Eu um dia, Luísa Constantine possuía um relacionamento que ela julgava ser feliz ao lado do único garoto que havia sido capaz de realmente prender sua atenção por mais do que apenas duas semanas e entender de fato sua natureza caótica e peculiar, n...
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Eu mantenho um registro dos destroços da minha vida. Preciso reconhecer a arma em minha mente. Eles falam merda, mas eu amo toda vez. E eu percebo Eu não sou um sonho doce, mas sou um inferno na noite. Halsey- Nightmare
23 de setembro de 2019
Capítulo 4
Em um ímpeto, escancarei a porta de meu apartamento, e tão rapidamente quando eu á havia abrido, tratei de fecha-la, apoiando, quase que imediatamente, minhas costas contra a madeira fria e soltando o ar que eu nem havia me dado conta de que estava segurando.
Devo ter ficado uns dez minutos ali, esperando meu coração parar de bater descontroladamente dentro do meu peito, tentando silenciar as vozes dentro da minha cabeça que diziam que eu estava bastante encrencada.
Eu não queria abrir os olhos. Eu tinha medo de o fazer e vê-ló ali, entre as paredes, esperando o momento certo para me punir por algo do qual eu desconhecia completamente. Eu queria dormir e só acordar quando o nome de Liam Finch fosse erradicado e varrido de vez da minha mente.
O que ele faria se eu escolhesse desafia-ló?
Qual seria a tática usada para que Liam terminasse de uma vez por todas de foder com a minha vida?
Ele nunca havia mostrado sua real face para mim. O Liam que eu tinha tido a infelicidade de conhecer um dia nunca havia de fato existido. Eu havia sido enganada de tantas maneiras que chegava a ser vergonhoso, mas se tinha algo que Liam jamais escondeu de ninguém, nem mesmo de mim, era que ele raramente blefava. Eu tinha motivos suficientes para acreditar que perder não era uma palavra muito comum no vocabulário de Finch, e é por isso que eu não duvidava, nem por um segundo, que ele realmente era capaz de me fazer mal novamente.
Abri meus olhos devagar, tirei minhas botas sentindo o chão frio sob meus pés, joguei minha bolsa de qualquer maneira sob o sofá e atravessei cuidadosamente a sala escura, iluminada apenas pela luz da lua que entrava pelas portas abertas da varanda do apartamento.
Cheguei na cozinha, e ainda me recusando a acender as lâmpadas, abri a geladeira, peguei uma jarra de água, despegei o líquido dentro de um copo que estava por cima do balcão de mármore e sem pensar duas vezes, bebi de uma vez só, sentindo o líquido extremamente gelado arder minha garganta incrivelmente seca no mesmo momento em que ouvi meu celular começar a tocar em meu bolso.
Deixei chamar, enquanto tornava a encher o copo e virava novamente a água em minha boca. Uma hora a pessoa do outro lado da linha desistiria.
Talvez fosse Naomi, com um coleção de xingamentos dedicados a minha pessoa. Eu queria não pensar muito naquilo, mas no final das contas eu não precisaria ser uma cadela com Naomi. Liam, sozinho, trataria de jogar toda merda no ventilador. Não teria necessidade de eu me afastar dela, ela mesmo o faria. Fosse por medo ou por puro nojo da minha cara. Então quando ela me visse na rua, andando sob o mesmo passeio que ela, Naomi optaria por atravessar. Quando o pneu de seu carro furasse novamente, e eu estivesse, por um acaso por perto, ela preferiria ligar para um mecânico o mais rápido possível a aceitar minha ajuda. Ou pior, ela gritaria aos quatro ventos para quem quisesse ouvir o quanto eu era desgraçada, e se eu tentasse convencê-la que não, de que aquilo não passava de uma armação de Liam, talvez ela pedisse uma medida protetiva contra mim.
Seria um transtorno e tanto, e tudo por causa do fodido do Finch. Aquele filho da puta.
