II - Híbridos

8 0 0
                                    


Havia sido uma manhã longa e angustiante no trabalho, até mesmo um pouco pior do que o esperado para uma segunda-feira. Eu tinha muitos relatórios da semana passada para terminar e aparentemente todos no planeta haviam decidido me enviar e-mails urgentes. E para completar eu não conseguia me concentrar de forma adequada em nada.

Constatei que provavelmente não teria tempo para almoçar e portanto precisava de cafeína. Então deixei minha mesa e caminhei até a máquina de café - item que liderava minha lista de "Por que eu trabalho aqui, afinal?".

Como era esperado havia uma longa fila, pois obviamente eu não seria a única pessoa desesperada por cafeína numa manhã de segunda. Enquanto aguardava a minha vez, eu pude finalmente prestar atenção ao sentimento de inquietude que se esgueirava pela minha cabeça - desde que eu acordara, sentia como se houvesse me esquecido de algo importante.

Geralmente meus esquecimentos são fruto de alguma mudança na minha rotina, mas hoje não ocorrera nada fora do comum. Eu não saíra de casa atrasada e nem o trânsito estivera particularmente pior do que o usual.

De repente, tive um vislumbre da esquisitice com que eu sonhara na noite anterior. Grandes criaturas em mantos negros cercavam meu carro e eu estava dirigindo de ré enquanto um cara, que eu não conhecia, no banco do passageiro me dizia para ir mais rápido. E havia algo sobre uma palavra em japonês que ele dissera e que eu queria me lembrar, mas não conseguia.

Talvez fosse essa palavra esquecida que estivesse me incomodando. Para complicar mais um pouco, eu podia jurar que havia pesquisado a tal palavra quando acordara durante a noite - enquanto meu sonho bizarro ainda estava fresco na minha mente - contudo misteriosamente não havia nada no histórico do meu celular.

Esfreguei meus olhos e em seguida olhei para fora pela janela. O dia estava sombrio com nuvens pesadas no céu cinzento e por algum motivo, até isso parecia me lembrar de algo. Alguma coisa que eu quase me recordava mas que insistia em escapar.

Espiei as pessoas a minha frente na fila e suspirei com desgosto. Havia duas pessoas aguardando como eu e uma terceira que monopolizava a máquina enchendo uma xícara do tamanho de um balde de gelo com cappuccino.

Entediada me esforcei para me lembrar de mais detalhes do meu sonho. O rapaz que estava comigo no carro, creio que se chamava Marek, mas eu não sabia exatamente de onde ele viera nem como ele aparecera. Nós dois estávamos fugindo de criaturas assustadoras e durante a perseguição uma delas saltou sobre o capô do meu carro.

Com o choque tudo ficou desconexo por alguns instantes, primeiro o para-brisa explodiu em uma chuva de cacos de vidro e em seguida com seis disparos insuportavelmente altos, a criatura despencou do capô. Depois disso, Marek sacudiu meu ombro suavemente e eu percebi o quanto meus dedos estavam apertados ao redor do volante.

- Sofia, você precisa mandá-los embora.

Ele então soltou meu ombro e estendeu sua mão para mim. Coloquei minha mão sobre a dele enquanto a criatura que ele alvejara arranhava a lataria da minha porta.

- Suma. - resmunguei.

Aquela ameaça desapareceu, mas avistamos vários de seus companheiros sinistros que nos cercavam.

- O que são essas coisas? E por que diabos eles estão atrás de nós? - perguntei.

- São híbridos, robôs implantados com material genético humano. Eles estão atrás de você, um Yuiitsumuhi é uma arma muito poderosa.

- Você sabe que nada disto fez o menor sentido e que eu não estou entendendo nadinha, né?

- Só os mande embora.

YuiitsumuhiOnde histórias criam vida. Descubra agora