Título 2: Júnior

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Cigarro aceso. Cama bagunçada. Dois corpos que habitavam o mesmo espaço a exatos cinco minutos. Só mais um cliente. Dei uma última tragada naquele cigarro e pensei: essa porra ainda vai me matar. Levantei-me e peguei a cueca que estava perto da porta do banheiro. Como isso veio parar aqui? Minha nossa, sorrir. Balancei a cabeça em tom de negação enquanto emitia tal ato. Logo em seguida a calça e por fim a camiseta, ergui a cabeça e lá estava a minha bolsa jogada em um canto qualquer. Calcei os sapatos, peguei o pagamento em cima do criado mudo e a mochila. Saí porta fora e ao chegar na recepção joguei as chaves em cima do balcão.

Um par de olhos por debaixo dos óculos abriu um sorriso banguela e disse: - Bom dia loirinho. Sorrir e o desejei-lhe o mesmo, abotoei sua camisa e dei um leve beijo na testa.

- Se cuida hein velhote. Amanhã eu estarei aqui e te trarei rapadura, sei que você ama.

- Obrigado. Toma cuidado meu filho.

Peguei o celular no bolso de trás da calça e disquei ligeiramente o número da mulher do qual meu pai insistia de chamar de "amor". Três bipes e a voz chata dela surgiu.

- Alô? - revirei os olhos - Latrina, já estou levando o dinheiro para ajudar nas contas de casa.....como está meu pai?....diz que eu mandei um beijo pra ele, diz que assim que eu sair do trabalho irei lá pra da um abraço...sim, já tá aqui, te entregarei ainda hoje. ...Tá, tá, okay, vou desligar, tchau.

Bem, meu nome é Bryan Silveira. Tenho vinte e dois anos, estou cursando a faculdade de psicologia e sou um adolescente cujo o segredo eu vos acabei de mostrar. Sim, eu sou um garoto de programa, trabalho com tal coisa a mais de três anos e meu pai nunca soube, e talvez nunca saiba. Eu também travalho meio expediente na Struck's Potatos - que é um restaurante de quinta, onde vende as coisas mais gordurosas e que uma vez outra, entra em processo por causa da reclamação dos clientes por infeção estomacal. É, talvez você pense, mais uma história de um garoto que trabalha com o corpo no sigilo para sustentar a casa.

E eu vos digo: clichê ou não, e é essa a minha história de vida. Eu sou gay. O que definitivamente me define totalmente como uma "podridão", na sociedade. Tudo bem que a homossexualidade vem se tornando cada vez mais comum, porém existem milhões de pessoas que ainda acham isso detestável, por isso eu evito dar "pinta". E também, meu pai não sabe da minha orientação.

Por falar no meu pai, senhor Augusto Silveira. Ele teve uma crise seria de depressão assim que minha mãe, Kira, morreu de um câncer em fase irreversível no útero, que logo se passou para todo o corpo. Ela me ensinou muita coisa, ensinou-me a batalhar e a persistir toda minha vida para conquistar o meu sonho. Ela sempre foi guerreira e sonhadora e quando ela perdeu as forças, percebi de imediato o brilho se cessar e torna-se apenas uma única fagulha. Aquilo me destruiu por dentro. E depois da morte dela, torci para que ele superasse logo aquilo tudo e saísse daquele vazio enorme.

Por sorte Latrina apareceu na vida dele e em alguns meses, ele já havia esquecido. Porém, sempre tinha uma recaída. Por isso eu não quero que ele descubra que sou gay, isso seria um acerto forte mais uma vez em seu peito .

Mas enfim. Hoje é dia um trabalho importante na faculdade, então pensamentos como esse, não podem interferir. Falando no trabalho, o tema é sobre amor. Algo que eu recebi em fagulhas, então eu quase não sei ou sinto tal afeto.

Desço do ônibus e vejo a porta da faculdade. Mais um dia, penso. Vejo Lisa, Ryan e Ângelo, pessoas ou amigos, como alguns chamam, e asceso para eles. Chego perto deles que parecem estar em um assunto importante.

- Então Ryan, me fala, qual é a sua dupla?. - pergunta Lisa.

- Brendon.

- Aquele fortão que senta no fundo?. - Ryan confirma e solta uma respiração de decepção.

