5. Mosquitos e o jantar

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Depois de uma meia hora chegamos na casa da vovó e conforme a discrição de Bia e Natan o lugar estava lindo! Os carros chegaram buzinando e ela veio em passos rápidos vestindo um vestido largo, azul com florzinhas amarelas como a florada dos ipês em Brasilia. Os cabelos dela completamente brancos, marcas da desistência das pinturas que já duravam menos de um mês, presos em duas tranças gordas cheias de cabelo crespo. Também tinha passado um batom rosinha para o reencontro.

- A vovó está uma gracinha, nunca perdeu o charme! - Bia falava enquanto descíamos com a ajuda dos meninos. Ela tem os mesmos olhos que a vovó, pequenos e escuros, que praticamente somem quando quando abrem um sorriso.

Foi uma bagunça só, todos pedindo pela benção dela e muitos abraços, alguns ficaram receosos, outros pareciam ter se esquecido da ameaça que nos levou até ali. Mas a vovó pouco se importava, abraçava, mas também mandava beijos para quem preferia ficar distante. E aos poucos o casarão deixava de ser vazio e silencioso. Muitas malas, mochilas e gente falando alto.

Ao todo éramos 15, Bia, Natan e os pais, Mariana e Zeca, nós seis lá de casa, eu, Jonas, Joana, Lia e nossos pais, e André e Isabel com a pequena Talita, além da vovó e da moça que vivia com ela, Júlia, que perdeu boa parte da família e foi adotada como uma filha da velhice. Os outros não puderam ficar, alguns deixaram a promessa de vir passar algum fim de semana.

O rio chegava perto da casa de tão cheio que estava e o que nos restava então era apenas molhar os pés, mas havia ainda a esperança era de que com poucos dias pudéssemos dar muitos mergulhos. E daqui a pouco começava a correria para preparar as camas e o jantar também, depois do por do sol seria difícil ter bastante luz.

***

O sol já estava baixando quando nos sentamos para jantar, todos já sabíamos mais ou menos onde íamos dormir e com o cansaço da viagem ninguém se importou muito em pensar que ainda estivesse muito cedo para planejar essa parte da noite. Minha mãe e a tia Mariana se juntaram para cozinhar e fizeram uma farofa com o resto do almoço que Júlia tinha feito mais uma carne meio assada, que ficou meio estranha, mas ninguém teve coragem de comentar.

Enquanto comíamos com o ventilador ligado os mosquitos tentavam se aproveitar da quietude, a pobre Lia era quem mais sofria, chegava a espernear numa mistura de angústia e raiva dos bichinhos que a picavam. Parecia que quem era o bebê era ela e não Talita que mamava toda encoberta para não empolar por causa dos mosquitos.

- Juju era desse jeito quando era pequena, mas a vizinha que morava alí pertinho tinha um remédio de uma planta, mas agora eu não sei que planta era. Mas pode deixar que eu vou procurar ali pra dentro. - vovô falou sentada do lado da minha mãe já colocando a mão nos braços da cadeira e pegando impulso pra se levantar.

- Calma, mãe, é só muriçoca. Amanhã a gente procura isso. - minha mãe falou puxando ela de volta pra cadeira antes que ela se levantasse ainda.

- Ah, mas aqui não tem isso não. Mesmo quando falta energia, chamo a Juliana e a gente resolve tudo. Com lanterna, com vela, com a luz da lua... - ela falou contrariada.

Meus pais riram enquanto Lia olhava apreensiva e intensificando a agonia pra mostrar o quanto sofria e ver se alguém resolvia logo um pouco dos bichos.

Júlia comemorou baixinho a folga que teria nesses dias e nós rimos junto com ela.


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⏰ Última atualização: Oct 03, 2020 ⏰

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