⚜ MEU ANJO ⚜ {prólogo}

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Os flocos caiam lentamente sobre o banco de madeira do parque. Era começo do inverno e a única coisa que eu podia ver através da janela embaçada do meu quarto era a neve. Branca e pálida se destacando contra o verde seco da grama e contra o vermelho ferrugem da velha gangorra. Meu primeiro contato com ele foi ali. Meus olhos encontraram uma figura escura e distante vagando pelo parque, arrastando os pés pela neve e desmontando toda a realidade que eu acreditava. Tudo nele indicava que ele não era daqui e não era pelo simples fato de ter o visto que comprovou isso, não. Eu senti isso em meu interior, o meu instinto sussurrando aos meus ouvidos. Ele vagou pelo parque por pelo menos uns 30 minutos, parecendo estar procurando algo ou talvez apenas matando tempo. Seus ombros se elevaram um pouco para depois cair rapidamente de novo em seu lugar, demonstrando cansaço ou tédio, talvez os dois.

Por alguns segundos ele se virou e encontrou meus estranhos olhos nele, como se já soubesse que eu estava ali o tempo todo. Instintivamente, eu me escondi atrás da cortina bege, assustada pelo flagra. Depois de um tempo, minha curiosidade foi maior que o meu medo. Lentamente eu escorreguei de volta para os vidros embaçados. E ali estava ele, sentado no velho banco da praça, uma rua e duas calçadas de distância de mim. Seus olhos claros se chocaram com os meus, porém desta vez eu não me esquivei ou escondi, eu simplesmente fiquei parada em frente a minha janela absorvendo aquela imagem. Em troca, ele me olhou sem pestanejar, como se esperasse que entre aquela troca de olhares quem desistisse fosse eu. Então, como sempre acontecia quando eu ouvia as vozes, aquela mesma sensação voltou a me cercar, a me sufocar. Minha respiração diminuiu, enquanto meu coração golpeava cada vez mais rápido, e minha visão mesclou turva. Eu fechei meus olhos por alguns segundos e respirei um pouco mais lento, tentando me concentrar, tentando evitar qualquer criatura que pudesse aparecer agora. Quando voltei abrir os meus olhos, um clarão me cegou até que aos poucos pude voltar a ver.

A neve ainda estava ali sobre o velho banco, a praça ainda estava apática coberta pelos flocos e a gangorra ainda estava parada... O único que não era o mesmo era ele. Eu finalmente pude ver sua verdadeira forma, com todos os seus traços: os olhos azuis claros cercados por uma íris preta azul-amarelada, seu corpo ajustado em seu casaco comprido preto, sua altura alongada, suas mãos grandes em forma de delicadas garras e suas imensas e afiladas asas negras. As asas estavam abertas de uma forma confortável, como se não estivessem em todo seu esplendor. Mas de alguma forma elas ainda eram transparentes e fantasmagóricas, o que fazia com que elas se fundissem com o fundo da praça. Mesmo assim eram lindas, formadas com penas pretas que aos poucos e em pouca quantidade se desprendiam e se destacavam com a neve branca do chão. A figura de um anjo sentado à beira de um banco, em frente à janela do meu quarto, me observando e me confrontando era uma mensagem clara para mim, como se dissesse o que eu já sabia desde aquele momento: que ele era meu, o meu Anjo.

A escuridão voltou a me fazer companhia minutos depois quando eu fiquei inconsciente. Eu tinha apenas 9 anos quando isso aconteceu, mas eu o veria por mais 8 invernos.

{H I A T O} REDENÇÃO • Saga BlindOnde histórias criam vida. Descubra agora