Four

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Passei o resto daquele dia no quarto, não desci nem pra comer. Não me interessava os assuntos que Harry conversaria com aqueles homens, eu ainda estava meio abalado com o acontecimento daquela manhã. Minha cabeça dava voltas e eu pensava em tudo que havia acontecido comigo durante aqueles dias. Em um momento, eu era apenas um secretário eficiente, no outro um prisioneiro, isca e até mesmo uma companhia sexual.
Lembrei de quando eu lutava contra mim mesmo todos os dias para encará-lo no escritório, disfarçando tudo que sentia por ele. Eu não passava de um tolo, ele sempre desconfiou e usou isso para seu benefício. Xinguei mentalmente todas as decisões que tomei durante esses anos, elas me levaram até aquele emprego, me levaram até ele e ao seu plano de vingança. Plano esse que eu tinha um conhecimento vago. Lembrei que apesar de não morar com minha família - que vivia na Suíça - eu tinha amigos, amigos que deveriam estar telefonando para minha casa para me convidar para uma festa qualquer e eu não estava lá para atendê-los.
Encarei o relógio no criado-mudo que marcava quatro da tarde, fiz força para levantar da cama e encarei a porta. Ele não havia entrado no quarto desde manhã quando me deixou aqui, preocupado e ainda nervoso pelo que Jared havia feito. Estremeci com aquela lembrança e esfreguei as mãos em meu rosto. Levantei-me vagamente e caminhei até a grande janela. Empurrei a cortina branca para o lado e observei Harry e os outros três parados em frente a um carro. Reparei em suas expressões e percebi que ambos riam e pareciam comemorar algo. Até Jared, que estava com um notável hematoma no rosto participava daquilo. Harry se virou e seu olhar encontrou com o meu. Um sorriso malicioso brotou em seus lábios e apenas voltei a cortina em seu lugar e saí da janela. Sentei na cama de novo, tirando os sapatos e soltando o ar devagar. Estava começando a me irritar, toda aquela maldita brincadeira estava perdendo a graça. Fechei os olhos para reprimir minha raiva e percebi um barulho vindo da porta.
Ele sorriu mais uma vez, um brilho intenso em seu olhar provocou um frio em minha barriga. Caminhou calmo até a cama e sentou-se do meu lado.
- Quase tudo pronto. - disse, olhando para frente, sem me encarar.
- Ótimo! - disse, forçando uma animação que não existia. Ele percebeu minha ironia e se virou para me olhar. Ficamos quietos por alguns minutos, até que resolvi quebrar o silêncio.
- Por que eu? Com tantos homens que devem passar por sua vida diariamente... - ele ergueu seu dedo indicador, me fazendo parar de falar.
- Acho que já te expliquei.
- Não, aquela explicação não é válida. Eu falo sério, por quê? Eu nunca te fiz nada e acho que você tem consciência que seus atos estão me colocando em perigo.
- Você não disse nada disso ontem, na sala, comigo... nu - cruzou os braços. - Decida-se, uma hora é completamente dócil e outro se revolta.
- Não me trate como se eu fosse um animal que você está domesticando. - alterei meu tom de voz.
- Que engraçado você - ele riu - Eu adoraria mais algumas piadas, mas estou realmente cansado. Jared, James e Ian ficaram praticamente o dia todo aqui e amanhã preciso checar os últimos preparativos pra viagem. Ah, e não se preocupe, Ian já tomou a precaução de pegar seus documentos em sua casa, caso queira saber.
Congelei naquele momento. Como era? Um daqueles três invadiu minha casa?
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É? - me levantei, sendo seguido por ele. Caminhei rápido até a porta, ele foi atrás e segurou meu braço. - Tire as mãos de mim! - Por impulso, mirei um tapa em seu rosto e segundos depois ouvi o barulho produzido pelo impacto de minha mão em sua pele.
- Seu... - ele tinha a mão no rosto, os olhos fechados.
- Cala a porra da sua boca! Primeiro me faz dormir com você, depois me prende nessa droga de casa, seu empregado ou Deus sabe o que ele é de você tenta me violentar e agora você me diz que mandou invadirem minha casa? Quem diabos acha que é? - minha voz era tão autoritária que eu mesmo não a reconheci. - Eu deveria...
Ele me empurrou para a porta, fazendo com que minhas costas se chocassem com a mesma.
- Deveria o que, Tomlinson? - seu rosto a milímetros do meu refletiam raiva e superioridade. Me encolhi, sentindo ele me apertar contra a porta fria. - Eu tentei ser bom com você... Tentei mesmo...
- TENTOU? AQUILO QUE QUASE ACONTECEU COMIGO HOJE SERIA BOM? - lágrimas brotaram em meus olhos. - Eu sentir algo ou não por você não te dá o direito de achar que pode controlar a minha vida.
Ele saiu de perto, ficando de costas. Parecia refletir sobre algo. Continuei a falar.
- Eu fui uma tolo em achar que você era uma pessoa boa, fui ainda mais tolo em achar que um dia... Que um dia poderia ter algo sério com você. - uma risada ecoou no quarto. Sim, ele ria de mim.
- Como você gosta de construir castelos. - voltou a ficar de frente pra mim, dessa vez com uma certa distância. - Eu não sinto nada por você, eu não te amo. Se por acaso faço sexo com você é por pura vontade, só por fazer. Pare de sonhar. - encarei-o, tentando ao máximo controlar o mar de lágrimas que imploravam para sair de meus olhos.
Aquela foi a gota d'água.
- Quer saber? Me mata! Vai, me mata de uma vez. - larguei meus braços no ar. - Eu não quero mais fazer parte disso. - ele sacudiu a cabeça negativamente, continuando parado. Fui até Harry e comecei a dar socos em seu peito, o que o assustou um pouco. - Anda, acabe logo com isso. Você mesmo disse, se eu não lhe ajudasse, iria dar um jeito, não é? Acabe comigo agora! - senti uma dor em meus dedos ao acertar seu tórax com força. Ele se mantinha imóvel, piscou algumas vezes e então me segurou pelos braços com agressividade.
- Pare de ser ridículo. - disse pausadamente.
Antes que eu pudesse dizer algo, sua boca se chocou com a minha, sua língua ignorou qualquer barreira e já se misturava com o interior de minha boca. Recuei um pouco, tentando me soltar, mas logo aquele efeito que ele ainda provocava em mim começou a se manifestar. As mãos fortes em minha cintura faziam com que nossos corpos quase se fundissem. Parou o beijo e me encarou, sua respiração estava acelerada e meus lábios formigavam.
- Por que... Por que você é tão... - seu indicador que foi colocado em minha boca me impediu de continuar.
- Talvez um dia você descubra. - a raiva não estava mais em seu rosto. Por um instante poderia jurar que vi tristeza em seu olhar. Ele se afastou, abrindo a porta e saindo em seguida. Voltei para cama e desabei a chorar, molhando o travesseiro e sentindo as lágrimas grossas e quentes correrem livres por meu rosto.

Secretary (Larry Stylinson version)Onde histórias criam vida. Descubra agora