3. Umidade e desembaraços

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A grande desvantagem de viajar sem ar-condicionado e de cabelos soltos é que eles ficarão embaraçados. A parte voltada para a janela estava com os cachos esticados e a parte de trás com o formato do encosto do banco, então como já estávamos próximos da cidade me adiantei em encontrar um jeito de arrumar. Fiz duas tranças rasteiras do lado direito e prendi o restante do cabelo junto com elas.

A chegada na cidade foi cheia de empolgação. Mamãe nos levou pelo caminho que passa pelo rio, como ele estava cheio! Tão cheio que mesmo num calor tremendo não se via uma alma se banhando naquelas águas. Mas a beira, essa tinha algumas almas sim. Sentados no que agora era uma extensão do rio, alguns comiam e bebiam ao som de música alta.

- A gente pode voltar aqui mais tarde? Eu nem me lembrava que era tão grande assim. Porque esse povo não banha? Essa água deve estar tão boa de refrescar... - A pequena Lia disparava as palavras enquanto se esticava para enxergar.

Nós rimos e logo Jonas se apressou em se gabar e dizer que só os meninos grandes podem se aventurar no rio cheio. Lembrando das histórias dos nossos primos.

- Meninos grandes que sabem nadar, né. - Joana o desafiou aumentando o volume das nossas gargalhadas.

Quando chegamos na casa da Tia Marina todos nos esperavam e adivinhem só, com uma enorme panela de arroz com milho, outra de pequi e em mais uma com galinhas cozidas. Mas ainda havia um lembrete do medo da doença que poderia estar entre nós sem nem mesmo sabermos, então nos cumprimentamos de longe, mal deu pra matar a saudade direito.

Mamãe foi tomar banho antes de almoçar ainda e enquanto isso nós descarregamos o carro e nos sentamos com alguns de nossos primos Natã e Bia e a filha de uma velha amiga de nossa mãe, Rebeca. E eles nos atualizaram sobre como estava a vida por lá e até que Bia desabafou:

- Vocês estão sabendo que daqui vamos pro interior? Nossa vó chamou e disse que tem lugar pra todo mundo, eu não sei não. Muita gente, a casa é pequena... Já falei que não gosto da ideia.

- Bia, a mata lá é incrível. Não é bem mata, né. Mas bem pertinho tem um rio, vocês nunca foram lá né? - Rebeca tinha o brilho nos seus olhos vívidos enquanto falava e eles aumentaram quando se virou pra nós e viu os olhos de Jonas brilhando. Mas logo passou enquanto completava sua fala - É, mas não sei se vamos, aproveitem e não se esqueçam de perguntar da história para a vovó.

Logo o bater das panelas interrompeu a conversa. Mas que história era aquela? Como a Rebeca sabia de algo assim e nós não? Eu queria tanto perguntar mas me distraí nos pensamentos e quando olhei pro lado Rebeca não estava mais, já tinha ido pra perto de sua família.

O Mundo Escondido na Casa da VovóOnde histórias criam vida. Descubra agora