From The Start

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"É preciso ter o caos dentro de si para gerar uma estrela dançante. " - Friedrick Nietz

Eram 3h da manhã e Lauren não conseguia dormir, era sempre assim, desde que voltara do exército não conseguia dormir ou ter uma noite de sono descente, sempre assombrada pelos pesadelos que a perseguiam. Perdeu as contas de quantas vezes acordara no meio da noite gritando, assustando sua família, que já não sabia o que fazer para ajudá-la, Lauren conseguia ver em seus olhos o sofrimento e a frustração por não poder fazer nada, na verdade Lauren achava que ninguém podia ajudá-la a superar esse trauma.

Lauren tinha 28 anos e havia se aposentado do exército devido a traumas psicológicos causados durante as guerras, em especial a última guerra, em que a foi a única sobrevivente de seu batalhão, e ainda não conseguia entender porque só ela sobreviverá.

Perto das 4h da manhã, Lauren já não aguentava ficar deitada, precisava sair para correr como fazia toda manhã, era sua forma de extravasar todo aquele sentimento, corria sempre descalço, e só conseguia parar quando via seus pés sangrando, aquela dor a fazia ter um pouco de paz interna, pois era aquilo que ela achava merecer. Corria como se sua vida dependesse disso, e para ela, dependia, era isso que a fazia se sentir mais viva.

Lauren chegou em casa por volta das 7h, todos já estavam em volta da mesa do café da manhã, não esperavam por Lauren, sabiam como ela era e nunca voltava de sua corrida antes de se dar por exausta. Passou direto para seu banho, precisava se limpar para tentar comer algo e quando retornou à mesa só tinha sua mãe a sua espera, Clara nunca perdia a esperança de tentar ajudar Lauren, apesar dela mesma se julgar um caso perdido.

Lauren deu a volta na mesa e deixou um beijo estalado na testa de Clara.

– Bom dia mamãe.

– Bom dia minha filha, como você está se sentindo hoje? – Clara era a única que nunca desistia de tentar conversar com Lauren, mesmo tendo sempre a mesma resposta, o silêncio de Lauren.

Lauren apenas se sentou em sua cadeira e começou a comer, sem pensar em responder sua mãe, sabia que apesar de magoada, ela entendia, afinal era sua mãe, e as mães nunca abandonam seus filhos, por mais difíceis que eles sejam. Tomou seu café da manhã sem muito conversar com sua mãe, não sabia sobre o que conversar e nem queria responder as perguntas que ela sempre fazia, então preferia o silêncio e ter somente a presença de sua mãe por perto.

Após o café da manhã, Lauren deitou no sofá para assistir um filme que passava na TV e acabou adormecendo, e mais uma vez, foi assombrada pelos pesadelos daquela fatídica noite que tirou a vida de seus amigos de batalhão, ainda conseguia sentir a dor de ver todos seus amigos no chão enquanto estava ainda atordoada pela bomba que havia explodido. Sentiu uma mão lhe sacudindo pelos ombros, quando pela surpresa de alguém a tocando no meio de um turbilhão de sentimentos e dor a fez jogar a pessoa em cima da mesa de centro da sala, quebrando a mesa e o braço de quem havia lhe acordado.

Ainda atordoada pelo susto não conseguia decifrar o que estava acontecendo e quando aos poucos foi se acalmando conseguiu escutar as vozes de sua mãe assustada e de Taylor machucada em cima da mesa quebrada. Quando finalmente acordou totalmente de seu transe, ficou sem palavras ao ver o que tinha feito com sua irmã mais nova.

– O que você fez, Lauren? – Era a voz rude de seu pai

– Me desculpa Tay, me desculpa – disse passando as mãos no cabelo com medo de tocar Taylor novamente – eu não queria fazer isso, vocês precisam entender – a voz de Lauren estava agora demonstrando totalmente seu desespero.

– Está tudo bem Lo, eu não devia ter te acordado – Taylor estava agora sentada no sofá esperando seu pai pegar o carro para leva-la ao médico, fazendo caretas pela dor em seu ombro e costas pelo impacto na mesa.

– Isso já passou dos limites – Michael estava exaltado.

Ao contrário de Clara, ele já não aguentava mais aquela situação, toda noite eles acordavam assustados pelos gritos da filha e sempre que tentavam acorda-la, alguém sempre saía machucado, aquela situação estava insustentável.

