Tomo I - Retalhos dispersos

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- direito ou pé esquerdo?

O avião aterriza no aeroporto internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, com um
pouco de atraso, em uma fria madrugada de agosto, fazendo Paulo quase perder o
autocontrole. Do lado de fora do aeroporto, um batalhão de repórteres, e entre eles o
famoso Mendonça, aguardando a chegada de um dos assaltantes de banco mais famoso
de todos os tempos.

Chegou a hora, vamos descer. Diz um dos policiais a ele.
Ele se levanta, escoltado por três policiais, com armas e coletes a prova de balas. Devem
pensar que sou um monstro, diz a si mesmo.

Quando a porta do avião se abriu e a pequena escada com menos de quinze degraus se
prostrou diante dele, a única coisa que pensou foi: Pé direito, ou pé esquerdo?
Vieram então a sua mente velhas lembranças de quando a Andorinha estava em "pleno
vôo", executando seus assaltos onde sempre se perguntava com que pé descer do carro,
com que pé entrar no banco, com que pé dar o próximo passo.

- Depois de estacionar o carro não percam tempo. Diz Manga olhando para o Colarinho
Azul com tom indicativo.
- Vocês me conhecem. Retruca, fazendo com que todo o grupo bufasse de raiva.
Quando o Albino estaciona o carro em frente ao banco, todos saltam da Kombi, menos o
Colarinho Azul, pois ainda não havia escolhido com que pé deveria dar o próximo passo.
Devido a esta sua peculiaridade, sua função no grupo era a de ficar de "guarda",
vigiando quem passava na rua, pois para entrar no banco ele também tinha que escolher
um pé e, em algumas ocasiões, isso demorava certo tempo.

Paulo estava esperando por este momento há muitos anos, e viu, com muito prazer, sair
de dentro do avião Colarinho Azul, com o pé direito na frente, sendo escoltado por três
agentes da Polícia Federal. Se dirigiu para o primeiro degrau, pegou-o pelos punhos, pois
ele ainda estava com a algema, olhou-o nos olhos.
- É um prazer conhecê-lo Colarinho Azul.
- Pena que não posso dizer o mesmo – diz de modo calmo e espaçoso entre cada palavra
seguido de um curto suspiro – Paulo. Olhando a sua volta, viu algumas viaturas. Pelo
visto teremos uma longa noite, não é mesmo?
- Pelo visto o senhor dificilmente se engana. Conversaremos melhor em breve.

A Andorinha de ManoelOnde histórias criam vida. Descubra agora