A melhor dupla, às terças, nas aulas de pesquisa, eram as irmãs J, isso antes do meu desmaio e dos dias de molho em casa ouvindo Good Vibrations na péssima voz do meu irmão que estava lá, segundo ele, pra me fazer sentir melhor, é claro... Até que ele decidisse "tocar" Eleonor Rigby numa versão jazzista soprando entre as mãos e fazendo uns tututus e esquivando dos travesseiros que eu lançava da cama. Genevieve e Julia Jean e o carinha de coturnos com a camisa do RHCP (seu nome era Artur, e ele era um tipo turista do terceiro ano que escrevia uma pesquisa na qual Genevieve gostava de sugerir observações mesmo que ele não solicitasse) – tinham ligado, aliás Julia Jean ligou e disse que a irmã e o carinha de coturno estavam mandando um oi.
"Eles querem saber se você toparia participar de um projeto", Julia Jean falava com a voz roufenha "Se sim... Eu preciso contar o que você perdeu..."
"Eu tenho escolha?"
"Vievi conseguiu uma informação valiosa sobre como pretendem formar a nova banda...", disse em seguida ignorando a pergunta.
"Nova, mas e a antiga?"
"Já era."
"E... Uma banda pra quê?"
"Assumir o lugar da antiga Pumpkin"
Silêncio.
Na terceira semana no grupo para escolha do nome de uma árvore decrépita, na aula de biológicas, já era possível ouvi-los fazendo piadas. Era o que Pumpkin me fizera lembrar. Não só Laila, essa história não é sobre ela... Não mais. Nos anos ouvindo gracejos sobre abóboras eu tinha aprendido que de duas uma, ou você comprava briga e o apelido se multiplicaria como uma cepa no interior de um avião ou você aceitava que talvez o efeito fosse outro mais adiante.
"O que você sabe tocar?" perguntei quebrando o silêncio.
"A Vievi perguntou se você acha ruim a gente te chamar de Pumpkin"
"Não..."
"Ótimo!", exclamou, "então Pumpkin você pode ficar com o baixo"
"Eu não tenho um baixo"
"O Artur consegue pra gente..."
"E qual vai ser o nome?"
A ideia para o nome surgiu de um momento de asceticismo de Genevieve, foi o que ela contou ao carinha do coturno e sem segundas ou terceiras opções – "Habemus cohortem" ela disse sem qualquer hesitação. Eu não sabia o que era asceticismo, mas tinha noção de que Genevieve pensara em tudo sozinha e não por falta de ajuda.
"Bisters on my fingers", Julia Jean leu em voz baixa e então mais alto olhando pela webcam. "Bisters... on my fingers, você sabe o que significa?"
"Ela não disse, mas eu pesquisei"
"De onde ela tirou isso?"
"Beatles" falei num daqueles instantes de asceticismo do comprimido para intolerância a lactose batendo com o cajano na ponte e gritando a plenos pulmões You shall not pass! "É de Helter Skelter". Julia Jean fez um – caramba – sem levantar a voz e repuxou os músculos do pescoço numa careta de admiração metade da testa desaparecendo no quadradinho à direita.
"Você gostou? Se você disser, com sinceridade, eu também digo..."
"No três?"
Fizemos a contagem a partir do dedão.
"Não!"
Rachamos.
As coisas eram tais como eram com Genevieve. E essa ideia, ao acordar na traseira de uma ambulância, ao ver seu professor se transformar numa esfinge com tetões, ao dar-se conta da sensação de testemunhar... fora da própria consciência... Era insuportável.
VOCÊ ESTÁ LENDO
QUEIME DEPOIS DE LER
General FictionQuando Laila e eu nos conhecemos o limbo de incertezas no qual a escola tinha se transformado, ficou para trás. As tardes não eram mais de conformismo letárgico, de olhar fixo no ponto na parede de tijolos na outra extremidade do pátio onde alguém t...