– Cat! Você não pode fazer isso!
– Sim, tia, eu posso. Eu sinto muito, mas eu preciso ir, eu preciso encontrar meu caminho. Obrigada por tudo.
Antes que sua tia pudesse tentar impedi-la novamente, Catherine pegou suas malas e correu escada abaixo, atravessando a porta da frente sem sequer olhar para trás. Assim que o taxista colocou sua bagagem no porta-malas, ela entrou no táxi, respirou fundo e disse:
– Para o aeroporto, por favor.
Durante os vinte minutos, que foi o tempo de sua casa até o aeroporto, Catherine pensou no que estava prestes a fazer. A decisão já havia sido tomada há alguns dias, ela iria embora, mudar de país e recomeçar. Pegaria o dinheiro de sua herança, começaria a estudar em uma faculdade nova, conheceria pessoas novas e deixaria o passado para trás. Ela não seria mais a coitadinha que perdeu os pais quando ainda era um bebê, tão nova que não lembrava nem de seus rostos, o namorado que morrera afogado no ano anterior e que agora perdera seus avós em um terrível acidente de carro, exatamente como aconteceu com seus pais. Por isso ela tinha tanto medo de dirigir, um trauma que podia-se dizer que nascera com ela. Fora criada por seus avós praticamente desde que nasceu e agora que completara dezoito anos, eles se foram. A morte parecia rodear Catherine. Por que tinha que levar todas as pessoas que ela amava, porque a vida gostava de vê-la sofrer? Devia simplesmente levá-la de uma vez e evitar tanta dor. Não, não podia pensar assim, seria forte, tinha que ser forte por todos aqueles que amara. Sua tia Elisa, irmã de sua mãe, vinha ver como ela estava todos os dias, Catherine se mostrou forte esse tempo todo, mas por dentro ela sabia que estava destroçada, não podia mais continuar ali, então simplesmente decidiu partir. Era o melhor que podia fazer por si mesma.
Chegando no aeroporto, comprou sua passagem, esperou na área de embarque e então decolou.
No avião, colocou os fones e ouvido, deu play na sua música favorita e encostou a cabeça na janela para observar sua antiga vida ficando cada vez mais e mais longe. Fechou os olhos e recostou-se no assento. Para qualquer pessoa que visse de fora, poderia julgar que ela estava cometendo uma loucura, ir sozinha para o outro lado do mundo, sem conhecer ninguém. Mas se ela tinha certeza de algo, era que essa era a decisão certa.
Sempre gostara de viajar de avião, ela viajava muito com seus avós, gostava dessa sensação de estar em pleno ar, sobrevoando a tudo e indo de encontro ao seu destino em tão alta velocidade, mas ao mesmo tempo tão devagar.
– Oi, você também vai para San Francisco?
Catherine assustou-se quando a garota sentada ao seu lado arrancou-a de seus pensamentos. Tinha cabelos louros, olhos castanhos claros e batom vermelho.
– Oi, sim e não, na verdade. De San Francisco eu vou para uma cidade próxima.
– Ah, sim. Essa música é Estranged de Guns n’ Roses, né? Eu adoro essa banda.
Mal percebera que o volume estava tão alto.
– É sim, é a minha banda favorita.
Conversaram sobre alguns trivialidades, sobre de onde eram, o que estudavam e o que iriam fazer na Califórnia, Catherine não contou sobre a parte de que ia procurar seu recomeço. Depois Ana, como disse que se chamava, colocou seus próprios fones e virou-se para dormir.
Isso também era outra coisa que pensava de voos, sempre achara errado as pessoas passarem tantas horas sentadas ao lado de alguém e não trocarem uma única palavra, por isso sempre dizia pelo menos um “oi”, mesmo sendo uma garota fechada e que não costumava ser sempre a primeira a falar quando conhecia alguém.
