Oportunidades

19 2 0
                                    

Se alguém dissesse a Athena esta manha, ao acordar, que ela estaria em poucas horas a caminho de são Paulo atrás de sua irmã e a poucas horas de embarcar para a maior viagem já feita por ela até então, com certeza teria uma resposta atravessada ou até mesmo uma risada da morena.

Agora por cima das nuvens olhando a comissaria de bordo entregar bolachinhas aos passageiros, ela reavalia seu dia e tenta ver em qual foi o momento que não percebeu que estava entrando em uma enrascada.

O dia havia começado normalmente, com seu cachorro entrando em seu quarto pedindo comida desesperadamente como se estivesse passando fome a dias- o que não era uma novidade em vista do fato de que duke era uma bolinha insaciável- sua mãe ligara pontualmente as oito e meia para avisar que naquela manhã precisaria da ajuda dela na padaria da família, nada incomum em vista do fato que Athena voltara a pouco tempo de uma viagem longa. A Morena sempre tentava inovar os conteúdos em seu site de viagens, desta vez havia passado mais tempo que o de costume, a tribo indígena que visitou era incrível e rica de mais em cultura e história para ter uma experiência rasa. Eles a acolheram bem, e no final Athena tinha ficado quase um mês vivendo com eles e documentando tudo que era possível.
Seu site estava cada vez maior e seus leitores pareciam apreciar as mudanças repentinas no estilo de suas publicações, em seus comentários sempre faziam questão de opinar e até mesmo pediam para ela ir em destinos específicos, lógico que sempre avaliava se era proveitoso ou não, mas gostava da maneira que seus leitores a tratavam como uma amiga e não como uma simples blogueira.
Esse último destino não tinha sido diferente, um leitor sugeriu para ela a visita. Surpreendentemente ele era um dos moradores dessa tribo. Foi uma experiência incrível para Nena.

Como de costume fazia o caminho de sua casa para a padaria acompanhada de seu inseparável iPhod. O mesmo não era atualizado a alguns anos, e isso a fez relembrar a época que o adquirira, teria sido desde que Athena deu adeus ao ensino médio e ingressou no curso de Jornalismo? Sim. Ela lembrou com um arrepio. Graças aos deuses a tortura acabara e ela só teria que ir na instituição novamente para pegar os documentos que comprovam a conclusão do curso para que assim ela tomasse vergonha na cara e fosse entregar seus currículos nos jornais e revistas da cidade. Só então Athena atualizaria sua playlist.

Ao chegar na padaria notou que seus pais, juntamente de um funcionário corriam de um lado para outro, tentando atender a demanda de clientes que aumentavam cada vez mais por conta do crescente sucesso com a venda de pães e cafés personalizados. Uma alternativa criativa achada por seus pais de juntar suas culturas sem um ou outro ter que abrir mão delas.
Ao sentar no caixa- seu local de trabalho da vez- uma sensação de familiaridade a consome, quanto tempo fazia que não ficava assim, ajudando seus pais? Dois, três meses? Sentiu-se culpada por não participar mais tanto assim da vida deles. Ela e sua irmã gêmea Ártemis deveriam passar uma temporada em Santa Catarina com seus pais. Ambos não eram mais tão jovens assim, e só tinham a elas de filhos.

Perdida em pensamentos- enquanto dava uma pausa entre falar bom dia aos clientes novos e cobrar os clientes que saiam- Athena olhava atentamente seus e-mails acumulados do final de semana. Estranhou que um deles fora mandado a três dias, ela não havia respondido os e-mails de sexta? Ao abrir a mensagem, mal teve tempo de raciocinar o que estava lendo.

- Aí meus deuses. AI TODOS OS DEUSES!!!

E foi naquele mesmo momentos com a reação afobada da morena que toda a padaria  virava para a encarar, porque apesar de movimentado o lugar, sua última frase havia saído um pouco mais alta que o normal. Mas Athena nem ao menos teve tempo de se importar, estava pasma com o conteúdo contido na mensagem nem mesmo se importou com os olhares de raiva de algumas das pessoas que usavam a padaria para trabalhar. Que a olhassem feio e fossem para o tártaro com seus próprios problemas. Athena estava nas nuvens e nada podia tirar isso dela.

