Capítulo 6

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O príncipe estava parado no batente da entrada do quarto a alguns segundos, incerto se deveria ou não se trancar na jaula do leão.

Ela o observou enquanto fechava a porta atrás de si e caminhava lentamente pelo quarto, observando a mobília.

A jovem apenas o encarou, intrigada com a aparição repentina. Ela esperou ele dizer alguma coisa, mas ele estava agindo como se os moveis e as paredes do cômodo foram o verdadeiro motivo da sua presença.

Ela abriu a boca para dizer algo quando sua visão escureceu de repente. Ártemis fechou os olhos com força, se apoiando no parapeito. Ela permaneceu assim até sentir seu mundo se estabelecendo novamente sob seus pés.

Ao abrir os olhos, o príncipe havia sumido. Com o cenho franzido ela saiu da varanda e olhou em direção às portas, localizando ele dentro do banheiro.

- O que você pensa que está fazendo? - Sua voz saiu quase como um grito.

Ele saiu do banheiro, visivelmente confuso.

- Você não vê? - Perguntou como se fosse óbvio. - Estou observando sua mobília. Gostei do estilo do seu quarto, é até melhor que o meu.

Ela ergueu a sobrancelha, em parte chocada. O filho do rei era louco. Por essa, nem ela esperava.

Ela o encarou em silêncio, enquanto ele pegava uma escova e analisava como se fosse algo novo. De perto o príncipe era muito mais bonito do que antes. Os azuis gélido dos seus olhos realçavam extraordinariamente os seus cabelos e sua pele. Tudo nele parecia ser perfeitamente assimétrico ou perfeitamente encaixado.

- Você tem cinco segundos para sair daqui. - Sua voz saiu com dificuldade.

- Por que? O quarto é meu.

Ela ficou totalmente sem respostas para ele. Teve que se esforçar um pouco para criar uma frase conexa. Seu raciocínio estava tão lento quanto uma lesma.

- Tem razão. - Ela não pretendia usar frases longas. - Mas quem está nele sou eu.

Artemis não sabia o que fazer em relação a presença dele. Poderia jogar alguma coisa nele até ele se tocar e decidir ir embora ou então morder ele até sangrar, assim como fez com Shaw. Mas ela estava tão fraca que se fizesse qualquer movimento brusco ou que exigisse força, sentia que desmaiaria.

Ele a fitou por alguns segundos. Seus olhos apesar de gélidos, tentavam mascarar um divertimento no seu fundo. Antes que tivesse qualquer reação da sua percepção, ele tirou do bolso uma chave, colocando-a na escrivaninha e empurrando em sua direção com as pontas do dedo.

Um arrepio percorreu sua espinha e instintivamente ela se sentiu mais desperta.

- Então saía.

Sem pensar duas vezes ela se aproximou para pegar a chave. Mas o príncipe foi mais rápido que ela e o escondeu embaixo de sua palma no último segundo.

- Mas antes, permita-me lhe fazer uma pergunta. - Ela o encarou, mal-humorada. Estavam fazendo ela de idiota, era isso ou o idiota era ele. - O que você fará em seguida? Assim que sair desse quarto?

A jovem não o respondeu. Em parte porque não sabia responder a pergunta, realmente não sabia o que faria assim que saísse do castelo. Não conhecia nada daquele mundo em que estava e não fazia a mínima ideia de como voltar para sua casa.

- Considerando que os únicos que tem acesso aos portais que a levam a sua casa, é a família real. - Continuou ao concluir que ela não o responderia. - Não estou ciente de nenhum outro rei que a ajudaria a voltar a terra, senão aquele que a trouxe.

Ele estava blefando. Ela preferia acreditar nisso do que depositar toda sua esperança em um rei sádico e nos príncipes loucos que essa corte consistia.

O príncipe deve ter lido a incredulidade em seus olhos, porque logo após emendou: - E se dúvida se o que eu digo é verdade, é só apenas se perguntar porque você nunca teve indícios de seres de outros mundo andando pelas ruas de sua casa? Se o acesso a terra fosse tão facil, tenho certeza que você não ficaria surpresa com nossa existência.

Ela sentiu sua boca ficando seca. Em seu mundo de fato, ja teve até relatos, mas não passavam de histórias inventadas para causar medo já que nenhum deles teve de fato comprovação ciência ou filmagens oficiais.

Ele a observava atento, enquanto as peças se encaixavam em sua mente. A loucura que existia nos olhos do príncipe a poucos segundos atrás havia desaparecido, dando lugar a uma sagacidade acima do normal.

- O que você quer? - Estava cansada de tudo aquilo. Sabia que ele havia ido ao seu quarto para pedir algo em troca de sua liberdade. Se quisesse a ajudar, a levaria ao seu mundo sem ter a nescessidade de toda aquela cena.

- Uma reconsideração. - Deixou a chave em cima da escrivaninha ao se afastar. - Eu entendo sua raiva e seus motivos para agir de tal forma. Realmente os métodos de meu pai são bem... Peculiares. Então dou a você todos os motivos de ficar assim, por isso peço uma reconsideração e me deixe tentar convencer-la de outra forma a ficar.

O príncipe caminhou até uma parede ao lado da varanda, se apoiando nela.

- Tem a minha palavra que voltará a sua casa se caso decida que não quer ficar de maneira alguma. - Disse. - O que acha?

A jovem não sabia o que responder. Não sabia se queria confiar na palavra dele, mas sentia que não havia outra opção. Se o que ele dizia era verdade, ela precisava dele mais do que imaginava.

Ela assentiu.

- Ótimo! - Sorriu. Seus dentes eram perfeitamente alinhados. - Amanhã pedirei que uma criada venha acorda-la. Vamos começar saindo desse castelo que acredito que você não ature mais.

Ele cruzou o quarto em direção a porta, batendo algumas vezes. Um clique indicava que ela havia sido aberta.

- Até amanhã. - Piscou ao sair, retornando com o tronco para dentro novamente, a fitando. - Ah, e eu deixarei a chave com você. Se caso decida seguir seu destino sozinha.

A jovem encarou o ponto brilhante em cima da cômoda. O pequeno objeto que a separava da sua liberdade.

- Deixarei guardas em seu corredor. Eles me notificaram caso você saia. Nem que seja para andar pelos corredores. - Ele estava saindo novamente. - Se você abrir a porta e sair, independente se vá embora ou não, não terá a minha ajuda para nada e eu entenderei que sua decisão foi tomada. Aja com inteligência.

Artemis encarou a porta por alguns segundos, mesmo após ela ter sido trancada novamente. Seus pensamentos estavam confuso demais para refletir sobre a conversa que teve.

Ela permaneceu assim, parada, até o momento que concluiu que estava cansada demais e desejou com todas as forças se deitar. Ao se acomodar na cama, encarou a pequena chave dourada que brilhava refletindo a luz da janela.

Não era ela que a separava da sua liberdade, concluiu. O que na verdade estava entre ela e a sua antiga vida, era a confiança.

Sobre até onde ela era capaz de confiar em alguém que acabou de conhecer.

Estrela Do Norte (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora