Isso já faz um bom tempo. Eu não tenho uma boa memória, mas lembro como se fosse ontem. Eu devia ter uns 9 ou 10 anos na época. Eu tinha um trabalho da escola em grupo, e o meu grupo resolveu ir fazer na casa de uma menina lá. Até aí tudo bem, minha mãe me levou pra lá e os outros três integrantes já estavam na casa. A gente fez o trabalho e eles foram brincar de stop. Eu fui ligar pra minha mãe pra saber se eu podia ficar lá até umas 16:00. Foi a pior burrada que eu fiz. Voltei animada para a sala gritando que minha mãe tinha deixado. Aí tá, o povo ficou feliz e tudo. A gente brincou de stop mais um pouco e aí, um menino cansou e chamou a gente pra brincar de cabra-cega. Todas as vezes que nós brincávamos, a gente escolhia um cômodo só. Primeiro pra evitar de sair quebrando tudo pela casa, e segundo pro pegador não demorar tanto pra achar os outros. Enfim, a gente pegou e foi decidir o cômodo que ia rolar o jogo. Decidimos que ia ser no quarto dos pais da menina. Deixa eu fazer uma descrição visual do quarto: tinha a porta (claro né), em uma parede, que era a do lado direito do quarto, tinha uma cama de casal, do lado da cama tinha um guarda-roupas até que grande, na frente, só que afastada do guarda-roupa, tinha uma cadeira e uma escrivaninha. Tá. Aí a gente sorteou quem ia ser o pegador. O azar me ronda, logo eu fui sorteada. Descobri pelos meus amigos, que eu sou uma péssima pegadora, já tivemos varias vezes que parar a brincadeira porque eu dava testada e cabeçada em qualquer coisa por qualquer lugar que eu passava. Eu nunca acreditei nisso, só que dessa vez o Henzo (único menino que tava lá e deu a ideia de brincar de cabra-cega) resolveu gravar a minha ação como pegadora pra me mostrar que era verdade. Ele pegou o celular e pôs apoiado num lugar onde tinha visão do quarto todo. Começamos a brincadeira. (Só deixa eu dizer que meus "amigos", tinham uma mania insuportável, de me fazer de trouxa em tudo). Aquele dia, eles não deixaram passar em branco. Eu coloquei a venda e contei até dez. Comecei a correr pelo quarto atrás deles que nem uma maluca. Decidi trapacear e levantar um pouquinho a venda pra ver se eu percebia algum movimento deles. Nada. Não via uma unha sequer correndo, só algumas risadas abafadas. Pensei rápido e lembrei que cabia facilmente alguém dentro do guarda-roupas. Corri até lá e abri a porta. Uns papéis (contas, documentos) , caíram na minha cabeça como se alguém tivesse jogado. Agarrei alguém e gritei "cabra-cega!" E tirei a venda. Foi muito rápido, não ia dar tempo de a pessoa que eu agarrei sair correndo pra fora do quarto. O que me deixou traumatizada foi o fato de que, naquele milésimo de segundo que eu soltei a pessoa pra tirar a venda, eu vi aqueles doidos entrarem no quarto tirando sarro da minha cara, porque eu agarrei o vento e não tinha ninguém no quarto, eles tinham me trollado seriamente. Surtei aquela hora porque eu sabia que tinha agarrado alguém. A menina, "dona" da casa olhou para os papéis de sua mãe jogados no chão e começou a tirar sarro de mim de novo.
"Nossa Raquel, fica falando que não é uma má pegadora, mas derruba tudinho as contas e fala que é gente ainda"- e começou a rir.
"GENTE EU JURO! EU SENTI! Cabeça, corpo, cabelo, roupa... sebém que a roupa que eu senti não era de vocês!"- gritei tentando me defender.
"Tá, mas isso não explica os papéis no chão."- disse Henzo.
"É... e você deve ter pegado em alguma roupa do meu pai, e aí se confundiu."- a menina dona da casa fechou a cara e cruzou os braços.
"E tem mais uma coisa Kel, você sabe que a pessoa só pode tirar a venda se tiver certeza que pegou alguém"- Henzo completou.
"MAS EU TENHO POXA!!"-bradei e comecei a chorar no chão do quarto.
Rebeka (a que era dona da casa) descruzou os braços e gritou:
"GENTE! TEM COMO SABER SE A KEL PEGOU ALGUÉM OU NÃO! A GENTE GRAVOU TUDO!"
Henzo correu e pegou o celular. Todos nós fomos pra cima dele para ver a gravação. Fiquei traumatizada até hoje. Até aquela hora, sobre os papéis, eu podia jurar que eles caíram porque estavam muito próximo da beirada e a hora que eu abri o guarda-roupa eles perderam o apoio. Mas estava bem enganada. Henzo pulou o vídeo para a parte que eu comecei a correr pelo quarto. A hora que passou a parte que eu fui em direção ao guarda-roupa, vidrei os olhos na tela. E fiquei paralisada quando vi que aqueles papéis estavam bem no fundo da prateleira. E presos com um clipe de papel (eles caíram soltos na minha cabeça!). Vimos a parte que eu agarrei a pessoa, e não era só eu que estava enganada. Rebeka também estava. Eu não agarrei uma roupa de seu pai, uma vez que não tinha nenhuma lá dentro. Eu agarrei o nada. O NADA! Mas meus braços não fecharam, como se eu estivesse abraçando alguém mesmo. Vi um vulto escapar pelos meus braços, mas acho que só eu vi, ninguém disse nada, nem pareceu assustado. Logo após isso, o vídeo também embaçou e ficou todo preto, fazendo um barulho estranho, meio que um zumbido e chiados misturados. (Lembrem-se que quando você deixa um celular pra gravar você por um tempo, o certo seria ele gravar você, não uma tela preta com uns chiados aleatórios. Inventei uma desculpa e fui embora daquela casa. Não voltei mais, nem pra fazer trabalho, muito menos pra brincar. Até hoje tenho medo de abraçar alguém e a pessoa não ser real. As pessoas dizem que sou fria, mas só eu sei o desespero por trás dos raros abraços que eu dou nelas.
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Historias de terror e alguns relatos
TerrorAVISO:nem todas as histórias publicadas aqui são de autoria minha. Coloquei nes- se livro algumas das Histórias da internet que me fascinaram e achei interessante. Não deixa de votar, é só clicar na estrela aí embaixo <3