não era loucura minha...

93 3 0
                                    

Desde pequena, eu sempre mantive um vício na arte que envolvia o terror. Mas independentemente disso, eu achava graça, nunca consegui sentir medo, acreditar no que rezavam as lendas e etc. Ou melhor, não conseguia. Até exatamente, (lembro como se fizesse um minuto) 23 de abril de 2020. Na semana do dia 23 eu vivi o pior terror da minha vida, e não desejo nem ao meu pior inimigo que viva o que eu vivi.

Eu sempre tive um pavor imenso no período das 4:00 as 5:00 da manhã. Não me pergunte o porquê de ser esse horário e não 3:00 que eu também não sei. Mas como uma pessoa normal, eu acreditava que isso era coisa da minha cabeça, loucura minha, sei lá. E fazia de tudo pra me convencer disso, até porque, nada nesse período me traumatizou a esse ponto.

Bom, alguma vez na vida, todos nós já tivemos um alarme que foi programado para despertar em horários totalmente desregulados, seja por pura falta do que fazer, seja por algum compromisso que passa e esquecemos de desativar. Independente do motivo, ele te acorda, ou muitíssimo cedo no dia que você queria dormir até mais tarde, ou te acorda no meio da madrugada tirando seu sono. No meu caso, o alarme que estava justamente nesse dia muito longe do meu quarto, despertou exatamente 3:33 com o barulho altíssimo e irritante que ele fazia. Acho que foi por isso que a Laryssa, minha irmã mais nova acabou por acordar assustada e foi usar o banheiro. Eu fiquei mais um tempo deitada pensando se valeria mesmo a pena ir desligar logo. Minha mãe tem sono pesado, minha irmã já até tinha acordado, e eu não iria conseguir voltar a dormir. Levantei de uma vez e fui desligar. Quando cheguei na metade do caminho o barulho cessou. Fui andando mais devagar e já na sala vi a Laryssa com meu celular na mão desativando o alarme de 3:33. Agradeci e peguei o celular. Ela sentou no sofá e ficou olhando pro nada, como uma pessoa cheia de sono esperasse o espírito entrar de volta no corpo. Estranhei que ela não ia voltar pra cama e perguntei se ela ainda ia dormir. Respondeu que não, já que por "minha" culpa, o alarme levou o seu sono embora. Me virei de cara feia pra ela e comecei a pensar... "tá um pouco antes das 4:00, eu preciso mesmo me provar de que fica tudo sob controle nesse horário, não havia nada de mais". Então resolvi ir ficar na janela até esse período passar, e assim que não acontecesse nada, poderia voltar a viver normalmente. Lógico que eu não iria sozinha né.

Tomada por uma animação que sei lá eu de onde veio, virei para o lado cutucando Laryssa e a chamei pra ir comigo, mas sem dar a entender que esse "convite" era consequência do meu medo. Lembrei de um detalhe: ela tinha medo de olhar pra rua de madrugada. Ela deu umas recuadas no início do "convite", mas logo consegui convencer a pobre coitada de que isso ajudaria-a a superar esse "medo bobo" e por fim ela aceitou. Olhei no celular. 3:56. "Vou botar uma roupa de frio e já volto" ela disse. "tá, não demora", respondi. Ela voltou em ponto 4:00 me trazendo uma blusa que eu estava pensando naquele exato momento mandando eu colocar. Coloquei a blusa meio desconfiada e fomos pro quintal olhar a rua. Lá fora mais parecia cenário de filme de terror. Uma neblina horrenda, a lua era cheia, o barulho do vento soprando nos dava calafrios, as folhas na frente de casa se mexiam como se algo caísse em cima delas. O pior foi quando no meio da neblina apareceu um vulto sentado numa posição comum. Desse vulto saiu um puta uivo que fez minha visão escurecer e eu achar que ia desmaiar. Era um infeliz dum pastor alemão que uivava sem sentido pra lua cheia.

Eu conseguia ver o desespero nos olhos de Laryssa enquanto a mesma repetia baixinho sem parar com os olhos cheios de lágrimas: "eu consigo, eu resisto, eu sou forte... eu consigo, eu resisto, eu sou forte..." Achei que seria consequência de seu medo e perguntei: "Lary, tudo bem " "Lary, quer entrar " "Lary, você aguenta mesmo ficar aqui "... Em todas as perguntas respondidas ela foi completamente monótona, curta e fria: sim, não, consigo...

