One

338 7 3
                                    

Respirei fundo ao apertar o botão para o sétimo andar. Normalmente, eu não tinha motivos para ficar daquele jeito, mas ultimamente algo estava me deixando tenso, sem sono, ansioso. Isso tinha nome e sobrenome, e eu sabia muito bem disso. Quando as portas se abriram, respirei fundo mais uma vez, inutilmente achando que aquilo aliviaria a tensão em que eu me encontrava. Vê-lo todos os dias, sempre tão charmoso sentado em sua cadeira preta, na maioria das vezes sério. Nunca foi de conversar muito. Aquele ar de mistério me deixava curioso. Inúmeras vezes nossos olhares se encontraram e eu tentei entender o que suas íris tão brilhantes e ao mesmo tempo tão reservadas estavam dizendo. Foi inútil, claro. Sabe aquela sensação que você sente por alguém em algum momento da vida? Não sei definir bem se isso é amor. Mas seja lá que diabos fosse, aquela maldita sensação de desconforto me possuía assim que eu colocava meus pés naquele andar.
Alarguei minha gravata preta que estava perfeitamente arrumada em minha camisa que se ajustava ao meu corpo devido à calça preta de cintura baixa que eu usava. Senti o barulho dos meus sapatos pretos fazer eco por entre os corredores que eu passava para chegar até meu destino. Parecia uma longa caminhada, um lugar longe, o pior é que não era. Era essa maldita ansiedade que tornava as coisas mais lentas. Ok, eu quero acabar com isso logo. Sentir aquela maldita divina sensação de quando seus olhos se encontram com os meus e depois deixar por isso mesmo. Voltar pra casa, deitar minha cabeça no travesseiro e ter mais uma noite de insônia. Perfeito.
Abri a porta já esperando o que encontraria do outro lado e respirei aliviada quando não encontrei o que tanto pensei ter que encarar logo pela manhã.
- Bom dia, Tomlinson! - Uma das mulheres que eram do mesmo andar que eu disse, sorridente, anotando algumas coisas em uma folha branca.
- Hey! Bom dia! - Eu disse meio atordoado, ajeitando a franja que não parava quieta.
- Você tá estranho, o que foi? - Por que as pessoas têm que perceber facilmente meu estado de espírito? Será que eu sou tão transparente assim?
- Nada, Cass! Sério... - respirei fundo, sentando-me em minha cadeira marrom de couro, coloquei meu notebook na enorme mesa ocupada por diversas coisas e encarei a parede azul à esquerda.
Ainda não tive o prazer de dizer o que faço. Pois então, eu trabalho em um renomado escritório de Londres. Na verdade, quando comecei aqui, eu era um simples entregador de recados, ou seja lá o nome desta função. Mas o chefe achou que eu era Qualificado demais para um serviço tão fraco. Então, hoje sou secretário de Harry Styles, o chefe e dono daqui. Bom, na verdade o dono mesmo é o pai dele, mas ouvi falar que o homem sumiu há um bom tempo. Como eu estava dizendo... Esse é o emprego dos meus sonhos, não posso mentir, mas ficar aqui tem sido sufocante.
- Se serve de consolo, ele vai chegar mais tarde hoje. Lá pras nove da manhã. - virei meu rosto bruscamente para Cassie, ela me olhava sem expressão e eu paralisei.
- Quem? Do que está falando? - tentei controlar minha mão que começou a tremer, para variar.
- Do nosso chefe, fofo - ela sorriu. - Sei muito bem o motivo desse seu nervosismo. E quer saber a verdade? Não é difícil de notar.
Maldita Cassie, maldita! Por que ela tinha que perceber tudo que acontece comigo? Nós nem somos melhores amigos nem nada do tipo, só colegas de trabalho. Quem ela acha que é pra se sentir no direito de desvendar meus sentimentos e emoções? Faça-me o favor!
- Vou tomar um café, estou precisando. - levantei rapidamente, abrindo a porta do outro lado da sala que levava a cafeteria.
Fiquei enrolando lá por um tempo, não tinha com o que me apressar. Meu chefe entenderia se eu perdesse alguns minutos do meu trabalho tomando um café quentinho. E ele demoraria a chegar.
Mas o tempo tem que passar rápido quando nós não queremos, não é?
Logo o relógio marcava cinco para as nove e eu senti aquela mesma sensação ridícula de horas atrás. Eu o veria de novo. Qual seria a cor de seu terno hoje? Eu espero que seja preto, ele fica exageradamente sexy com essa cor. Sinto-me um louco por falar assim de um homem a quem eu devo respeito, mas ninguém vai ler meus pensamentos, ou vai?
Acabei com o último gole do café que já estava frio e me dirigi a porta, voltando para minha sala, percebi que um botão de minha camisa havia aberto. Concentrei minha atenção no botão que não queria se fechar e continuei andando até sentir um baque e em seguida quase cair no chão.
- Tomlinson! Que recepção, hein? Bom dia! - ele passou por mim, andando rápido e meio atordoado assim como eu. A droga do paletó era preto, como eu havia imaginado. Xinguei-me em silêncio pelas coisas impuras que passaram em minha mente assim que vi as calças pretas e não tão largas assim que ele usava. Meu Deus, como seria esse homem sem essas roupas todas? Quem acha que a invenção de vestir o corpo ao invés de deixá-lo nu foi idiota? Eu acho.

