A solidão que antes me assustava tanto havia virado um vício, eu preciso estar sozinha com meus próprios pensamentos mesmo, e talvez principalmente, quando eles tentam me sabotar. Acho que fiz as pazes com alguns dos meus medos, não pertencer sempre foi o maior deles, já tentei me encaixar em todo que é tipo de grupo, de dança, movimentos, já tentei ser tanta gente diferente que nem me lembro de algumas épocas de tão longe de mim que eu estava enquanto tentava desesperadamente, me encontrar. E de todas as pessoas que já fui, considero essa versão a melhor, isolada nesse apartamento que é tão eu como minha própria mente onde se algo não faz sentido em um ou no outro, mudo todos os móveis do lugar e assim eu faço da minha casa uma extensão de mim, da minha arte um desabafo sem fim e da mente que a cria, o meu lar. Então, se me perguntam:
"-não sente só?"
eu me pergunto, "como?", como se sentir só quanto está tão cercada de si mesma?
Olhe ao redor eu estou em todo lugar, eu sou o tapete, a bancada e o sofá, olha bem 'praquela' mancha circular na mesa de todas as vezes que tomei chá e esqueci da proteção, olha bem pra essa alma tão partida e que ainda arrisca em entregar seu coração, olha pra mim e pra janela e me responde, se não é tudo isso meu? Eu que dei nome as estrelas lá fora e pros prédios que não param de crescer, daqui até o horizonte e até onde seus olhos puderem ver, eu que queimo com tanta força quanto o sol e me deixo por onde passo me responde se não é tudo meu?
Por tanto tempo eu procurei alguma coisa a que pudesse pertencer, a quem pudesse pertencer. E quantas vezes não abracei o pranto esmagador de se entregar a alguém que não está pronto, ou disposto a te ter? Não eu não pertenço mais, entendi que não tenho lugar.
O mundo é que pertence a mim, já que sou muito grande pra me encaixar.
E assim dou nome as ruas por onde passo, dou comida pros meus gatos e crio motivos pra continuar, sinto a música passar por entre meus dedos ligo o fogão e começo a cozinhar, a arte de se aproveitar a própria companhia e ter a gentileza de sentar e se escutar, eu sou meu encontro preferido depois de um dia de trabalho, uma taça de vinho, um bom banho e meu talento culinário duvidoso que precisa melhorar, posso rir das minhas falhas e dos meus medos e posso dançar.
Acordo e vou dormir sem peso, sem culpa ou medo de não bastar. Depois de muito tempo posso dizer: é melhor estar sozinha do que amar o motivo que te faz sofrer.
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Demorei meses pra postar, por que demorei meses pra chegar aqui. Então se você está lendo esse livro em busca de conforto eu quero que saiba, não existe dor que doa pra sempre, eu juro. O tempo diminui o estrago, até de corações partidos.
com amor
-clarinha
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Recomeço
Teen FictionApós ter o coração partido uma menina se depara com o Cupido em sua janela, ele veio buscar sua flecha. Metáfora pra um amor que já não a pertencia mais. Desse dia em diante a garota se encontra com a personificação de vários sentimentos em seu apa...