Talk II

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   —Eu juro, Sizhui, faltou pouco para eu contar para ele que seu pai está vivo. – A voz de Yaling soou nervosa do outro lado da linha, possivelmente ter esperado dar o horário do garoto acordar havia sido uma tortura. 

   —Eu vou contar para o meu pai quando ele acordar. – Disse Sizhui, se sentando na cama. – Foi bom ter certeza que seu tio ainda se lembra dele. 

   —Realmente. Ele vive esquecendo das coisas, fiquei até com medo. – Yaling concordou. – Mas o que ele e seu pai viveram não é algo que se esquece assim. 

   —Eu estava pensando, e se meu pai não acreditar em mim? 

   —Ele já duvidou de você alguma vez?

   —Não, mas agora é diferente. 

   —Acho que consigo "uma prova de vida" para você. Só preciso ir ao trabalho do meu tio.

   —O que você vai fazer? – Sizhui perguntou, um tanto preocupado. Tinham que tomar cuidado ou o plano inteiro iria por água abaixo. 

   —Primeiro vou te enviar algumas das fotos mais recentes que eu tenho dele. – Respondeu Yaling. – Se isso não bastar eu gravo ele comigo ao lado, assim seu pai tem a confirmação de que é recente. 

   —É uma b... – Sizhui se interrompeu assim que ouviu as batidas em sua porta, alguns segundos depois ela se abriu e WangJi colocou a cabeça para dentro. 

   —O café está pronto. 

   —Ah, okay. Eu já vou. – Mesmo com a expressão calma, ele estava sentindo como se seu coração estivesse prestes a sair pela boca. 

   Quando WangJi saiu, Sizhui se despediu de Yaling e seguiu até a cozinha. O caminho até lá se resumiu em um conflito interno de maneiras menos dolorosas de tocar no assunto. No fim, decidiu que apelaria para a sinceridade com uma pitada de delicadeza. 

   Após tomarem café juntos, Sizhui ajudou WangJi a tirar a mesa, buscou a mochila em que havia escondido a câmeral e só então reuniu toda a coragem necessária para introduzir o assunto.

   —Pai, podemos conversar?

   —Claro. – WangJi voltou a se sentar a mesa, fazendo um sinal para Sizhui fazer o mesmo. – O que foi? 

   —Eu nem sei como te dizer isso, mas... eu meio que invadi sua privacidade há um tempo atrás e... menti para você. Várias vezes. – Sizhui contou, tentando controlar o nervosismo que parecia crescer a cada palavra.

   —Não estou entendendo. – WangJi franziu o cenho, mas dava para perceber alguns traços de preocupação em seu rosto. 

   —Eu fui para o Caribe com o JingYi, não fui? A gente foi para um lugar que você me disse para não ir e eu achei uma câmera, em uma caixinha de metal. – Sizhui enfiou uma das mãos dentro da mochila e pegou a caixinha onde havia voltado a guardar a câmera, depois a colocou em cima da mesa. – Coincidência ou não, a câmera pertencia a alguém que você conhecia. 

   —Wei Ying... 

   Ao pronunciar aquele nome, os olhos de WangJi lacrimerajaram e sua expressão parecia um tanto perturbada. Sizhui quis parar por ali, porque sabia que estava entrando em um terreno perigo e extremamente sensível, mas se obrigou a prosseguir. 

   —Olha, me desculpa. Eu não sabia como te contar e não queria te machucar mais. – Começou a se explicar, enquanto WangJi abria a caixinha que foi empurrada até ele. Suas mãos já começavam a apresentar leve tremores, o que fez o peito de Sizhui se apertar. – Então continuei assistindo os vídeos e reunindo informações sobre ele. 

   —O que você pretendia com isso? – WangJi perguntou, erguendo a cabeça para olhar para ele. 

   —Procurar por ele. 

   —Sizhui, Wei Ying morreu no dia do furacão. – Sua voz falhou. – O nome dele estava na lista...

   —Não, não, não. – Sizhui se apressou em contrariar. – Pai, ele está vivo, é tio da Yaling e do Jin Ling. Eles me disseram assim que souberam o nome dele. – WangJi parecia cada vez mais atordoado, como se estivesse em uma batalha interna entre acreditar ou não no que seu filho dizia. – O nome dele agora é Wei Wuxian e... ele é um designer famoso nos Estados Unidos. Pai, ele achava que você estava morto, seu nome também está na lista, por isso ele não voltou para o Caribe ou veio para a China. 

   —Impossível... 

   Sabendo que não o convenceria sem uma prova concreta, Sizhui tirou o celular do bolso e abriu uma das fotos que Yaling havia enviado para ele. Depois virou seu celular para o pai.

   —Essa foto foi tirada há uma hora atrás. – Explicou, deixando que WangJi pegasse o aparelho. – Yaling me mandou, para caso você não acreditasse.

   Após algum tempo encarando a tela do celular, WangJi largou o aparelho sobre a mesa e escondeu o rosto nas mãos. Alguns segundos depois uma lágrima caiu em cima do aparelho. Sizhui rapidamente se levantou e foi até ele, o abraçando de uma forma meio desajeitada, mas que demonstrava o que ele desejava transmitir.

   —Eu tenho uma forma de fazer vocês se encontrarem. – Murmurou após um tempo e WangJi ergueu a cabeça, ainda com os olhos vermelhos pelo choro. 

   —Como? 

   —Vem para New York comigo.

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