Por culpa dele eu voltaria a passar os intervalos da faculdade completamente sozinha, esperando o trágico momento em que alguém mais me reconheceria. Por culpa dele eu não me podia mais frequentar meus lugares preferidos em Berkeley. Por culpa dele eu havia perdido pessoas importantes na minha vida. Finch tinha me tirado tantas coisas... mas eu odiava o fato de que o que mais me quebrava era ele ter me tirado o antigo Liam.
Aquele verme
Senti o copo de vidro balançando de leve em minhas mãos e instintivamente trinquei o maxilar . Eu estava tremendo. De raiva.
Respirei fundo repetidas vezes.
Não, não. Eu não queria surtar como antes. Eu preferia uma crise de ansiedade a um rompante de fúria. Eu só precisava tomar um banho e dormir, então a vontade de colocar o prédio abaixo passaria, junto com a ira que queimava dentro de mim, eu só... Eu só queria descarregar todo o stresse da noite em algo, então eu o fiz.
Em um momento o copo estava firme em minha mão, no outro ele já estava se chocando contra a parede que separava a cozinha da sala. Um barulho horrível de vidro se estilhaçando alcançou meus ouvidos, os cacos minúsculos se espalharam feito uma praga pelo chão. Um segundo depois a jarra teve o mesmo destino.
E por que a merdinha do meu celular ainda estava tocando?
Resistindo ao impulso de jogá-lo pela janela eu o atendi.
_ Alô _ Eu praticamente rosnei. Meu peito descia e subia. Eu estava inquieta, com raiva e aquele era um péssimo momento para alguém estar por perto. Ou mesmo tentar ter uma conversa decente comigo.
_ Luísa? Aqui é a Naomi. É... eu perdi as chaves do meu apartamento e... merda eu acho que pisei na bosta, enfim as meninas com quem eu divido saíram antes de mim e não foram para casa ... será que ...
_ NÃO _ Meu tom foi tão grosso e ao mesmo tempo tão frio que qualquer pessoa que tivesse o mínimo de juízo não insistiria muito naquela conversa.
_ É só essa noite, Luísa _ Naomi não parecia ter muito juízo.
_ Eu disse que não _ eu odiei a maneira como aquelas palavras soavam parecidas com as de Liam _ Você tem mais dinheiro que a metade de Berkeley. Procure um hotel, se vire.
_ Luísa você está bem? _ Ela perguntou, e sua voz que antes soava meio grogue, passou a ficar extremamente séria.
_ Sim, eu estou _ Falei histérica _ Por que está perguntando isso?
_ Não, você definitivamente não está nada bem _ Ela sussurrou do outro lado da linha _ Sabrina me disse que você estava passando mal. Você bebeu?
_ "Sabrina me disse que você está passando mal, você bebeu?" _ Eu disse imitando a voz insuportável dela e revirando os olhos _ Escute, isso não é da sua conta. O que você acha que somos? Amigas inseparáveis?
_ Que merda deu em você? _ Ela parecia perplexa.
_ Você me irrita profundamente, é isso que deu em mim _ disse entre dentes _ Essa sua insistência... Você é CHATA. E esse seu sorriso brilhante? Fala sério, ninguém é feliz vinte e quatro horas por dia. Ele é falso. Assim como você, assim como eu, assim como Liam, assim como Julie. É esse o nome dela certo? Assim como todos os seus amigos. E da próxima vez que você for burra o suficiente para bloquear a saída do meu carro do estacionamento da faculdade, eu juro por Deus que... _ eu parei de gritar, percebendo um pouco tarde demais que ela já havia desligado.
_ Vaca _ Eu sussurrei, revoltada por ela ter desligado na minha cara _ Você é uma grande vaca.
Então, tomando posse do último pedaço de pizza gelado que estava dentro da minha geladeira, eu caminhei para o meu quarto sem dar muito atenção para como alguns poucos cacos de vidro insistiam em perfurar a sola do meu pé enquanto eu atravessava a cozinha. Pulei em cima da cama e liguei a Tv.
E enquanto eu tentava a todo custo me concentrar em mais um episódio de Big Little Lies, e devorava a pizza, não me escapou o fato de que Liam não havia movido um dedo para prejudicar o que quer que eu e Naomi tínhamos. Eu mesma havia tratado de fazer isso.
