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Vince.

— Papai, nãaaaaaaao! — Abby soltou uma gargalhada, molhando o meu peitoral com a sua baba e me bateu repetidas vezes. — Não. — Seu riso era agoniado e parei de arrastar os meus dedos na sua barriguinha. Ela estava com o cabelo todo em pé, a boca suja do seu café-da-manhã de banana com aveia e apenas com a fralda. — Papai!

— Desculpa, princesa. Papai ama a sua risada. — Beijei a sua bochecha e peguei o pano, para limpar a sua boquinha fofa. Ouvi uma batida suave na porta. — Entra!

Minha mãe enfiou a cabeça dentro, sorrindo.

— Estou acordada esperando vocês descerem. — Reclamou, ansiosa para ficar com a sua neta. — Bom dia, amor da vovó. — Esticou os braços e Abby foi com alegria. — Bom dia, querido. Dormiu bem?

— Sim... Ela, milagrosamente, só acordou uma vez reclamando da sua fralda cheia. — Sentei-me e encostei na cabeceira. — Meu pai está melhor?

— Um pouco. Ele fica insuportável quando está gripado. Você já tem o anel?

— Sim... Busquei ontem. — Abri a minha gaveta e puxei a caixa, abrindo. — O que acha? Eu não sei se ela é ostentosa, em todas as suas fotografias está com as joias certas, nada muito chamativo e eu pensei que esse anel seria adequado.

— Muito bom, digno de uma futura Sra. Vaughn. — Minha mãe me deu um aceno. — Vai levá-la para jantar?

— Fiz reservas.

— Embora seja contra esse casamento, entendo o seu lado e o do seu pai. Assim como eu também aprovo a noiva, que me parece ser uma garota com a cabeça no lugar certo. — Comentou e eu sabia que ela queria dizer que a Aurora era totalmente diferente da minha ex-mulher. — Os Sinclair não são a família mais rica, mas são educados e com uma reputação impecável. E infelizmente, inocentes, porque não conseguem enxergar o quão perigosos e ardilosos são os Finn.

— Aurora parece acreditar que eles são inocentes.

— Bem, não seremos nós que iremos mudar essa visão. — E eu não comentei com meus pais que paguei as dívidas no banco, a hipoteca da casa e ainda mexi alguns pauzinhos para que o próximo projeto fosse aprovado mais rápido que o habitual. — Você está ansiosa para ficar com a vovó sem o papai? — Minha mãe brincou com a Abby. — Faremos uma festinha de garotas.

— Não dê doces a ela, mãe.

Minha mãe sequer disfarçou a sua revirada de olhos.

— Estou falando sério.

Saí da cama e fui ao banheiro, precisando aliviar a minha bexiga, me arrumei para o dia e quando voltei para o quarto a minha mãe já tinha desaparecido com a minha filha. Fiquei a procura delas até encontrar toda a minha família no pátio. Minhas irmãs, Lígia e Cleo, tinham vinte e um e dezoito anos, respectivamente e eram garotas irritantes até seus últimos fios de cabelos loiros como os meus e da minha mãe.

— Olha só quem acordou... O todo poderoso Vince. — Ligia debochou.

— Cale-se.

— Oi noivinho. — Cleo cruzou as pernas.

— Cale-se. — Resmunguei e me joguei na cadeira, me servindo com café. Abby estava com o rosto afundado em uma laranja, escorrendo o suco pelos seus braços e camisa, que a minha mãe colocou ao sair do meu quarto. Sentada em sua cadeira alta, esfregava a outra metade já mastigada em todo lugar.

Ligia deu a Abby um pedaço de panqueca, lambuzada de syrup e bufei. Minha família tinha dificuldades de entender que eu não queria que a Abby comesse doces. Sua pediatra disse que fazia mal ao seu crescimento e desenvolvimento mental, então, eu seguia absolutamente a risca. Eu odiava que não respeitassem isso apenas porque milhares de crianças no mundo comeram doces e não morreram.

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