– Mike, não foi culpa dela, você sabe disso – Clara tentava acalmar o marido que estava ajudando Taylor a chegar no carro.

– Você não pode passar a mão na cabeça dela sempre Clara, ela precisa de ajuda, precisa se tratar e ela tem que aceitar isso, não temos como seguir com essa situação, quem vai ser o próximo a se machucar? E se da próxima vez ela fizer algo mais grave?

Lauren nada falava, apenas escutava o que seu pai dizia e tentava a todo custo não chorar pela culpa que a corroía, ela sabia que aquilo tudo que seu pai falava era verdade, sabia que apesar de sua família tentar ajuda-la, ela estava colocando-os em risco se continuasse ali, foi então que ela decidiu que tinha que ir embora, não podia continuar com aquilo se não planejava realmente buscar ajuda psicológica, pelo menos não por enquanto. Assistiu seu pai ajudar Taylor a entrar no carro e sair em disparada para o hospital.

Ela entrou em seu quarto e pegou seu notebook, procurando por algum lugar que a pudesse faze-la esquecer tudo aquilo, encontrou por uma cidade pequena em Londres, Belfast, era uma cidade dividida entre frio e calor dependendo da estação, pouco movimentada e bem caseira e que tinha fácil acesso, era possível cruzar a cidade quase toda apenas andando, era exatamente disso que precisava.

Queria achar uma casa para morar, ou pelo menos passar uma estação, tinha suas economias guardadas, e finalmente acharia uso para elas, encontrou um site de uma imobiliária local e entrou em contato, especificando que queria uma casa simples e pequena, afinal, ela era sozinha mesmo, e gostava de simplicidade e deixou claro sua pressa, queria embarcar em no máximo 2 dias, não aguentaria mais olhar para as pessoas que a amavam e ver o medo e a frustração em seus olhares.

Ally, a responsável pela imobiliária que Lauren entrou em contato não demorou a dar o retorno para Lauren, afinal, não era sempre que tinha uma cliente querendo uma casa para comprar e em tão pouco tempo, geralmente seus clientes eram turistas que queriam passar estações ou estudantes que iam para a cidade fazer intercâmbio. Já tinha muitas casas em mente e que poderiam interessar sua futura cliente, mas precisaria de mais um dia para ir na casa tirar as fotos para enviar, e ao explicar a situação, Lauren apenas disse que esperaria, mas pedia pressa.

Naquela noite Lauren não conseguiu dormir, estava trancada em seu quarto desde o acontecido na sala e não conseguia nem ao menos olhar na cara de Taylor, sentia-se culpada e por mais que sua mãe tivesse tentando contornar a situação explicando que seu pai estava apenas nervoso, Lauren sabia que ele não estava de todo errado.

Às 4h da manhã estava de pé novamente para sua corrida matinal, e mais uma vez corria até não sentir mais seus pés, e quando por fim se deu por vencida pelo cansaço que a consumia, voltou para casa. Passou por sua família que estavam tomando café da manhã e foi direto para seu quarto, tomar seu banho e ver se Ally havia lhe dado alguma resposta.

Às 11h Lauren já estava ansiosa esperando uma resposta, e por fim, às 11:30 Lauren recebeu uma resposta de Ally, com as fotos da possível futura casa de Lauren, era simples e pequena assim como Lauren pedira, o único problema era a quantidade de vizinhos que ela teria, mas esse era o menor dos problemas, e da forma como era reclusa, duvidava que fosse deixar algum vizinho se aproximar.

Respondeu Ally de forma de forma positiva, confirmando o fechamento do negócio, e assim que chegasse na cidade seria recepcionada por Normani, a sócia de Ally e que fecharia todo o contrato com Lauren e lhe entregaria as chaves da casa.

Assim que fechou o negócio com Ally, a morena reservou uma passagem de avião para aquela mesma madrugada, não queria sair de manhã e ter que dar explicações para sua mãe, esperava apenas que ela a compreendesse e tentasse não a odiar por ir embora daquela forma, deixando para trás somente uma pequena carta com um adeus e até breve.

E assim, naquela madrugada, as 3h da manhã, Lauren estava com sua bolsa nas costas com seus poucos pertences, apenas o necessário para iniciar uma nova vida, tentando deixar para trás todo sofrimento que carregava.

Start Over- CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora