Ele foi meu primeiro familiar a saber e o que mais me impressionou.

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Eu, como a maioria dos gays da minha idade, tive dificuldades em me aceitar. Li muitos livros de psicologia e tratamentos para homossexualidade quando tinha meus 14 anos. Conforme acreditava avançar em meus passos para inibir o desejo por homens, eu ia registrando tudo em um e-mail. Depois de um tempo, notei que era impossível fazer o que eu queria. Então desisti de fazê-lo e resolvi me aceitar.

Cinco anos depois, voltando da faculdade num trem, me lembrei do e-mail. Então abri o celular, entrei naquele velho diário eletrônico. Na hora achei uma péssima ideia. Cada palavra que eu lia me doía o coração e me fazia chorar. Lembrei que eu vivia sob essa sombra de ter que dar netos ao meu pai, de ter de mudar a história da prole dele. Lembrei de tanta coisa que foi uma viagem de duas horas até em casa chorando.

Cheguei em casa com os olhos bem vermelhos, meu pai me viu e perguntou o que estava se passando e eu disse que nada. Ele insistiu e eu fiquei quieto. Passaram-se algumas horas e meu pai abriu a porta, chegou em mim e perguntou o que estava havendo. Eu dizia que não poderia dizer, pois ele teria vergonha de mim. Ele insistiu mais vezes e eu dava a mesma resposta sempre. No fim, cansado, ele me perguntou: 'Meu filho, você é gay?'

Naquela hora o que eu fiz foi chorar. Muuuito! Desesperadamente. Eu disse que sim e implorei para que ele não tivesse vergonha de mim. Ele me disse, chorando também: 'Eu amo você demais! Eu criei um filho com caráter, educação e inteligência. Jamais teria vergonha de você! Você não sabe o quanto significa pra mim.'

Ele foi meu primeiro familiar a saber e o que mais me impressionou. Acredito que, por ele não ter tido pai, sem aquela figura machista em casa, ele tenha crescido com uma convicção do que era ser pai e tenha se tornado esse pai que ele tanto queria ter. Um que o amasse sempre e incondicionalmente, como ele ama a mim e aos meus irmãos. Ele é foda e eu não sei o que seria de mim hoje sem ele." -

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