Capítulo 4

35 4 0
                                    

" Revelação. Tudo verdade ou alguma omissão?"

- O que você tá fazendo aqui? - ela pergunta.
- O que você tá fazendo aqui?! - ele exclama. - não sabe que tem um boca bem ali?
- Boca?! Dessa eu não sabia.

Carlos dá um suspiro de indignação e incompreensão, mas continua:
- Vem. Vamos sair daqui antes que seja pior.

Ana pega a bolsa e tenta correr apesar da dor do chute. Quando eles chegam na frente da casa dela eles sentam na escada e Carlos volta a perguntar.

- Você não sabia que aquele caminho era perigoso?
- Sabia. Não sabia sobre a boca. - ela responde com um riso sem graça.
- Então mesmo sabendo que era perigoso você quis ir por lá?
- Simmm? Quer ser meu pai agora? Se você se preocupa comigo me diz por quê sumiu esses dias e não me deu mais sinal algum?!

Carlos se cala por uns segundos.
- A gente não está em Crepúsculo para você ficar se arriscando esperando que eu apareça. -ele dá um sorriso meio sério.
- Claro que não. Não fiz isso esperando você aparecer. Além do mais, isso não costuma acontecer...
- Então você tem o costume de fazer isso??
Ana se cala.
- Por quê você faz isso?
- Perguntas e perguntas, mas as minhas você não responde. Acho que ambos ficaremos sem respostas.
- Ok. - Carlos desiste.
- Ok. - ela confirma encando-o e depois começa a massagear sua perna.

Após alguns segundos ele volta a falar:
- Meu pai morreu semana passada.
Ana volta os a ele, totalmente sem palavras e com os olhos arregalados. Carlos continua:
- Ele sentia muita culpa pela morte da minha mãe. Ela morreu ano passado, de câncer.
- Por isso atrasou aquele ano da escola?
- Fiquei trabalhando e cuidando dela. Meu pai só bebia e brigava com a gente. Quando ela morreu eu fiquei tendo que aguentá-lo em casa. Não tinha cabeça para estudar.
- Eu sinto muito, Carlos.

_________________☆☆__________________

- Ana? - Márcia aparece na porta.
- Mãe! - Ana se levanta.
- Senhorita Márcia! - Carlos se levanta e estende a mão - Como vai?
- Preocupada. -Márcia responde enquanto o cumprimenta- Ana não atende as ligações. - ela diz olhando seriamente para Ana.
- Esqueci de tirar do silencioso! Desculpa. - Ana responde.
- Rum... A janta fica pronta em 10min. Carlos quer jantar conosco?
- Fico honrado, dona Márcia, não tenho dúvidas de que sua culinária seja excelente, contudo, eu realmente preciso ir para casa resolver alguns assuntos importantes referentes à escola.

Elas olham admiradas com sua forma de falar e Márcia responde:
- Oolha Ana, é com rapazes assim que você tem que sair rs. - ela diz antes de se voltar outra vez para Carlos - Quando puder, peça para ela me avisar e eu preparo um jantar para nós.
- Aviso sim. Muito obrigada.
- Vou deixá-los se despedir. - Márcia diz antes de entrar.
- Você... rsrs -Ana o olha ainda admirada.
- Eu?
- Nada. - Ana tenta fingir que não está impressionada. Carlos dá um sorriso que faz Ana estremecer e lembra de perguntar:
- Ei. Eu já disse o que você queria saber. Agora é sua vez.

Ana concorda, mas tenta se esquivar:

- Olha a hora! Minha mãe está me esperando para o jantar! - ela diz e sobe um degrau.
- Ah então é assim? Vai fugir? Achei que você fosse do tipo que cumpria sua palavra. - ele diz em tom levemente desafiador.
- Eei. Eu cumpro minha palavra.

Então ele a olha esperando que conte. Ela cede, senta no degrau e ele senta ao lado dela.

- Digamos que eu já passei por algo parecido com o que encenei.

Carlos começa a pensar um monte de coisas e ela interrompe seus pensamentos:
- Não exatamente o que você tá pensando. É...
- Ana. Não precisa falar se não quiser. Eu não quero forçar.
- Não está forçando. Me sinto à vontade com você. Eu só... bom. Para encenarmos um papel que envolve lágrimas basta pensar em algo que te faça chorar, não é? - Carlos acente - No meu caso... eu lembro do meu tio... - as lágrimas ameaçam descer, mas Ana as contém - Minha mãe e eu íamos visitar a irmã dela e ele estava lá. Eu não lembro onde elas estavam nesses momentos, mas lembro bem como ele me colocava no seu colo e começava a passar a mão em mim. Tenho tanto nojo dele! Depois da primeira vez, eu não quis mais ir lá, mas minha mãe não me deixava ficar sozinha em casa já que meu pai passava o dia trabalhando. Tenho tanta raiva por quê eu não conseguia contar à ninguém e tinha que passar por isso sozinha.

- Mas como isso acabou?! Ele foi preso?
- Eu não contei para ninguem, mas minha tia se divorciou. Eu nunca mais o vi e espero que continue assim.
- Um canalha! Ninguém merece isso. Eu sinto muito, Ana.
- Tudo bem. Já acabou... Já acabou...
- Mas para muitas garotas por aí ainda não e elas precisam falar.

Do Teatro Para a RealidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora