CAPÍTULO III - FÉRIAS DESPORTIVAS

26 2 0
                                    

Finalmente as aulas terminaram, e terminaram em grande, melhor do que eu estava à espera depois de ter falado com aquele pessegote do Ruan. Agora, só me restava fazer planos para as férias e desfrutar delas ao máximo.

Noutras cidades e escolas, as pessoas aproveitavam o último dia de aulas para trocar presentes, dedicatórias, contactos e sobretudo partilharem a emoção de uma despedida amigável depois de um ano de convívio. Na minha, era bem diferente, a despedida era tudo menos agradável, pois o que sobressaía não era o afeto entre colegas mas a rivalidade entre eles! Era o dia em que uns diziam aos outros palavras displicentes... que não os suportavam, que os achavam um estorvo e que odiavam o facto de alguns terem os melhores resultados da turma ou faculdade; era um dia de confusão!

Iniciava-se uma discussão imoral e partia-se para a violência!! Eram estalos, pontapés e punhadas...o frequente era fazer isso quando a vítima estivesse distraída e de seguida só se ouviam gritos altos, DESPEDIDAAAA! Pena os dirigentes da faculdade não conseguirem lidar com a situação, afinal, o caos passava-se fora do recinto, uns quarteirões adiante.

Felizmente, eu pertenço à uma classe civilizada, totalmente contra a violência e claro, muito disciplinada. Aquele ambiente não era para alguém como eu...causava-me desassossego.

Naquele dia, para evitar fazer parte daquela balbúrdia, fiz um percurso para casa diferente do habitual, caminhei com cautela enquanto ouvia músicas suaves, cuja calmaria combinava com o ritmo dos meus passos. Cheguei à casa, pousei as minhas coisas, almocei e fui logo de seguida para a casa da Elmara. que era mesmo em frente à minha.

Elmara era e é a minha melhor amiga, a irmã que tanto desejei para mim. Ela é o 'meu coração gémeo' e eu o dela, porque somos muito parecidas, quer física quer psicologicamente. O que nos diferencia é o facto dela ser mais rechonchuda que eu.

Conhecemo-nos em pequenas e desde então nunca nos largámos. Eu contava com ela para tudo e por isso fui ter com ela, para narrar o que tinha acontecido na faculdade. Ela ficou espantada quando soube que falei com o Ruan com ousadia, quase não acreditou, nem eu mesma conseguia crer no que tinha feito...Contudo, ela aconselhou-me a procurar saber mais sobre ele antes de me deixar seduzir pelo seu charme.

Conversámos sobre outros assuntos, falámos sobre como aproveitaríamos o nosso tempo livre e escolhemos fazer ginástica durante as férias. Entretanto, apercebemo-nos de que, por detrás da casa da minha *bestfriend, havia um grupo de pessoas que se encontravam todos os dias à mesma hora e no mesmo local para ensaios de dança. Resolvemos averiguar a situação indo assistir aos ensaios com autorização do instrutor.

Encontrámos muitas pessoas conhecidas, entre elas as irmãs gémeas Dina e Milka, nossas amigas. Como o instrutor permitiu que fizéssemos parte dos ensaios, elas informaram-nos que os ensaios eram para uma atividade que ia realizar-se no dia de carnaval e ensinaram-nos a coreografia da dança, que requeria pares, razão que levou o instrutor a indicar dois rapazes para dançarem connosco.

Gostámos muito da experiência e optámos por continuar a participar nos ensaios; Em pouco tempo tornámo-nos indispensáveis e, consequentemente, principais dançarinas, em simultâneo com Dina e Milka.

Nos dias que se seguiram, procurámos dar iniciativa ao nosso plano de férias e por isso fomos inscrever-nos num grupo de ginástica juvenil. As aulas eram dadas por 3 instrutores, dos quais dois homens e uma mulher. A instrutora já era conhecida porque era protagonista de um programa de desporto e ginástica na Televisão Pública de Angola (TPA), mas ela só iria estar connosco poucas vezes devido ao seu trabalho na capital (Luanda).

Começámos logo a frequentar os treinos. No início, era muito difícil, pois não estávamos habituadas a trabalhar o corpo daquela forma! Os aquecimentos e alongamentos eram extremos e ainda nos esperavam os exercícios mais árduos... Por sorte, os instrutores eram muito atenciosos e ajudavam aqueles que tinham mais dificuldades.

Os treinos eram num estádio de futebol, posso assim dizer. Havia uma área coberta, com o chão liso, muitos colchões de ginástica e um pequeno palco central. O trabalho que desenvolvíamos era sobretudo para conciliar força, agilidade, equilíbrio e elasticidade. Lembro-me de ser muito difícil... Chegava à casa exausta, completamente encharcada de suor e o mesmo acontecia com a minha melhor amiga e com todos os que ainda não estavam acostumados àquele grau de exigência... o melhor era não desistir.

Com a prática, as dores atenuariam e assim aconteceu. Eu tinha receio de magoar-me ao fazer exercícios, mas com a ajuda dos treinadores fui capaz de ampliar as minhas capacidades físicas. Aprendi a fazer de tudo um pouco: ponte, bandeira, apoio facial invertido, vela, carpado, etc... só não consegui fazer na perfeição a espargata, tinha sempre a sensação de que ia rasgar-me toda! Contudo, estava a começar a amar aquilo, parecia que já lá estava há muito tempo.

Mais para meados de dezembro, os treinadores disseram-nos que os últimos treinos estavam a ser muito rigorosos porque se aproximava o dia Nacional do Desporto em Angola (23 de Janeiro) e o nosso grupo, constituído por centenas de pessoas, teria de ser instruído para participar num esquema coordenado.

Sem Conhecer o FimOnde histórias criam vida. Descubra agora