O tempo havia passado e Cassie e eu não fizemos muitas coisas, o serviço estava diminuído hoje, já que logo entraria o período de férias para todos os empregados da empresa. Harry faria uma pequena reunião particular com alguns empregados, apenas para comemorar mais um ano em que a empresa havia se saído bem em todos os setores.
- Preciso das relações de gastos do mês passado, Cassie! - ele saiu de sua sala como na velocidade da luz e eu mal pude perceber como ele estava perto de minha mesa. - Tomlinson, vá a minha sala, sim? Preciso tratar de um assunto com você. - Concordei com a cabeça e um turbilhão de pensamentos surgiram. O que ele queria tratar de tão importante assim que não podia ser dito ali, na frente de Cassie? Ao ver ele entrando novamente em sua sala e fechando a porta, comecei a roer uma de minhas unhas, na esperança de me concentrar em algo que não fosse o "encontro" que teríamos daqui alguns minutos.
- Vai logo, ele quer falar com você! - Cass riu maliciosa e fechou seu notebook, levantando-se em seguida. - É minha hora de almoço, você tem todo o andar livre para tratar do assunto que quiser com o nosso chefe. - piscou, e saiu, batendo a porta.
Decidi parar de pensar besteiras e ir logo à sala de Harry. Caminhei em passos firmes pela curta distância que separava minha mesa da porta de sua sala. Ouvi sua voz e percebi que estava alterada.
- Não! Você acha que ele seria tão idiota ao ponto de aparecer? James, você sabe a merda que ele fez, sabe que vamos atrás dele até o inferno. Aquele cretino vai me pagar!
Recuei e pensei se seria melhor voltar outra hora. Mas ele não precisava saber que eu tinha escutado aquela conversa. Eu nem sabia do que tratava.
- Sr. Styles? - pedi, batendo levemente na porta.
- Entre, Tomlinson. - sua voz rígida respondeu.
Abri a porta com cautela e entrei devagar. Meus olhos percorreram toda sua sala em tons de branco e cinza escuro. Ele estava no canto, olhando fixamente para mim. Deu uma mexida nos cabelos e foi se aproximando. Eu ainda estava perto da porta, meio em dúvida do que ele iria fazer.
- Eu gostaria de te chamar pra reunião que vou realizar neste sábado. Afinal, você é um ótimo secretário. - sorriu e aquele sorriso tinha mais do que uma simples simpatia.
- Hm, obrigado, Sr. Styles... Me sinto honrado. - minhas mãos passeavam por meu pescoço tenso e o pior era que ele estava percebendo minha situação. - Mas... Não poderei ir - o ar saiu totalmente fraco de meus pulmões.
- Meu querido Tomlinson, sabe que eu não aceito um não como resposta, não é? - O sorriso diferente de decifrar mais uma vez se formou em seu rosto. - Tenho assuntos importantes para tratar com você.
- Não pode tratá-los aqui, Senhor... - antes que eu pudesse terminar a pergunta, Harry segurou minha cintura com força e me prensou na parede, seus olhos se encontraram com os meus, que estavam assustados e confusos.
- Você vai, entendeu? Acha que eu não sei que você ouviu mais do que deveria quando estava entrando aqui? E eu vou precisar de sua ajuda.
- Minha... Ajuda? - eu poderia cair ali mesmo, minhas forças estavam me deixando. Aquelas mãos fortes e grandes em minha cintura estavam fazendo com que meu corpo todo gritasse por mais, gritasse por ele.
- Vá à reunião. - me largou, indo na direção de sua mesa. - Terno vermelho, por favor.
Olhei sem entender para ele, que fez um sinal com as mãos para que e saísse de sua sala.
- Louis... - do tempo que estou trabalhando aqui, acho que não me lembro dele ter me chamado pelo nome. Isso fez com que meu estado ficasse pior ainda. - Tenho certeza que nossa reunião será incrível. - Me virei e ele segurava um copo com um liquido escuro, provavelmente alguma bebida. O sorriso que brincava em seus lábios era sacana, promíscuo e todos os adjetivos que possam ser comparados com os anteriores.
Poderia até ser perigoso, mas sim, eu estaria em sua casa no sábado.

Secretary (Larry Stylinson version)Onde histórias criam vida. Descubra agora