Tomo I - Retalhos dispersos

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Guto, em casa, terminando de compor uma nova canção para seu quinto disco solo escuta o telefone da sala tocar. Acha estranho que alguém queira falar com ele no meio da madrugada, mas larga seu violão rapidamente para que sua esposa não se acorde com o barulho.

- Alô, quem fala? Diz rapidamente.

- Meu amigo – fala Ramiro com uma voz compassada, dando uma pausa para assoar o nariz – quanto tempo não nos falamos, saudades tua.

- Ramiro?

- Sim, sou eu.

- Nossa, não sei nem o que dizer agora, mas, diga, tua voz parece não estar muito boa. O que houve?

- Realmente meu amigo, minha voz não está nada boa. O que houve é que recebi uma triste notícia hoje, horas atrás.

- Tem algo a ver com a Andorinha? Imagina que este seria o único motivo para tal ligação.

- Isso mesmo – respira fundo – o Vicente foi preso dias atrás, em Londres, e deve chegar em Porto Alegre nesta madrugada.

- Como assim? Como ele foi preso? Depois de tanto tempo, como ele conseguiu ser preso?

- Ainda não sei de nada.

- Como tu ficou sabendo disso Ramiro?

- Olha, hoje a tarde eu estava numa palestra, em um congresso de psiquiatria e a organização do evento disse que tinha uma ligação para mim. Quando fui atender, era mulher, ligando de Londres, a pedido do Vicente me dando o recado.

- Temos que fazer valer nosso juramento, precisamos reunir a Andorinha.

- Claro, e por isso estou te ligando. Me desculpe o adiantado da hora, mas sei que tu nunca conseguiu dormir muito cedo.

- Tudo bem, o telefone fica aqui no quarto em que tenho meu estúdio, ninguém ouviu.

- Te peço um favor. Entra em contato com a Renata, com o Guilherme e com o Gustavo que eu estou em São Paulo e já liguei para o Emanuel.

- Com certeza Ramiro, faço isso na primeira hora da manhã. Sem falta. Para o Gustavo posso enviar um e-mail.

- Não te esquece do nosso código para as mensagens – respira fundo – todo cuidado é necessário neste momento. Não sabemos até que ponto qualquer um de nós está sendo observado.

- Sim, é verdade, todos nós estamos em perigo – faz uma pequena pausa e prossegue – nossa, nunca imaginei algo assim. Como ele foi deixar isso acontecer? – Ramiro não responde, apenas escuta seu amigo assoar seu nariz novamente – Então, a respeito do nosso código, nunca irei me esquecer disso, ainda mais depois de todo aquele trabalho da Renata.

- Ótimo. Acredito que até a noite esteja em Porto Alegre, junto com o Emanuel. Vou desligar, estou no quarto do Hotel e essas ligações vão me custar caro.

- Assim que tu chegar em Porto Alegre me avisa, marcamos uma reunião ordinária da Andorinha, de caráter urgente.

- Claro, assim que comprar a passagem de avião entro em contato.

- Ótimo.

- Uma última questão – respira fundo – muito importante.

- Diga.

- Até o primeiro momento, se qualquer um de nós for procurado pela imprensa, não vamos dar nenhuma declaração. Vamos deixar isso para depois da reunião ordinária. Tudo bem?

- Claro, concordo contigo.

- Bom, era isso o que tinha para dizer. Boa noite.

- Boa noite Ramiro, bom descanso.

Ao desligar o telefone, Gustavo volta a pegar seu violão, olha para o teto, tentando recordar de uma canção que há muito tempo não tocava. Em sua memória, os acordes foram chegando em um estilo Punk Rock, quatro acordes, e seus dedos em movimento foram tocando. Ao começar a cantar, encheu os olhos de lágrimas e disse. Ao terminar de tocar a música, larga o violão, enxuga os olhos, envia um e-mail para Gustavo, que mora nos Estados Unidos da América, sai do seu pequeno estúdio, sente uma inspiração chegar, volta para o estúdio, faz uma nova versão para o Hino da Andorinha em novo estilo, visto sua aproximação com a Bossa Nova e MPB. Deixa seu estúdio um pouco mais contente e vai dormir ao lado de sua esposa, colocando o despertador para a primeira hora da manhã.

A Andorinha de ManoelOnde histórias criam vida. Descubra agora