– O que te trouxe à Califórnia? Além do avião, claro.
Estavam caminhando descalços na praia enquanto tomavam sorvete de casquinha. O Sol já havia ido embora há algum tempo. Luke a levou a algumas livrarias, parques e pontos turísticos, falando sempre sobre a história ou os atrativos dos locais.
Cat riu.
– Eu só… Precisa me mudar, recomeçar, sabe? E eu sempre gostei da Califórnia. Já tinha vindo aqui uma vez com meus avós quando era mais nova.
Catherine não sabia porque, mas poderia contar cada detalhe de sua vida àquele garoto, sentia que podia confiar nele.
– Você é corajosa, eu não consigo me imaginar morando tão longe de casa, da minha família, deixando tudo para trás, e olha que decidir morar sozinho não foi uma decisão tão fácil. Aliás, você tem família aqui?
Catherine desviou seu olhar para o chão e assumiu uma expressão melancólica.
– Eu disse algo de errado? Sinto muito…
– Não, está tudo bem… Eu só, não tenho família aqui. E nem em lugar nenhum. Apenas uma tia.
Luke parou de andar e olhou para ela.
– Você… Vem de um orfanato ou algo assim?
Cat riu secamente.
– Não, não, os meus pais morreram quando eu ainda era um bebê e fui criada por meus avós maternos desde então, que também morreram… Há alguns meses.
– Meu Deus, Catherine, eu sinto muito, de verdade.
Catherine deu um meio sorriso grato, murmurou um “obrigada” e continuaram andando, deixaram o clima tenso para trás e caminharam em direção à calçada, Luke dissera que agora iria apresentá-la à “Instter noturna”.
♡♡♡♡♡
– Você só pode estar brincando, não! Eu não vou entrar aí!
Catherine conseguiu dizer entre um acesso de riso. Luke a levara até um bar que mais parecia uma balada, cheio de luzes coloridas e pulsantes, música alta e muita, muita gente.
– Por quê? É legal!
– Primeiramente, eu não gosto de lugares assim, segundamente, tem muita gente! Só de entrar olhar eu já não consigo respirar direito.
– Claustrofóbica?
– Um pouco.
Ele suspirou.
– Devia ter dito antes.
– Desculpa. Ela conteve uma risada.
Eles caminharam por mais uns dez minutos e Luke parou em frente a um lugar que fez Catherine perder o fôlego. Entraram. Bar com várias bebidas sendo preparadas despreocupadamente, mesas com bancos vermelhos, quadros, discos e luzes espalhadas pelas paredes e máquina de música antiga.
– Aqui é…
Luke a interrompeu.
– Sim, é uma replica do tão amado bar da série How I Met Your Mother.
– Oh meu Deus, é lindo! Como você adivinhou que eu gostava dessa série…?
– Porque mais cedo você disse “Is Legen, wait for it, Dary, Legendary!”, então eu presumi.
Se sentaram na mesa em que os personagens geralmente se sentam e pediram uma porção de nachos e refrigerantes.
– Nós conversamos por horas, sobre várias coisas e eu ainda não sei o básico sobre você.
Era verdade que havia conversado muito. Luke contara que começou a morar sozinho no ano passado. Nascera e crescera em Instter. Saiu do país apenas uma vez, foi ao Alasca quando tinha quinze anos. Tinha dois irmãos mais velhos que se chamavam Nicolas e Antonny. Já teve duas namoradas, mas nenhuma das duas o fez sentir que havia encontrado o amor de sua vida - ele riu quando falou isso de “Amor da minha vida”, disse que podia parecer bobo, mas sempre sonhou com isso -. Gostava de surfar, desenhar e tinha uma séria paixão por colecionar discos de bandas de rock antigas. Catherine contara sobre todas as viagens que já tinha feito, já fora ao Canadá, Califórnia, Londres e Rússia, Luke ficara impressionado e a fez descrever os lugares que visitou e o que mais gostou. Contou sobre sua paixão por livros, sobre sua melhor amiga Paloma e como se conheciam desde pequenas e até que sua comida favorita era lasanha. Mas não falou em nenhum momento sobre seu doloroso passado e toda a tristeza que sentia, e Luke também não a questionara.
– Básico?
– Cor favorita, banda favorita, o que estuda na faculdade… Essas coisas.
Catherine riu.
– Preto e turquesa, Guns n’ Roses e Design. E você?
– Azul, AC/DC e Arquitetura.
Depois disso, passaram mais uma hora conversando sobre seus respectivos cursos, e assuntos diversos. Até que Luke se assustou quando olhou para o relógio.
– Eu mal vi o tempo passar! Temos que ir, amanhã eu tenho aula cedinho.
Pagaram - ou melhor, Luke fez questão de pagar -, e foram embora. Admirando as estrelas por todo o caminho. O clima estava absurdamente agradável, com uma brisa suave e o balançar das folhas das árvores. Bares ainda bombavam e alguns casais e grupos de amigos caminhavam na praia. Por fim, se despediram ao sair do elevador.
– Obrigada, Luke, foi incrível, você é um guia maravilhoso!
– Modéstia parte, sou mesmo. E você é uma ótima companhia, já sabe que se precisar é só chamar ai do lado, certo?
– Sim, e obrigada novamente.
Ele sorriu e foram para suas casas.
Catherine tomou um banho demorado, vestiu um confortável pijama e pantufas. Olhou a hora, calculou o fuso horário e decidiu olhar se sua tia estava online, depois de ter chegado, descansado e pensado bem, sentiu um pouco de culpa por ter ido embora daquela maneira, sem nem sequer abraça-la. Por sorte, estava, então fez a videochamada.
– Oi, tia Elisa.
– Meu Deus, oi, querida. Eu estava preocupada!
– Eu sei, tia e vim justamente me desculpar, eu não devia ter ido embora daquela maneira, devia ter conversado com a senhora com mais calma, não pensei no quanto a preocuparia.
Catherine viu que ela suspirou e deu um pequeno sorriso melancólico.
– Tudo bem, querida, o que já foi, já foi. Você me lembra muito sua mãe. Ela também era independente e determinada assim…Mas como você está ai? Está tudo bem? Onde você está morando e faculdade?
– Está tudo bem, tia, eu aluguei um apartamento em Instter, uma cidade vizinha à San Francisco. E eu vou amanhã na Instter University resolver a transferência, não é porque eu mudei de país que vou parar de estudar.
– Eu fico feliz que pense assim, Cat. A Paloma quase surtou quando eu liguei pra ela.
– Eu já falei com ela. Foi até mais tranquilo do que eu imaginava.
Cat e tia Elisa riram.
– Já está tarde, tenho que ir dormir, andei pela cidade toda hoje, é tão linda e tranquila.
– Sozinha?
– Ah, não, com um novo amigo.
– Só amigo?
– Ah, pelo amor, né, tia?! Boa Noite!
– Boa noite e se cuida, querida!
Catherine desligou o notebook rindo e foi se deitar.
Será que já podia considerar Luke seu amigo?
Seu celular tocou na mesinha de cabeceira e ela deslizou a tela para ver o que era. Uma nova mensagem.
@L: Vai precisar de carona amanhã?
Cat sorriu.
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Me Encontra
Romance" – Cat! Você não pode fazer isso. – Sim, tia, eu posso. Eu sinto muito, mas eu preciso ir. Eu preciso encontrar meu caminho. Obrigada por tudo. " Catherine é uma garota de dezoito anos que carrega a dor da perda em seus ombros, a morte parecia...