- Mamma, pappa, venham aqui rápido! - tratou de chamar mais duas testemunhas de sua recente conquista - Me digam que eu estou em um sonho por favor- seus pais, espalhafatosos do jeito que eram, chegaram ao lado da filha afobados para saber o que estava acontecendo para ela agir desse jeito durante o horário de pico no estabelecimento.

- Ora sua peste, ou você nos diz logo o que está acontecendo ou seu pai vai ter uma parada cardíaca aqui mesmo- o que não era uma mentira, em vista que seu pai estava mais pra lá do que para cá por conta do colesterol alto e da pressão que não o ajudava e mantinha-se alta também.

- Eu recebi um convite para viajar para escrever para uma revista de verdade!

Em sua última viagem, uma das anciãs da tribo indígena dissera para ela que seu futuro teria uma grande guinada rumo ao sucesso, mas seria esse o caminho? Se sim, Athena ficaria muito grata, não era todo dia que recebia convites assim.
A revista em questão era uma das mais conceituadas da América Latina quando se tratava de viagens e guias turísticos no Brasil e no mundo. O convite havia sido feito a alguns dias, e ao responder de forma tardia Athena teve de correr com seus pertences para o aeroporto, ainda bem que não tinha tido tempo de desfazer sua mala, dessa maneira foi menos caótico quando recebeu a resposta da revista dizendo que precisaria comparecer no mesmo dia em sua sede localizada em São Paulo.
Athena trabalharia como jornalista correspondente deles, não sabia que já viajaria naquela semana, esses era detalhes que seriam discutidos pessoalmente com a editora chefe.
Athena apenas torcia para que pudesse passar pelo menos alguns dias ao lado de sua irmã que a alguns anos morava na cidade mais globalizada do país.

Seu coração apertou, a poucas horas tinha dito que ficaria mais tempo com seus pais. Sentiu-se culpada.
Lorenzo e Nera eram os melhores pais do mundo e não ficaram bravos por sua filha ir embora logo quando havia voltado. Compreendiam que essa era sua vida e diziam que se ela estava feliz, eles também estavam.
Foi com esse discurso que expulsaram ela da padaria para que fosse arrumar suas coisas para a nova viagem.
Athena jurava que na próxima iria parar por pelo menos um mês e ficar com eles. Esperava que dessa vez não adiasse novamente esse planos. Essa era a segunda tentativa de parar por um tempo.

Athena hiperventilava sem conseguir controlar a idealização de expectativas com sua futura viagem. Ariane, editora chefe da revista em que trabalharia, dissera que era uma viagem internacional com destino à Europa. Esperava que fosse algum lugar próximo a sua família de lá. Sempre fora seu sonho conhecer suas origens, para ela essa viagem já estava escrita em seu livro da vida, era seu destino, o momento em que ela realmente iria se achar como ser pertencente deste mundo, se conectar aos seus antepassados.
Pensando sobre isso, notou que era tudo graças ao seu blogue de viagens, que de início era só um lugar onde uma adolescente perdida colocava seus hobbies e afeições por destinos diversos, viajando o país com seus pais, amigos e sua irmã.  Entre todas essas companhias, a melhor sempre era Artemis, a loira era como uma parte sua, as duas sentiam uma a outra até mesmo sem estarem perto, era uma ligação de alma, a dupla imbatível!

Infelizmente Ártemis havia escolhido abandonar sua faculdade de moda e ir para São Paulo ser assistente de uma famosa estilista. Suas viagens juntas tornaram-se praticamente inexistentes. A morena nunca se afeiçoou ao emprego de sua irmã pois sabia que Lea - chefe de Ártemis- era uma sangue suga da pior espécie. Mas como não lhe cabia a opinião a respeito do lugar em que Art trabalhava, apoiou sua irmã, pois sabia que um dia a mesma perceberia sozinha os contras de trabalhar naquele lugar e também sabia que quando a loira colocava algo em sua cabeça, nada conseguia tirar- uma das poucas características que as duas tinham em comum- suas expectativas eram baixas já que faziam dois anos e nada de sua irmã perceber.
Quem sabe agora que estava a caminho da capital, pudessem fazer algo juntas antes da viagem.

A Viagem de Art e NenaOnde histórias criam vida. Descubra agora