Catherine deixou os pensamentos de lado e dormiu, quando abriu os olhos novamente, já estava a poucos minutos de distância da Califórnia. Seu novo lar.
Passou tudo como um borrão, num piscar de olhos estava arrumando suas malas e no outro, já estava a milhares de quilômetros de casa finalizando toda a burocracia.
Cruzou as portas do aeroporto, entrou em um táxi e deu o endereço do apartamento que agora chamaria de seu. Ao contrário do que todos pensaram, ela não estava despreparada, já havia alugado um pequeno apartamento mobiliado em Instter, uma pequena cidade vizinha a San Francisco, encontrara um site onde se podia alugar imóveis e isso facilitou tudo. Pesquisara sobre a cidade e decididamente era o lugar certo para recomeçar, primeiro, porque sempre adorou a Califórnia, segundo, porque era uma linda e pequena cidade, e terceiro, porque havia uma universidade.
De San Francisco para Instter, foi apenas quarenta minutos. Antes de chegar em casa, pediu para que o motorista a mostrasse onde havia um supermercado e farmácia, para que depois pudesse voltar lá.
Pagou a corrida - já havia convertido parte do seu dinheiro por dólares -, desceu e ficou alguns minutos olhando para sua nova casa. O apartamento ficava em um prédio de quatro andares, numa rua tranquila e arborizada. Entrou, assinou a papelada na portaria, pegou suas chaves e entrou no elevador, e mal reparara que havia alguém ali até que falou com ela.
– Olá, você é nova aqui?
Ergueu os olhos e viu um garoto loiro, de olhos verdes, que sorria para ela exibindo lindas covinhas ao sorrir. Ao notar o quanto ele era lindo ela se deu conta o quanto devia estar em trapo por ter passado cerca de quinze horas no avião, sem contar o tempo que passou nos aeroportos e táxis. E também se deu conta de quanto estava cansada, dormiu durante maior parte do voo, mas não adiantava de muita coisa.
– Olá, sim, cheguei hoje do Brasil.
– Brasil? Wow, é meio longe, veio sozinha?
– É. Meio longe. Sozinha.
Respondia sempre sem encará-lo, mas quando o fez, viu como olhou em seus olhos.
– Seus olhos…São lindos. - disse ele depois de um tempo.
Catherine tem heterocromia, possui um olho azul quase turquesa e outro verde como uma esmeralda. As pessoas costumavam se surpreenderem um pouco. Ela nunca se importou. É uma das coisas que mais acha belo em si.
– Obrigada. - sorriu sem graça. – Ah, meu nome é Catherine.
– Oh, que falta de educação a minha, me chamo Luke.
Nesse instante, as portas do elevador se abriram e ambos fizeram menção de sair ao mesmo tempo.
– Você vai morar neste andar? Que coincidência. Aqui, deixa que eu te ajudo com essas malas, você deve estar cansada, é uma longa viagem.
– Não precisa.
Ele a ignorou e carregou as malas mesmo assim, como havia apenas dois apartamentos em cada andar, ele nem precisou perguntar qual era. Enquanto colocava a chave na fechadura tentou decidir se o convidava para entrar ou não. Antes mesmo que pudesse se decidir, ele colocou as malas ao lado da porta e disse:
– Foi um prazer te conhecer, Catherine. Espero que nos esbarremos por ai novamente. E qualquer coisa que precisar, é só tocar ai do lado.
– Obrigada, Luke. Olha que eu provavelmente vou precisar de ajuda mesmo!
Ele riu e foi para sua casa.
Catherine entrou, colocou as malas no quarto, deitou exausta na cama macia e dormiu quase instantaneamente.
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Me Encontra
Romance" – Cat! Você não pode fazer isso. – Sim, tia, eu posso. Eu sinto muito, mas eu preciso ir. Eu preciso encontrar meu caminho. Obrigada por tudo. " Catherine é uma garota de dezoito anos que carrega a dor da perda em seus ombros, a morte parecia...