O vento atingia minha pele e gelava meu sangue, estremecendo meus ossos. Me dando calafrios que me faziam dar pequenas tremidas pelo corpo. Era tão frio quanto o gelo, tão ríspido quanto um dia de inverno rigoroso. Porém a luz do sol ainda se estabelecia, correndo e se deitando gentilmente no leito de meu rosto, braços, e em qualquer brecha de meu corpo que não estivera coberto.
Minha respiração era um tanto falha causada pelo frio, meu cabelo brilhava refletido pelo sol que na tentativa de esquentar meu simplório corpo, falhava, inquieto porém ainda estável.
Eu olhava em direção às montanhas verdes, que cobriam a paisagem e se estendiam em volta de toda a pequena e um tanto quanto pacata cidade onde eu vivera.
Fazia um tempo desde que vi meus amigos pela última vez.
Eu suspirava enquanto tentava me lembrar de bons tempos. Dos quais eu não tive muito, eu não era muito aceito pelos meus colegas de escola, não sei, talvez por ser diferente. Eu não entendia muito bem, eles apenas... não gostavam de mim, queria mesmo entender mas não conseguia, eu era eu, apenas eu, e queria continuar assim.Eu era bem fechado, não tinha muitos amigos, na verdade nenhum. Até que um dia esse menino derrubou uma caneta no chão ao lado da minha carteira, não sei explicar mas depois daquilo ficamos mais próximos, ele se tornou meu único e precioso amigo.
Davi era o nome dele, ele era divertido porém muito quieto, assim como eu. Ele era pálido, tinha profundas olheiras em volta de seus olhos, era de estatura média, cabelo grande mas não o suficiente para cair em volta de seu rosto, assim como sempre eu não sei por que mas, eu gostava dele, não só por ele ser legal comigo, a única pessoa que era, mas, eu gostava dele.
Se passara três meses desde que nos conhecemos, por algum motivo eu não me lembro bem como, porém, mais um fez parte da nossa pequena trupe, era uma garota dessa vez, Alice, de cabelo preto, sempre usava blusa de frio que cobria suas mãos, meio gótica, fazia parte da nossa equipe por ser sozinha assim como nós.Em casa não era lá as mil maravilhas, meu pai também não gostava muito de mim, mas dessa vez eu entendia o por que. Ele era triste. Por isso bebia, bebia muito, e sobrava para minha mãe, na qual ele batia sempre que lhe dava na telha, mas vou logo adiantando, não era sempre era só de vez em quando, uma a cada duas semanas, as vezes mais. Mas já era o suficiente para tirar o sossêgo de qualquer um. Eu tinha dó dela mas não podia fazer muita coisa, ela não o deixava, ela dizia que sem ele "nós não teríamos onde cair morto" já que ele trabalhava e nos sustentava, dependíamos dele, nessa situação eu escapava. Ele tentou me bater apenas uma vez mas minha mãe me defendeu, ameaçando-o a deixá-lo.
Como eu ia dizendo, a escola não era o melhor lugar no mundo, mas era o melhor lugar no mundo para mim, já que lá eu veria Davi, aquele em quem eu botava todo o meu amor, todo o meu carinho, toda a minha esperança, toda a minha fé, era o meu bem mais precioso. Alice também era legal, bem, não exatamente legal, ela era meio antipática, sincera talvez, e até agressiva em alguns momentos, principalmente com pessoas de fora de quem ela não tinha nenhum apreço ou sentimento. Apesar disso eu ainda sofria com outros de fora, quando eu não estava perto deles os outros sabiam que era hora de atacar, me batendo, me xingando, coisas do tipo. Mas como eu disse, apenas quando não estava perto dos meus dois únicos amigos, por algum motivo Davi era meio que temido pelos outros.Era um dia como os outros, normal. Estávamos no refeitório à caminho da saída quando um dos caras que mexia comigo nos parou.
–Vai pra onde bixinha?- disse ele em um tom de ameaça.
Davi logo me defendeu ficando em minha frente e encarando o agressor. Que logo atacou Davi também.
–Já vai defender sua namorada Davi?
Meus olhos estavam arregalados, não acreditei naquela acusação, ainda mais recaída sobre Davi, mas ele não se conteve igual eu faria, ele partiu para cima dele desferindo lhe um golpe em seu rosto que o arremessou contra o chão. Logo nós saímos dali sem olhar para trás.
Nós paramos em um beco ao lado de um fliperama que costumávamos ir, ficava perto da escola porém tivemos que andar um pouco. Nós respiramos fundo, recuperando o fôlego, corremos pois Davi já tinha algumas conveniências por assim dizer na diretoria e não seria nada bom chamar meus pais ou algo do tipo. Eu olhei para Davi, olhei fundo em seus olhos, como se procurasse meu reflexo, -sabe aquele olhar de cinema que só vemos na TV e que nunca aconteceria em nossas vidas comuns e mundanas?! então, mais ou menos esse olhar.
–Para de me olhar assim.- se prontificou Davi me deixando envergonhado.- É estranho.
–Olhar como?
–Como se fôssemos nos beijar -respondeu Davi de uma forma direta- É nojento. Nós somos homens.
Aquilo me pegou de surpresa, me deixou sem chão, não esperava aquilo de forma alguma, meus olhos estavam arregalados e sabia que ele percebera pela sua reação um tanto quanto assutada. Precisava desfazer aquilo de alguma forma, mesmo que apenas disfarçar.
–Ah claro, é lógico você tá certo -me prontifiquei em dizer antes que a situação se agravasse- é...nojento.
Ele me olhou desconfiado e então completou
–Você não é gay é?
Confesso que aquilo me abalou, tive vontade de sair correndo dali, só parar depois que tivesse entrado na cidade vizinha, e então me jogar debaixo de uma ponte e chorar. Mas não o fiz, claro que não, ao invés disso respondi em alto e bom som
–Não, é claro que não, de onde você tirou essa ideia?!
–Então tá, vamos indo.
Depois de tomarmos um milkshake pago por ele (ele trabalhava meio período em uma Lan house) nós fomos embora, e eu fui para minha casa.
Cheguei em casa triste e desolado, como se tivesse perdido alguém, sinceramente meus dias não eram muito felizes, meus únicos momentos de alegria eram os momentos em que eu via Davi, sim parece estranho de dizer, mas eu também não entendo, só entendo que gosto da companhia dele, gosto de estar com ele. Então além disso eu sempre estava meio pra baixo como dizia Alice, mas naquele momento em específico eu me sentia pior, sentia dor.Aposto que você ainda não votou... Toma uma carinha triste! Que feio... :/
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Melancólico
Cerita PendekNesse conto melancólico, Lucas é um adolescente que vive com seu pai agressivo e bêbado, e sua mãe, uma mulher triste e decadente. Mas sua história gira principalmente em torno de seu amigo, Davi, por quem ele tem enorme apreço e afeição, mas não sa...