Com o passar do tempo percebi que Laryssa estava agindo estranhamente, como se estivesse fora de si. Era comum ela olhar pra mim querendo dizer alguma coisa. Mas assim que abria a boca para falar, desistia e simplesmente sussurrava: "deixa". Também começava a falar coisas que não se assentavam bem a ela, como palavrões, dava patadas direto e falava coisas num tipo de despedida. Eu estava ficando tipo muito assustada. Perguntei de novo se ela queria entrar e tentar voltar a dormir. Ela simplesmente disse: "Tá pensando o que, gente que nem eu não tem medo da rua não!" E ainda murmurou: "maluca novata". Eu senti que ia desmaiar. Algo de muito errado estava acontecendo. Até 4:00 ela se cagava de medo de ver a rua de madrugada. Minha visão embaçou de tanto pavor. Eu tremia sem vontade. Com uma grande dificuldade consegui juntar os pedaços de umas duas orações para tentar que Laryssa voltasse ao normal. Demorou mas ela foi voltando ao normal gradualmente. Agora ela me abraçava chorando pedindo desculpas eu sei lá porque. A única coisa que eu consegui falar foi: "Mana, o que aconteceu com você ". Gelei demais quando ela falou: "você acha que por ser mais velha, sabe de mais coisa que eu, mas tem uma coisa que nunca vai te ser revelada até o fim." COMO UMA CRIANÇA DE 9 ANOS TERIA A CAPACIDADE DE FALAR UMA FRASE TÃO FORTE COMO ESSA Sorri pra ela e, num ato de bobeira, acreditando que pudesse ser uma brincadeira boba de criança, somente sorri e falei: "você é uma boa atriz ksksk". Ela deu um sorrisinho forçado e com isso me tranquilizei um pouco. Vi que ela estava muito quietinha, outra vez achei que tudo isso era consequência de seu medo e pensei em como puxar assunto para acalmá-la. Nessa hora, a neblina foi baixando, e, iluminadas por um filete muito fraco de luz, apareceram duas mulheres por trás de um barranquinho de mato e terra que pegava a calçada inteira deixando apenas seu contorno, e logo em seguida uma rua deserta, esquecida pela prefeitura. As duas mulheres vinham por essa rua. Sabendo que estamos em tempos de pandemia, fiquei extremamente irritada pelo fato de estarem na rua de madrugada, sem necessidade nenhuma, e não estarem usando máscara, além de ignorar completamente um espaço de distância. Isso sem contar o fato de elas estarem foda-se para o perigo de estarem sozinhas numa rua deserta e escura, sabendo de estupradores, ladrões, assassinos e etc. Aí eu comecei a comentar com Laryssa, muito mal desse tipo de pessoa, que a pandemia não acaba logo por causa de gente assim, que sai na rua sem necessidade, também entrei na parte do perigo da rua, que ninguém liga pra isso, que sei lá o que... Tudo que eu falava, Laryssa só respondia com: "unrum", "né", "pois é". Pensei comigo: "ô menininha chata", mas não liguei. Esperamos mais um pouco até as mulheres se aproximarem mais da nossa visão. Não sei como, mas nesse momento surgiu um homem vindo na direção contrária delas. De início pensei ser um estuprador. Até parecia um homem, mas algo mais forte me fazia acreditar que não era. Sua altura e magreza extremas eram muito suspeitas. Suas vestes também não eram das mais normais. Ele vestia como se fosse uma batina, mas com capuz. Nos pés um par de botas tipo as de uniforme de açougueiro só que pretas e mais baixas. Seu capuz cobria metade de seu rosto. Aquilo me era muito sobrenatural. Fiquei paralisada esperando para ver o que iria acontecer (na minha mente idiota vinha ele dando uma gargalhada macabra e num piscar de olhos sumisse como o Naruto kkk). Quando ele e as mulheres estavam muito mais próximos, me toquei de que nenhum dos três parecia se tocar da presença os outros. Nenhum deles se deu o bom senso de desviar. Pensei comigo: "cegos". Até me tocar que as mulheres foram atravessadas por esse ser que até hoje não sei o que era. Nisso as meninas foram desaparecendo aos poucos como se virassem fumaça. Fiquei desesperada de um jeito inexplicável. Mas se não fosse coisa da minha cabeça, tivesse realmente acontecido, por que Laryssa não tinha gritado Olhei pra minha irmã, sua parte da janela estava fechada, e seu rosto estava colado na janela, com os olhos escancarados numa expressão de terror. Dei um toque nela e ela se virou muito devagar. Perguntei o que havia acontecido. Achei que ela estava muito impressionada com o cenário lá fora, seu medo da rua... Ela simplesmente respondeu: "vou ficar muito melhor, relaxa". Me desesperei de novo. Ela estava voltando a ficar como antes. Voltei a olhar pela janela, dessa vez eu quem estava paralisada na janela quando eu vi que o mesmo cara voltava arrastando com grande dificuldade, um saco branco imundo. Grande o suficiente para caber "coisas" de um psicopata talvez. Enfim, o que importa é que, com a mesma dificuldade, ele levou o saco até atrás do barranquinho, e começou a cavar alguma coisa. Tirou algo de dentro da terra e enfiou por baixo da blusa.







Historias de terror e alguns relatosOnde histórias criam vida. Descubra agora