Recomeço

a Saudade cresceu no jardim

A Saudade crescia feito mato a semanas, uma erva daninha que suga todos os nutrientes do solo impedindo todo tipo de coisa brotar, fazia mais de um mês que eu não via uma só flor na sacada mas a vontade de cuidar do jardim era quase nenhuma.

É estranho não conseguir se soltar do passado, me sinto segurando as malas de alguém que resolveu ir embora sem elas. E agora o que faço com toda essa bagagem? Se minhas mãos parecem estar coladas nelas e não sei como deixar ir...

Ela é uma planta bem chata de remover, tem pequenas raízes que grudam na terra e se prendem em qualquer lugar. Ela libera um cheiro tóxico, que agora está espalhado por toda sala de estar. O cheiro varia dependendo de quem a plantou ali, a minha tinha cheiro de bala Halls e cigarro mas as vezes também era croason de chocolate e licor de maracujá.

A Saudade, diferente da Solidão, entra sem bater na porta. Invade toda a casa e se instala sem avisar, te faz lembrar do gosto do beijo e daquela sensação de encaixar
perfeitamente
no abraço que te apertava forte e dizia que não ia soltar...
e mesmo nos piores dias
ainda era o único lugar que queria estar

A Saudade ela vem e faz moradia no seu peito, bem ali onde seu coração costumava disparar, te faz esquecer que seu corpo é muito mais
do que o lugar que alguém um dia desbravou
Ela te deixa de joelhos e faz queimar cada lugar que ela encostou

Eu fechei os olhos e lembrei do dia que meu cachos enrolaram no seu anel, pedi seu cafuné em casamento e te prendi ali, ela deitou no meu ombro sem reclamar como quem não planejava sumir. Cada dia mais, eu lembrava dos motivos por que eu a amava.

Então era hora de cuidar do jardim, coloquei na sacada dois ou três vasos de flor. Não achei nenhuma tão bonita, quanto as que costumavam crescer lá.

Mas na botânica tem sempre uma espécie nova a ser descoberta em algum lugar, quem sabe numa dessas a vida não me mostra um perfume novo. Algo que me deslumbre de novo e me faça suspirar!