Terceiro

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20 de novembro, 2009

Já haviam se passado três anos desde que Taehyung e eu tivemos nossa primeira vez, naquele dia em que Jeongguk havia tido uma festa surpresa. Muitas coisas mudaram desde aquela época e, uma das principais coisas foi o fato de que Jeongguk e eu nos afastamos completamente.

Eu nunca entendi muito bem, mas desde a sua festa de aniversário ele esteve bravo comigo por algum motivo no qual eu não entendia. Durante um bom tempo eu tentei entender o lado dele e tentei voltar as pazes, porém aquela criança era muito teimosa.

Agora pouquíssimas palavras eram dirigidas a mim por ele, e isso era recíproco já que eu também parei de tentar ser seu amigo. Nossas vidas continuaram em um rumo diferente do de antes, mas do mesmo modo continuaram.

Porém nesse momento eu me via em uma corda bamba, onde eu não sabia se chorava e cortava os pulsos ou se fingia que estava tudo bem. Taehyung havia completado dezoito anos há alguns dias e, por ser mais velho que eu, havia ficado maior de idade antes de mim.

Ele estava com o olhar baixo, enquanto arrumava suas malas. Eu tentava trancar as lágrimas que estavam insistindo em sair de meus olhos enquanto estava sentado na cama o olhando.

ㅡ Tae, eu quero ir com você… ㅡ falei com a voz visivelmente embargada.
Taehyung olhou para mim de soslaio e então sorriu fraco, aproximou-se de mim e deu-me um selinho.

ㅡ Me desculpa, Jimin. ㅡ falou, mesmo que a culpa não fosse dele. ㅡ Daqui a pouco você também vai sair daqui e então nós vamos nos encontrar, né?

Comprimi meus lábios e tentei respirar, afastando os pensamentos tristes e então tentei lhe enviar um sorriso.

ㅡ Você não vai me esquecer, não é? ㅡ perguntei e então senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto.

Taehyung riu fraco e então limpou a lágrima.

ㅡ Como eu poderia te esquecer? ㅡ perguntou com um sorriso terno. ㅡ Daqui a menos de um ano você já vai poder sair daqui, Jiminnie… Nós vamos ser muito felizes juntos lá fora.

Taehyung era o meu tudo, o Kim era como meu segundo corpo e a minha segunda mente. Não sei como viveria por todo esse tempo dentro desse orfanato, dentre todas as entrevistas que fiz com diferentes tipos de pessoas que procuravam por adoção e nenhuma delas me escolheu.

Era nos braços de Taehyung que eu encontrava o meu consolo e a minha felicidade. Eu podia estar dramatizando de fato, pois daqui a alguns meses eu também vou ter que sair desse lugar. Mas convenhamos, não saberei por onde anda Taehyung. Não saberei onde ele mora ou onde vai trabalhar, não vou saber nada sobre a vida dele.

Possivelmente por eu ter estudado a minha vida inteira em uma escola de freiras, eu talvez não vá conseguir entrar em nenhuma faculdade. Tenho medo de sair daqui e acabar virando um sem teto, um sem ninguém, um sem Kim Taehyung.

O Kim levantou-se da cama e então pegou sua mala na mão. Instintivamente me levantei, olhando-o nos olhos e vendo que ele também estava a ponto de chorar. Mordi meu próprio lábio inferior em forma de conter o choro e então o abracei.

Dei-lhe o abraço mais necessitado que existia, o abraço mais gostoso e mais apertado do mundo. E foi então, com a cabeça apoiada em meus ombros em meio ao abraço, que pude ouvir Taehyung chorar.

Taehyung começara a chorar como uma criança, agarrando minha camiseta e dizendo palavras aleatórias, sem formar frases. Mas eu sabia que era o jeito dele dizer que iria sentir saudades.

Nós então cessamos o abraço e demos um beijo e então logo pude ver o mais velho caminhar em direção à porta. Não me atrevi a dizer um adeus, então apenas dissemos "até logo". E então Taehyung abriu a porta, saindo por esta e a fechando em seguida.

Sentei-me novamente na cama e pus as mãos no rosto, deixando-me chorar ainda mais. Não demorou muito para que eu ouvisse a porta se abrir novamente. Olhei rapidamente para o local, esperançoso de que pudesse ser Taehyung ali.

Iludido, percebi que era apenas uma freira guiando Jungkook até o quarto.

ㅡ Está tudo bem, Freira Kim. Pode me deixar sozinho aqui. ㅡ Jungkook disse sorrindo.

A freira assentiu e então saiu do quarto. Jungkook colocou as mãos para frente, tentando tatear os móveis e então, finalmente, conseguiu chegar até a sua cama sem qualquer ajuda externa.

ㅡ Jimin-sshi, está chorando? ㅡ perguntou, enquanto sentava-se.

ㅡ Não. ㅡ menti.

Jungkook suspirou e então se deitou na cama, soltando um suspiro leve, talvez de alívio.

ㅡ Taehyung hyung falou comigo. ㅡ Jungkook disse baixo. ㅡ Eu não sei como esse lugar será sem a animação dele por perto. ㅡ disse um pouco cabisbaixo.

ㅡ Será um inferno. ㅡ completei. ㅡ Mas daqui a alguns meses eu sairei também e vou encontrar Taehyung, aí tudo estará certo. ㅡ disse limpando minhas lágrimas.

Jungkook se encolheu na cama, parecendo estar desconfortável. Eu não havia entendido aquilo no primeiro momento, mas então pude vê-lo chorar. Estava chorando amargamente, de uma maneira que eu nunca havia visto antes. O menino de onze anos quase soluçava por conta do choro, o que o fez levar as mãos até os olhinhos que nada viam e cobri-los, tentando conter as lágrimas que rolavam ali.

Levantei-me de minha cama. Eu não estava bem, mas se uma coisa poderia me deixar pior ainda era o estado em que Jungkook se encontrava agora.

ㅡ Você ainda pode ser adotado, Kook. Alguma família ainda pode te adotar e te ter como filho, você tem chances. ㅡ eu disse enquanto sentava na borda de sua cama. ㅡ Porém Taehyung e eu somos velhos demais, ninguém nos quis no nosso tempo e ninguém nem vai querer. Entende isso? Eu só tenho a ele e a mais ninguém! ㅡ falei e então o vi continuar a chorar. ㅡ Kook, por que a vida é assim? Eu nunca fiz mal a ninguém, nunca parti um coração… Eu só queria poder ser feliz pelo menos uma vez na vida, isso é pedir demais?

ㅡ Jimin, para. ㅡ Jungkook pediu em meio ao choro. ㅡ Você não tem só Taehyung, ele não é sua única fonte de felicidade e também você não precisa somente dele para viver.

Olhei para Jungkook surpreso.

ㅡ E o que mais eu tenho? ㅡ pergunto, eu verdadeiramente não tinha nada.

ㅡ Você tem a mim, idiota. Por favor, não vá. Eu tenho medo de ficar sozinho.

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