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Escuto o despertador tocar, resmungo ao abrir os olhos por causa da claridade que entra pela janela do meu quarto, amaldiçoo a mim mesma por ter comprado essa casa com janelas de vidro que ocupam a parede inteira, pra ajudar minha cama fica de frente para elas, tateio a mesa de cabeceira procurando o celular e quando acho desligo o despertador. Viro para o lado e veja a cama vazia e bagunçada. Me levanto e fecho as cortinas numa tentativa de escurecer o quarto novamente e volto para a cama. Eu não estou preparada para viver agora, parece que estou anestesiada com tudo o que aconteceu. Eu estou sozinha e tudo que eu consigo sentir é que vou continuar assim.

Sinto que meus olhos estão inchados, não é pra menos, chorei por horas seguidas. Em uma noite eu senti tudo o que venho enterrando por anos, foi como uma avalanche de sentimentos e eu não estava preparada para o impacto.

Eu não esperava estar sozinha nessa cama quando acordasse, mas caso eu estivesse esperava ao menos um bilhete, um aviso. Sei que ele fez mais que sua obrigação, que cuidou de mim em um momento que eu não conseguia me cuidar sozinha.

Mas... Eu nem sei o que pensar. O que eu esperava? Que ele ficasse cuidando de uma mulher que ele conhece a dois dias?

Me encolho mais na cama e tento voltar a dormir, mas antes que eu consiga meu telefone toca, olho para o nome na tela e atendo logo em seguida.

- Alô?

- Any! - Ouço a voz de Diarra do outro lado da linha - Ai graças a Deus você está bem.

- Oi Di.

- Estamos tão preocupados com você. Ligamos varias vezes, mas você não atendeu. Nós já estavamos indo até a sua casa.

- Nós? - pergunto sem entender de quem ela está falando.

- Sim , Krys, Sav e eu. - Diarra responde.

- Ah sim, estou bem Di. Não precisa se preocupar comigo - minto.

- Você está louca? Você quase morreu ontem! - Escuto ela gritar do outro lado da linha.

- Mas eu estou viva, não estou? - digo e não deixo de notar a hipocrisia, um abraço gosto amargo sobe pela minha garganta - Não se preocupem comigo.

- Você tem essa mania de querer enfrentar tudo sozinha - sinto a compaixão na voz dela e sinto vontade de gritar que não é eu quem precisa de compaixão, mas sei que não posso, não é culpa dela, ela só esta sendo uma boa amiga e cuidando de mim - Você não precisa fazer nada sozinha, você tem a nós.

- Eu sei, e agradeço por isso. Mas estou bem mesmo!

- Se quiser podemos ir ai passar o dia com você para você não passar por isso sozinha.

- Passar pelo que? - pergunto.

- O enterro dele já foi providenciado Any, será daqui a pouco - ela responde receosa.

- Você sabe que horas vai ser?

- Pelo que fiquei sabendo vai ser as 13 hrs. Por que? Você não está pensando em ir né?

- Não - minto novamente, não tenho energias para explicar tudo de novo e nem sei se quero - só queria saber. Di preciso ir, estava dormindo ainda e acabei de acordar.

- Está bem Any, se precisar de algo me ligue tá? Vou avisar o Krys e a Sav que você está bem. Te amo, se cuida.

- Também te amo. - respondo e desligo o telefone.

Ele vai ser enterrado hoje, provavelmente vai ser esquecido depois disso. Sinto a bile subir e tento engolir, mas não adianta. Corro para o banheiro e coloco tudo pra fora. Fico alguns minuto ali, jogada no chão do banheiro tentando me recuperar. Me levanto e me dirijo para o chuveiro, olho a banheira e penso que seria bom apenas deitar ali por alguns minutos, mas não consigo, sei que no momento em que eu parar os sentimentos vão tomar conta de mim novamente, não sei se aguento chorar mais ou sentir qualquer coisa que seja. Ligo a ducha e tomo um banho rápido, quando termino o banho me visto com uma calça jeans e um suéter preto. Apesar da claridade o dia está frio e chuvoso, o clima está combinando com meu humor. Tudo parece simplesmente vazio.

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