1. A estrada

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A estrada sempre tem seus desafios, buracos enormes, acidentes à beira da pista e comida gordurosa. Mas essa em especial nos livrou do último. Sabendo da pandemia e da dificuldade em comprar comida saímos com marmitas prontas, biscoitos de vários sabores e duas garrafas de café. As cadeiras de praia e aquelas estilo bar também foram conosco dando um ar de filme aos almoços, lanches e jantar. 

- Ei, eu que vou sentar nessa.

- Não! Você sempre quer a melhor cadeira. Dessa vez quem vai sentar na colorida sou eu. Não é mãe? - Joana gritava lutando com Jonas para se sentar na cadeira de praia  branca com detalhes azul, rosa e laranja que papai comprou na última, e, até então, única, ida a praia.

Ela fingiu que não escutava enquanto esticava as costas do lado da sua cadeira amarela com os olhos fechados. Quando terminou olhou para eles, se sentou e abriu a uma das marmita que segurava com uma linguiça bem frita, acomodou a pequena Lia e deu a vasilha já aberta nas suas mãos. Então olhou, novamente, com uma das sobrancelhas levantadas pra os meninos que ainda resmungavam um com o outro.

Jonas deixou aquela cadeira para a Joana resmungando e comeram lado a lado debaixo de um cajueiro, enquanto estávamos estacionados na frente de um pequeno restaurante de beira de estrada depois de 7 horas de viagem no comecinho do Tocantis. 

Depois de uma meia hora, já tendo comido, alongado e organizado as vasilhas e cadeiras no porta-malas, voltamos cada um para o seu lugar. Como meu irmão estava sentado no banco da frente desde que saímos de casa, agora eu é quem irei do lado da mamãe e servirei água, café e vou cuidar do GPS. E atrás de mim vai Joana lendo um livro de uma trilogia em que umas crianças chegam num outro mundo pelo guarda-roupas, no meio vai Lia sempre dormindo ou puxando conversas, a coitada tem enjoo se assistir ou tentar ler enquanto viajamos. Na outra ponta Jonas dorme de fone de ouvidos, alternando as vezes com animações orientais, nem sempre de ninjas, e apostas com Lia sobre quem vê mais carros de um cor específica.

Paramos um pouco mais a frente para usar os banheiros de um posto de gasolina pequeno e familiar e fizemos um lanche rápido. Lá pelas nove paramos de novo, agora num posto bem iluminado, e jantamos em roda e aproveitamos para conversar como sempre fazemos nos jantares. Depois de muita conversa jogada fora, mamãe pediu para que Lia orasse agradecendo pela proteção e pela boa viagem, e, com as suas palavras de criança, ela orou acrescentando a saudade que sentia do papai e da vovó. Depois disso Joana leu um salmo e cada um fez um pequeno comentário sobre o que tinha entendido. Depois disso, mamãe dirigiu mais um pouco com Jonas ao seu lado e paramos para dormir um pouco mais a frente desviando o caminho para uma cidade um pouco maior que tinha hotéis grandes que não tinham fechado.


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