Meu Doppelganger

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     Essa foi mais recente. Um pouco antes da pandemia de Covid. Eu tinha acabado de chegar da escola, eu estudava a tarde. Cheguei em casa quase 19:00. Pus o celular pra carregar na escada e fui tomar um banho. Fechei a cortina do box e liguei o chuveiro. Fiquei embaixo d'água refletin- do sobre a vida por alguns segundos. Quando me virei para a janela do banheiro para pegar meu sabonete, senti uma batida na cortina do box. Virei rapidamente para a cortina e consegui, ver bem de relance, uma silhueta de mão, se afastando ligeiramente, em um piscar de olhos. Achei bobeira, coisa da minha imaginação, mas antes mesmo de eu poder tocar no sabonete, ouvi um estrondo e tudo em casa se apagou. Me assustei e não nego que estranhei, sendo que minha mãe tinha pago a conta no dia anterior. Me enrolei na toalha na velocidade da luz e olhei em volta. Mesmo sabendo que não ia ver absolutamente nada, com o breu em casa. Sem pensar muito no caminho, e tropeçando em tudo, corri até a escada cantando alto um louvor. Tateei o carregador e fui descendo a mão até o celular. Constei que ele não estava mais carregando, e estava apitando os 10% . Minha espinha gelou. Eu cheguei em casa com ele apitando os 15%. Ativei o modo avião, baixei a luz, coloquei no modo economia de energia e liguei a lanterna, iluminando o caminho até meu quarto. Peguei qualquer roupa mesmo, vesti muito rápido (só me toquei depois que a camiseta estava do avesso) e saí voando de casa em direção a casa da minha tia, que era na mesma rua. Eu tinha a chave de lá, mas eu acabei esquecendo em casa na hora do desespero. Comecei a bater na porta igual doida e gritar o nome dela. Uma vizinha passou por mim e me disse:

 "Dona Fernanda não chegou do serviço ainda não, Kel."

  Olhei com vergonha para ela. Como eu podia esquecer? Não estava nem perto da hora de ela chegar. Sentei na porta e comecei a tremer e pensar naquilo que tinha acontecido em casa. Fiquei lá por quase 1 hora. Ouvi os passos apressados da minha tia voltando do trabalho. Corri na direção dela ainda bem assustada. Ela me beijou na testa e perguntou porque eu estava daquele jeito. Eu fiquei com medo de falar a verdade, já que ela era religiosa fervorosa e ia mandar virem me exorcizar . Disse que eu tava morrendo de saudade dela e queria conversar. Ela brincou que eu estava mais estranha que o normal. A gente entrou na casa dela e começa- mos a conversar. As horas foram passando e meu celular vibrou indicando a chegada de uma mensagem. Abri o WhatsApp e vi que a mensagem era da minha mãe.

  "Kel, eu vou ter q ficar até amanhã cedo fora, mas fica tranquila q quando vc acordar eu já vou estar em casa ta, bjs."

 Minha espinha gelou, eu não queria ir pra casa, estava traumatizada com aquele apagão, e minha tia não gostava da ideia de eu dormir na casa dela, por causa do meu primo. Tentei insistir ainda pra minha mãe deixar então eu dormir na casa de uma amiga. Mas em todas as vezes, em todos os meus argumentos usados, a resposta era firmemente negativa. Eu fiquei lá mais um pouco na casa da minha tia, e depois fui pra casa, orando baixinho até lá. Ao chegar na porta, eu consegui ouvir passos lá dentro, e alguns resmungos. Peguei meu celular e disquei o número da polícia. Antes de ligar, só pra ter certeza, eu colei o ouvido na porta pra tentar ouvir mais alguma coisa dentro da casa. Ouvi uns resmungos, reclamando da bagunça da casa. Pensei comigo:

 "Ladrãozinho fdp, já não basta querer sair roubando tudo da casa dos outros e ainda quer achar a bagunça ruim. Ai mano, vai se..."

Encostei de novo o ouvido na porta e prendi a respiração pra ouvir melhor. Senti meu coração pular pra fora quando percebi que não era uma voz masculina. Era feminina, mas conhecida o suficiente para eu começar a dar um berro e tapar a boca tentando abafá-lo. A voz que estava resmungando da sua própria casa, era a minha! Perdi o controle da respiração, fiquei pálida de um jeito que até eu pensaria que eu era o fantasma. Olhei pelo olho mágico da porta, aquilo não podia ser real! Apertei um pouco a visão pra ver melhor. Não sei se foi impressão minha, mas eu olhei pra mesinha do computador, que ficava na sala, e o que eu vi ali, me deixou traumatizada pra toda a vida. Sentada, jogando Candy Crush, se eu não me engano, estava nada mais que eu!Euzinha ali, jogando meu jogo preferido, resmungando as mesmas coisas que eu quando vejo a casa bagunçada. Arregalei os olhos e me virei de costas para a porta, batendo as costas na mesma e tentando por minha respiração em controle. Tomei um pouco mais de coragem e voltei a olhar pelo olho mágico e dessa vez não tinha ninguém, nem mesmo vestígios da existência de alguém. Meu corpo se estremeceu da cabeça aos pés, gelei. Desisti de ligar para a polícia, não queria passar o resto da minha vida dada como louca internada num hospício. Abri a porta disfarçadamente. Minha mochila estava encostada ao lado da porta. Peguei ela e abri. Tomei nas minhas mãos um revólver que eu mantinha escondido por questões de segurança e defesa. Andei pela casa com o revólver em punhos, abrindo as portas e apontando a arma rapidamente, me sentindo policial de filme de ação. Depois de rodar a casa toda atrás de um nada 2 vezes, eu baixei a arma e fui para o meu quarto, mas ao abrir a porta, algo me surpreendeu e fez eu desmaiar ali mesmo, na porta estava escrito minusculamente, mas eu consegui ler, e me arrependo. Estava escrito ali:

 "Seu Doppelganger agradece a liberação da casa, nos vemos por aí para você viver no lugar dele ele conquistar a vida novamente"

Historias de terror e alguns relatosOnde histórias criam vida. Descubra agora