- E a sua Lisa.- agora é a vez de Ângelo.

- Tina.

- A patricinha?. - assim como Ryan ela confirma. Todos olharam para mim.

- Eu nem sei do que vocês estão falando.

- Do trabalho. - lembra Ângelo.

- Eu sei, mas não é a turma toda que iria fazer?

- Não. - respondem os três juntos.

- Bem, na verdade era, o Sr. Piers mudou...- iniciou Lisa. -...só que ele separou em equipes. A gente conseguiu alguns spoilers. Ele vai falar a lista hoje na aula dele.

- Puta merda.

A sirene soou. Todos nós entramos. Já dentro da sala, o Sr. Piers levantou-se, pigarreou duas vezes e começou:

- O trabalho grupal dessa turma fora cancelada.- curto e grosso. - em vez disso decidir separa-los em duplas e cada um irâ ficar com um sub-tema. - todos ficaram sem entender. - entendo a cara de vocês. Deixa eu explicar, o tema principal é o amor, já vos expliquei o porquê desse tema...

- Com sua licença Professor.- interrompeu o diretor. - Podemos conversar um segundo?.

- Certo. Já volto pessoal.

Enquanto todos comentavam sobre os sub-temas, acompanhei com os olhos o professor indo até a porta, antes da mesma fechar, notei um garoto e seus pais. Cinco minutos depois o professor entra com o garoto que havia visto e apresenta-o para a turma.

- Bem pessoal, esse é o Junior. O mais novo colega de classe de vocês. O Junior foi trocado de turma por contas de desentendimento e espero que seja difetente aqui. Certo?. - a turma respondeu em coro. - Agora quero que desejem boas vindas a ele. - novamente em coro. - Muito bem, agora vá se sentar.

O garoto sentou-se atrás de mim.

- Bem, Junior você sabe do projeto, certo?

- Sei.

- Ótimo, não sei como o professor responsável por sua turma iria trabalhar, mas aqui será divido em duplas aqui. Okay?. - ele confirmou. - Falando nisso, irei passar a lista das duplas. - ele pegou a lista e se posicionou na frente da mesa, sentando-se logo em seguida.

- Bem, vamos começar com você que irá fazer dupla com Bryan Silveira.

Droga, meu nome logo de primeira.

- Tudo certo Bryan?.

- Certo!?. - E a lista continuou. Virei-me para ele e sorrir, o sorriso fora retribuído.

Depois de separar todos em lista, ele explicou que além de escrever um livro sobre o amor, teríamos que escrever uma música com o tema que ele iria nos dá.
O tema da minha dupla foi: Que gosto tem o amor?. Eu estava perdido, eu não sabia cantar, só me restava saber se o Junior saberia.

Quando o sinal tocou anunciando o fim daquele dia de estudo, peguei minha mochila e fui direto para o ponto de ônibus. Coloquei os fones de ouvido e me sentei. Fiquei pensando no que eu iria escreve sobre o amor, minhas experiências com ele fora péssima, talvez houvesse uma forma de burlar com mentiras, todo mundo faz isso.

Uma mensagem de texto chegou em meu celular. Número desconhecido: "oi". Respondi gentilmente um rápido "oi". Senti um movimento perto de mim e levantei rapidamente a cabeça vendo o Junior.

- Desculpa, não quis te assustar.

- Tudo bem, não foi nada. - sorrir. - Mas então...

- Vim te perguntar se você aceita uma carona até onde mora, assim a gente conversa sobre o trabalho. Pode ser?.

Eu nem pensei muito e aceitei. Andamos alguns metros e entramos no seu HB20s.

- Belo carro. - admirei.

- Obrigado. Mas esse carro é do meu pai, ele deixa eu vir as vezes.

- Que pai legal o seu.- sorrimos. Passamos o caminho todo conversando, ele falava algumas coisas dele e eu mentia algumas coisas sobre mim.

- Bem, você tá entregue. - sorriu.

- Obrigado. - tirei o cinto. - Fico te devendo essa.

- Eu irei cobrar. - abrir a porta do carro e dei mais uma vez um "tchau" para ele que retribuiu e logo sumiu na estrada.














By: WILLIAM.


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