administração, o espaço para os professores, a sala de computadores e descanso. 

É tudo tão colorido, animado e aconchegante. George me guia por alguns corredores e paramos na administração, preciso assinar alguns papéis e pegar meu material.n

- Jane, esta é Joanna. - Diz George para a moça bonita sentada atrás do balcão -  Ela é nossa nova estudante. 

- Sim, estávamos te esperando, seja bem-vinda! 

- Muito obrigada, estou muito feliz de estar aqui! 

Assino os papéis, pego meu material e minha grade de horário e continuamos  o tour. Passamos por todos os andares com incontáveis salas de aulas, todas para no máximo 15 alunos cada. Minha sala é no sexto andar, pois estou no último módulo, que serve mais como preparação para o teste. Por hoje as aulas já acabaram, e ainda terei mais dois dias antes de começar oficialmente, posso sair para conhecer a cidade um pouco melhor. 

Voltando para o alojamento começo a sentir o cansaço das longas horas de voos e interminável conexão juntos com o fuso horário, e ainda que já está anoitecendo, pelo menos vou conseguir tentar regular meu sono hoje mesmo. 

- Geroge, muito obrigada por tudo! - Digo quando paramos na porta do prédio - Te vejo na segunda-feira. 

- Foi um prazer querida, descanse e aproveite o fim de semana para conhecer a cidade, tenho certeza que vai gostar. Boa noite!  

Subo as escadas até o segundo andar, o prédio tem 5 andares,  é antigo e não tem elevador, agradeço por não ter ficado no último andar. As escadas são de madeira e fazem barulho a cada degrau, as paredes são todas brancas e tem alguns quadros de paisagens que deduzo ser de diferentes lugares aqui do Canadá. 
Chego no meu quarto e Alexa está em sua cama lendo um livro. 

- Olá, boa noite. - Digo entrando no quarto. 

- Hey, como foi o tour? 

- Foi muito legal, adorei a escola! 

- Legal. Ficou em qual turma? 

- Na turma do professor Tompson. 

- É minha turma também! 

- Ufa, pelo menos vou conhecer alguém na segunda. 

- Fica tranquila, o pessoal é muito simpático. Todo mundo já fala inglês, como nós, e estamos todos nos preparando para o teste, e depois cada uma vai para uma universidade diferente. 

- E qual você vai? 

- Para Montreal College, arquitetura. Você ? 

- Vou para TSOM, fazer uma especialização em business. 

- Legal, você já tem alguma graduação? 

- Sim, fiz graduação em Turismo, no Brasil. E agora quero seguir para esse lado mais administrativo do negócio. 

- Isso é uma ótima estratégia! 

- Obrigada.  Mas no momento só consigo pensar em tomar banho e dormir. 

- Eu consigo imaginar! - Ela diz sorrindo com empatia - Bom, fique a vontade, e prometo não fazer barulho. 

- Com o cansaço que estou, é capaz que não escute nada - digo sorrindo de volta. 

Coloco uma das malas na cama. Não desfaço a mala, apenas pego meu pijama, um conjunto novo de short e regata, que precisei comprar porque eu não tinha pijama, apenas roupas velhas para dormir. Separo meus itens para o banho, a toalha, e vou para o final do corredor. Dou sorte de não ter ninguém. O andar parece calmo, todas as portas fechadas, nenhum barulho, se não tivesse visto algumas pessoas andando por ai quando cheguei poderia jurar que somos as únicas no andar. 
Demoro um pouco mais do que costumo no banheiro, mas o chuveiro é ótimo e acabado viajando nos pensamentos, tentando imaginar o que talvez possa acontecer, mas desisto e logo desligo a água, me seco, coloco meu pijama, ajunto minhas coisas e volto pro quarto. 

Separa mais algumas coisas para dormir, me ajeito na cama que está pronta, com lençóis brancos, dois travesseiros e um cobertor mais pesado dobrado no canto.

- Boa noite, Alexa. 

- Boa noite Joanna. 

Viro para a parede e pego o celular para checar mais algumas mensagens, respondo minha mãe pela milésima vez, nos falamos sempre que consegui, mas ela ainda assim manda muitas mensagens querendo saber de tudo. Respondo os grupos de amigos, dou uma olhada no instagram, e deixo o celular debaixo do travesseiro. 

De olhos fechados minha cabeça ainda está rodando, repassando tudo que aconteceu durante esse dia, cada segunda desde que sai do Brasil, e parece que isso aconteceu uma semana atrás, não apenas algumas horas. 
Tento traçar um plano para o dia seguinte, alguns lugares que pesquisei antes, lojas, restaurantes, mercados, e talvez refazer o caminho para a escola nesses dois dias, só para ter certeza de que decorei e saber de quanto tempo preciso para fazer-lo a pé. 

Enquanto tento colocar os planos em ordem, o cansaço vai me vencendo, e aos poucos os planos não fazem mais sentido, e eu apago.