05 - Bruta

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Dominique Montenegro

Como sempre, sou acordada por meus pesadelos. Salém está todo esparramado entre minhas pernas, o relógio apita às cinco horas da manhã. Acaricio meu gato e saio da cama sem acordá-lo.

Por preferir não me atrasar para a lida e ter o luxo de dormir por mais meia hora, tomo café da manhã em casa e não na cantina, com os peões. O café expresso sai em 5 minutos da cafeteira, pra comer; bolo de chocolate, bolo de arroz e omelete gourmet; ovo, bacon, mortadela e seleta de legumes.

  Estava me preparando para comer, quando três batidas na porta me chamam a atenção.

— Quem é? — Nenhum dos peões veem a minha casa se não for necessário. Mas a falta de resposta me irrita. — Se não for caso de morte, vai embora. — Ordeno, mas as batidas continuam me forçando a abrir a porta e me deparar com nada mais do que Fellipe, ele estava equilibrando uns potes e segurava um pacote na boca, abro passagem e o observo pôr tudo na mesa.

— Se demorasse mais um minuto, era uma vez, café da manhã. — Brinca, arqueio a sobrancelha e o observo abrir os potes, tinha pãezinhos recheados doces e salgados, bolo formigueiro, sequilhos, pães de queijo e até panquecas com queijo derretido.

— Posso saber o motivo desta invasão? — Pergunto de braços cruzados.

— Como você não se mistura com os mortais, resolvi lhe fazer companhia — Presunçoso. Me sento e capturo meu celular no bolso, o que causa estranheza em Fellipe. — Não sabia que tinha celular, ainda mais um tão moderno.

— Só porque moro em fazenda, não significa que sou ignorante a tecnologia. — Retruco.

— Você poderia ser mais gentil com seu convidado.

— Não te convidei. — O lembro. Fellipe dá de ombros e se põe a comer, faço o mesmo, enquanto vasculho as redes sociais.

— O que vamos fazer hoje?

— O que vamos fazer hoje? — Arqueio a sobrancelha.

— Vou passar o dia observando o trabalho da fazenda.

— Não tenho tempo pra ficar de babá. — Mal termino a frase e meu celular apita, o sistema de segurança indica que a cerca do pasto leste foi violada, de novo. — Merda! — Me levanto e corro até o quarto enquanto gravo um áudio no grupo dos peões. — Interrompam o café e corram para os cavalos, estamos sendo invadidos no pasto leste, de novo! — Pego minha pistola e chapéu antes de sair às pressas com Fellipe em meu encalço.

— O que está acontecendo? — Fellipe tem um tom preocupado. Assim que chego no redondo coberto, assovio para Mestiço que vem ao meu encontro.

— Os sem terras estão invadindo o pasto leste, onde ficam as matrizes recém enxertadas. — Rapidamente coloco a sela e o cabresto nele e monto.

Vou com você! — Fellipe monta na traseira do Mestiço, mas esse cavalo não aceita qualquer um e para se livrar do intruso, empina, jogando o herdeiro Vilela no chão. — Por que fez isso?!

— Mestiço só aceita a mim. — Respondo e saio a galope assim que os peões se aproximam para pegar seus cavalos. Depois de alguns minutos, os peões me alcançam. Fellipe está na garupa de Carlos, sorrio em deboche. Logo a frente, vejo o grupo de matrizes, elas estão agitadas, a falta de claridade dificulta a ver claramente, mas dá pra ver alguns homens tentando laçar as vacas, acelero o galope e  grito dando um tiro para cima, os intrusos se assustam, os peões espalham as vacas e cercamos o grupo de seis homens, com a pistola em mãos, me aproximo.

Um Amor De Capataz (Livro 02) DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora