6. desbravar

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Ser forte 24h? Queremos ser, sim.
Porém, não o somos, e nos frustramos.
Mas, uma hora, é necessário o nosso desbravar.
Assim, o nosso futuro, conseguiremos um pouco desvendar.

Eu escrevi em meu diário por longos minutos. Não cabia tantos pensamentos rondarem em um lugarzinho, senti-me satisfeita por depositar todas as palavras que sufocam meu pensar, em papel e ansiava fazê-lo no dia seguinte e obter constância.

Tive um descanso melhor após escrever. Eu pedi comida algumas horas depois e comia enquanto assistia algumas notícias na pequena TV que tinha no quarto. Era diferentemente bom assistir a noticiários em francês, eu sempre admirei a língua francesa, assim como a cultura e, como se não bastasse, admirei a culinária também. E, olha onde me encontrava. Minha atenção se desfocou por um momento para a parede, enquanto pensava em escrever aquilo no meu diário.

Balancei a cabeça e sorri. Realmente, esvaziar um pouco a mente valia a pena, eu já me sentia com uma certa melhora na "tristeza" que sentia. Me esforcei para voltar minha atenção para o que se anunciava no jornal, o que, não tinha nada que me interessasse.

Desliguei a TV e peguei meu MP4, deixando soar músicas alegres, enquanto, sentada na cama, balançava meu tronco de um lado para outro.

Eu estava aprendendo a ficar bem comigo mesma, era uma tarefa difícil, mas eu tinha de fazê-la.

☁️☁️☁️☁️☁️☁️☁️

Era a manhã de um sábado, eu não tinha me dado conta do fuso horário ainda, me senti quebrada. Acordei grogue de sono, tinha um café frio na xícara, sobre o criado-mudo, meus cabelos estavam na maior desordem e eu acabara por me esquecer de tomar banho. Lembro-me que as músicas foram ficando mais calmas e, como já estava na cama, adormeci.

Eu queria explorar a cidade e o estilo de turismo que eles praticavam, mas meus músculos começavam a reclamar e o ânimo se esvaia a cada dor sentida.

Respirei fundo e levantei, me direcionando ao banheiro do quarto. Tomei uma ducha morna, lavando meus cabelos também, ao finalizar, já estava me sentindo nova e pronta — com sono, mas nova e pronta.

Peguei um mapa ilustrativo que recebi assim que saltei do avião, observei todos os lugares e o que havia em cada dia, tal como Exposições, Museus, Apresentações, dentre coisas assim. Peguei meu diário também, colocando ambos na minha bolsinha e saí do quarto.

Cumprimentei os funcionários que apareciam no caminho até sair do prédio. O sol estava agradável, quase havia esquecido do ar fresco, o vento que passeava por todo o canto, não permitia que o calor do sol fosse inteiramente sentido. Estava tudo ameno.

Pensei em pegar um táxi, mas lembrei do amigável taxista que me dera seu número e me ajudara com meu francês, apesar de o sotaque dele ser mais puxado para o polonês, fora de muita ajuda.

Meu telefone estava na bolsa também, peguei-o e liguei para o número do taxista, que já estava salvo. Ele não se demorou a atender, eu fiquei à sua espera na frente do prédio e ele também não se demorou a chegar.

— Já conheceu alguém interessante por aqui? — Ele se esforçava pra não mostrar muito do seu sotaque.

— Ainda não, só o Senhor. Se me permite perguntar, qual é mesmo o seu nome?

— Louis Saymon — ele sorriu. — Costumo dizer que sou um guerreiro ouvinte. **

*(Louis significa: guerreiro glorioso/combatente famoso)
*(Saymon significa: ouvinte/ele ouviu)

— Meu nome é Melina, vim do Paraguai, porém passei três anos no Peru.

— Não se agradou no Peru?

— Na verdade, eu queria estar lá agora — eu suspirei.

— Oh! Entendi — ele observou-a de soslaio. — Deixou alguém que ama por lá?

— Sim, mas, por que é diferente? Deixei minha mãe no Paraguai e nem tampouco me senti tão amargurada.

— É o Amor. Diga-me, ele te ama também?

— Ele me ama! Mas eu não percebi a tempo... Certamente ele não desejará me ver nunca mais.

O carro pouco a pouco chegava ao destino, a conversa ia cedendo em meio a tristeza e a desilusão.

— Veja bem, chegamos! Repense os motivos de você estar aqui e repense se você está feliz, ou se vai ficar de verdade — ele parou abruptamente de falar, tendo um ataque de tosse seca, mas não aceitara ajuda e logo se recompôs. — Se você não tem certeza de que aqui é um bom lugar, volte para onde é realmente o seu lar, se é que você me entende... Até mais.

— Obrigada — foi a única coisa que consegui dizer antes de pagá-lo. Desci do carro, ele buzinou e foi embora, enquanto eu estava parada por breves segundos, totalmente reflexiva.

Após abrir os olhos, como se tivesse totalmente desacordada, eu pude ter a incrível visão do que lembrei ter visto na revista dos pontos turísticos, denominado Grand-Place. Eu estava em Bruxelas. O brilho do local me atraiu de uma forma incontrolável, eu não pude resistir.

Um garoto com um andar desengonçado se aproximava de mim com uma expressão descontraída. Ele tinha todo o estilo e o jeito da Bélgica em suas roupas, mas seu rosto indicava que ele talvez não tenha nascido nesse país.

— Bonjour mademoiselle — pronunciou, com um sotaque muito melhor que eu. Talvez ele fosse mesmo desse lugar, eu quem era a intrusa aqui —, vejo que não és daqui.

— Estranho, porque eu estava a pensar o mesmo de você — soltei, sem querer.

— Non, non, non — ele estendeu as mãos. — Nasci aqui, sou um guia turístico e resolvi guiar você, é o meu trabalho.

— Qual teu nome? — mais uma vez, sem querer, fui movida pela curiosidade impulsiva.

— Herbert... É de origem germânica, mas creio que você não vai se importar. Significa: guerreiro glorioso, sabia?

— Já percebi que vocês apreciam muito os significados dos nomes — alfinetei e comecei a andar. Ele me seguia determinado.

— Então, para começar, nesse espaço você pode encontrar pelo menos quatro estilos arquitetônicos...

— Deixa eu adivinhar — o interrompi. — Gótico, Barroco, Neogótico e Clássico — disse, apontando para os lugares que obtinham cada estilo do que dizia.

— Andou estudando? Admirável — disse ele, em um tom desapontado.

— Estou aqui com os mesmos propósitos que você... — ele pareceu não entender — sou formada em turismo, Herbert. Só queria conhecer o estilo de turismo que vocês fazem por aqui, mas já tirei minhas conclusões. Obrigada, você foi muito útil para mim.

— Ei, espera — ele exclamou, mas eu já havia seguido.


A Viagem de MelinaOnde histórias criam vida. Descubra agora