Fazia-se um silêncio angustiante dentro do veículo. Eu dirigia alternando meu olhar vez ou outra para ela, que de forma desajeitada apoiava a cabeça na janela, enquanto olhava vagamente as paisagens que passavam. Se eu soubesse antes, nunca a deixaria reviver toda aquela situação.
Respirei de forma compassada, eu não queria invadir seu espaço, não sabia se era certo, então falei a única certeza que eu tinha naquele momento, chamando sua atenção:
— Vou contratar outra pessoa. — Afirmei.
Senti seu olhar sobre mim e continuei:
— Cancelarei a reunião com a Moonbyul, e vou procurar outra agência de fotografia. — Disse de forma clara e convicta.
Ela continuou em silêncio, e senti sua feição de angústia... era como se ela quisesse falar, mas não conseguisse, porque as palavras pareciam engasgadas em sua garganta. Lembro-me quando Yongsun contou toda sua história de amor a alguns anos, e apesar do tempo, ela parecia não ter superado completamente.
Dizem que a gente só ama uma vez, e eu particularmente achava tudo aquilo uma baboseira... mas a olhando naquela situação pensei por um momento que aquilo fosse de fato verídico, e que estamos fadados a essa baboseira sentimental.
Chegamos ao nosso destino e durante o dia me orgulhei de forma desmedida de seu profissionalismo, ela ria como se não houvesse problema algum e naquelas pequenas horas sua tristeza se esvaía. Yongsun era a melhor professora que eu tinha, seus alunos a amavam, e ela realmente tinha um dom de passar o seu amor pela música.
O dia seguiu sem muitos problemas, e agradeci ao céus por isso. Eu estava no escritório enviando e-mails pra alguns estúdios de fotografia, afim de saber os orçamentos mais vantajosos quando ouvi uma leve batida na porta e apenas seu rosto com um sorriso sem graça apareceu em meu campo de visão.
— Posso falar com você? — Perguntou uma Yongsun um tanto encabulada.
— Aconteceu alguma coisa? — Devolvi a pergunta inquieta. — Você não costuma nem bater antes de entrar.
Ela ignorou meu comentário e sentou-se em minha frente antes de falar:
— Você pode contratar a Moonbyul.
— Nem pensar, já enviei os e-mails para alguns estúdios e...
— Não! — Me interrompeu. — Ela é uma das melhores do país, e você sabe disso. Você mesma amou o potfolio dela, não vamos confundir as coisas Wheein... não precisa se preocupar comigo, vou ficar bem.
— Yong... — Suspirei.
— Vai ser ótimo pra escola, okay? Era o que queríamos com o festival, certo? Vamos ganhar visibilidade, e não vou me sentir bem se uma bobagem como essa nos impeça.
— Você tem certeza que vai lidar bem com isso? — Perguntei preocupada.
Ela apenas assentiu com a cabeça de forma positiva, e demos por fim aquele assunto.
Consegui uma reunião com Moonbyul no dia seguinte, foi rápido já que de forma atenciosa ela me priorizou em sua agenda. Eu agradeci infinitamente por isso, e no final daquela tarde nos encontramos num pequeno café em Yeonsero. A reunião foi extensa... discutimos sobre datas do evento, o objetivo do projeto e sobre o que eu esperava do seu trabalho. Ela era extremamente inteligente e até agregamos muitas de suas ideia e dicas para melhorar a luz e todo ambiente, afim de trazer um resultado ainda melhor para fotografia.
As horas voaram, e começamos a ter uma conversa mais descontraída, foi quando me surpreendi quando ela perguntou:
— Faz tempo que conhece a Yongsun?
Bebia um gole do meu chá, quando o senti descer queimar por minha garganta.
— Sim... a bastante tempo. — Respondi. — A propósito já que mencionou, eu sei o que aconteceu entre vocês no passado.
Ela mexeu os lábios e tentou balbuciar palavras inaudíveis, não me pareceu surpresa de fato, mas acho que não esperava que eu tratasse aquele assunto de forma tão direta.
— Pra ser sincera, eu não sabia que era você até ontem. — Continuei: — Mas eu só te peço pra não forçar nada, sabe? Não tente forçar algum tipo de contato, porque isso não faz bem a ela, principalmente nessa época do ano.
— Essa época do ano? — Perguntou curiosa.
— Sim... a alguns anos atrás o pai dela faleceu.
— O quê?
Perguntou um tanto aturdida, enquanto eu comprimia meus lábios e balançava minha cabeça num sinal positivo, antes de continuar:
— Ele era muito importante para ela, e o desequilíbrio mental da mãe dela, o sofrimento também... foi... foi bem difícil pra Yong, ela teve que suportar tudo sozinha.
— Eu... eu não sabia. — Gaguejou.
Ela me parecia um tanto perdida, como se não soubesse o que dizer ou como agir. Percebi naquele momento o quão confusa era a vida, e quantas pontas soltas haviam entre a história das duas. De um lado Yongsun, cheia de sofrimentos e mágoas, em função da crueldade que foi o tempo. Já do outro uma Moonbyul tão decidida sobre quem era, e ainda sim, transformava todas as suas ideias em uma confusão. Então no fim das contas, quando o assunto eram as lembranças do passado, ambas pareciam estar afogadas sem saber como começar a nadar para sair dali.
— Você está bem? — Perguntei preocupada, vendo suas expressões.
— Sim... eu só... é que nunca foi minha intenção, entende? — Disse num suspiro. — Faziam anos que não a via, e... não sei... achei que poderíamos ter uma conversa casual.
Ela pausou por um momento antes de concluir.
— Mas tudo bem, foi um acaso termos nos encontrado, continuaremos seguindo nossas vidas, a probabilidade de nos reencontramos é quase nula.
— Do que está falando? A Yong trabalha comigo, ela dá aulas de canto na minha escola, e é a idealizadora do projeto. — Expliquei.
— Aulas de canto? O que? — Perguntou atrapalhada.
— Sim... — Não pude deixar de dar uma leve risadinha de seus feições. — Tudo bem pra você?
Ela demorou uns segundos pra responder um “sim” singelo, e nos despedimos pouco tempo depois. Senti ela meio atordoada, ou diria abalada? Eu não sei, talvez tenha sido informações demais, e me perguntei se tinha feito o certo. Mas eu só não queria ver minha amiga chorar daquela maneira outra vez. Eu odiava o fato das pessoas ficarem nesse meio termo. Qual a dificuldade em contar a verdade?
De dizer: Sim, eu ainda sigo apaixonada por você.
Eu só não queria mais sentir o sufoco nas palavras de Yongsun, todas as vezes que ela falava sobre o passado. E sinceramente, se tudo aquilo a bagunçasse, embaralhasse, ou qualquer outro tipo de sentimento que fosse mais digno do que a lamentação, eu sentiria que tinha feito o certo. Porque na realidade o caos é melhor que a retração.
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Destiny
RomanceSabe quando você passa muito tempo sem ver aquela pessoa? Aquela que fez seu coração bater mais forte e que você daria tudo para tê-la por perto. Você pensa que está tudo bem, foi algo bom que viveu mas agora estaria no passado... até ela reaparecer...