Vésperas da viagem,
Meu futuro depende uma decisão,
Cabe a mim, sem sugestão.
O que meu coração diz? Sim, ou não?Minha viagem seria cedo no dia seguinte e eu estava muito contente. Saí cedo, e o dia sorria para mim, assim como meus vizinhos, um misto de felicidade, ansiedade e nostalgia.
Acenei para meu casal favorito do 31 e, ao longe, pude ver a silhueta de Bem, mas poderia facilmente ser fruto da minha súbita saudade, mas não iria visitá-lo, ele quem escolheu assim e não manteve contato. Caminhei mais um pouco até chegar em casa.
Observei o jardim, que arrumei semana passada como agradecimento aos vizinhos da frente, os que me alugaram essa casa e me receberam tão bem, eles me deram um belo cachecol e eu não podia de me sentir honrada.
Quando subi os pequenos degraus até o hall, meu coração acelerou. Observei cuidadosamente o que havia ali, no chão, ao lado da porta e paralisei por cinco segundos até finamente me abaixar e pegar. Era um buquê de flores bem escolhidas e aleatórias, mas que cheiravam muito bem. Havia uma carta sem nome, mas endereçada a mim. Eu estava com medo de abrir e ser quem eu pensava que fosse, mas também estava com medo de que não fosse quem eu achava e queria que fosse.
Abri a porta e adentrei a casa com passos curtos e furtivos, não conseguia compreender e nem mesmo explicar a minha reação incontrolável. Coloquei as flores e a carta na mesa, esperei três segundos e me sentei. De repente fiquei com muita sede e fui fazer um café, e fiquei na cozinha, apoiada no armário, olhando para o chão sem conseguir pensar em nada.
Com o café pronto em mãos, voltei para a mesa, acomodei-me e respirei bem fundo, prometendo a mim mesma que, o quer que estivesse escrito nesse papel, eu teria uma reação melhor do que as que tive ultimamente. Pelo menos iria tentar.
Querida Melina. Julgo que não me expressei bem da última vez.
Me desculpe, mas às vezes julgo que você está brincando comigo.
Essa é a única explicação, já que chegou de repente, ocupou um lugar enorme no meu coração e agora simplesmente vai embora?
Por favor, entenda. Amo-te de uma forma inexplicável, mas não sei expressar.
Deixo tão explícito em minhas palavras e para mim, é impossível que não entenda.
E agora, do fundo do meu coração, peço que fique comigo.
Posso te oferecer algo bom, posso realizar teus sonhos.
Não deixe que tudo fique para trás.
Com amor,
Seu Bem.Ao terminar de ler, depositei meu passaporte acima da carta aberta, me levantei deixando o café inacabado esfriar por inteiro e me joguei na cama. Só sabia chorar e não conseguia pensar em nada, em uma solução, em uma saída. Agora estava tudo nas minhas mãos, deveria eu seguir o que gritava meu coração? Eu devia ficar aqui? Eu deveria mesmo viajar? O que fazer?
O celular tocou e atendi sem ver quem era. Limpei as lágrimas com o lençol e antes que pudesse falar, a pessoa do outro lado da linha iniciou.
— Tenho algo para você ainda, não é só as flores — disse ele. — Mas precisará vir aqui.
— Da última vez que eu estive aí, você segurou minhas mãos e, desculpa, achei apenas um ato altruísta e sim, nunca havia passado na minha mente algo do tipo, eu fui uma completa estúpida, me desculpa...
— Venha buscar o seu presente. E, por favor, não permita que tudo isso interfira na sua decisão. Você deve seguir o que o seu coração diz, sempre.
Desliguei e vesti um casaco por cima da roupa que eu estava. Saí de casa e caminhei três casas depois da minha e parei, de frente à porta, criando coragem para bater ou tocar a campainha, mas — para minha sorte? — ela se abriu sem que eu fizesse algo e ele surgiu ali, parado diante de mim. Seu rosto continha olheiras e parecia cansado, mas ele estava feliz em me ver e me deu espaço para que eu entrasse, o que fiz em silêncio abraçando meu próprio corpo.
Fiquei parada no corredor e ele veio, ficando em minha frente, se preparando para falar algo.
— Tenho mil razões para ficar contigo, mas não vejo nenhuma razão para você me querer.
— Não sei porquê achar assim — sussurrei. Ele desviou o olhar para o bolso de seu 'smoking', colocou a mão e tirou um pequeno pacote, entregando a mim. Não pude tirar os olhos dele, aquilo era um pouco novo para mim, paixão com seu melhor amigo. Eu não sabia o que fazer.
Peguei o pacote e o abri, tirando o que estava lá dentro, era um colar dourado, com detalhes delicados em formato de violino. E imediatamente lembrei do dia que ele tocou em seu violino e informou que aquela música era de autoria dele, para mim. Sinto-me mal por não ter percebido antes. Estava diante de mim, sempre esteve, como ele disse.
— Isso é para que lembre de mim, independente de sua decisão — ele disse, olhando para o chão. — Te amo muito... Você é muito importante para mim.
Ele chegou mais perto e segurou meus braços, olhando diretamente em meus olhos.
— Não vai embora, por favor — eu sorri. — É sério... Eu te amo muito.
Ele sorriu e por um momento eu não entendi e buscava uma compreensão daquele sorriso em seu olhar, mas de repente ele estava muito perto e eu me senti desconfortável com isso, mas estava totalmente dominada pelos meus sentimentos incompreensíveis.
E, sem avisos, ele me beijou, e eu o permiti por poucos segundos antes de me afastar e ser inundada por uma tristeza significativa. Virei-me, de encontro à porta, deixando ele para trás, mas ciente de sua presença. Respirei fundo e senti uma lágrima descendo. Apertei o colar em minha mão e senti o toque dele em meu ombro.
— Rúbem — solucei. — Me desculpe.
***
Obrigada por ler até aqui.
Segunda, 15h tem outro.
Não esquece do voto.
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A Viagem de Melina
RomanceSinopse temporária: Melina, nascida no Paraguai, muda-se para o Peru em busca de realização pessoal e acadêmica. Ela torna-se muito amiga dos seus vizinhos e conhece um certo Rúbem, do qual julga ser o seu melhor amigo. Finalizando sua Faculdade, es...