.5

271 53 445
                                    

— Ele não pode ajudar.

  Rebecca finalmente conseguiu falar, veio calada desde o escritório de Liam até a nave.
— Mas ele não é o comandante? Ele tem uma equipe a seu dispor, não é? —  Vox questionou, a esperança que ele havia adquirido há poucos minutos estava apagando.

— Tem, mas Liam não pode ajudar, pensar que... — Bex não conseguiu terminar a frase. Seu amigo de tantos anos já não era mais o mesmo, eles sempre se entenderam por ambos serem humanos, mas, agora, isso era a única coisa que tinham em comum.

— O que pretende fazer, Rebecca? Prometeu que salvaria a criança. — Roy pronunciou, normalmente, não se importa com os problemas dos outros, entretanto, se sentia cada vez mais envolvido.

— E eu vou. Estamos falando da vida de uma criança. Não me importo com Liam, nem com o que a O.R está se tornando. Vox, eu vou salvar sua filha. — Bex  estava sendo sincera, realmente faria de tudo para salvar aquela criança, a Rebecca de tantos anos que lutou contra injustiças ainda estava dentro dela, não era um erro que mudaria tudo.

 Vox segurou a mão de Rebecca em forma de agradecimento, dava para perceber que ele estava quase chorando.

— Isso é lindo, mas como vai fazer isso sozinha? — Krent perguntou, jamais faria uma promessa dessas para alguém, como seu pai de merda alcoólatra diria promessa é dívida.

— Para de ser estraga momento. Mas é mesmo, como vai fazer isso? — Se intrometeu Zia, fazia muito tempo que ela não via alguém tentando ajudar sem receber nada em troca.
Bex virou para ficar a frente deles, olhou para Zia, Roy, Krent e sorriu.

— A resposta é não. — Roy cruzou os braços.
— Nem ouviu minha proposta. — Bex colocou as mãos na cintura.
— Fale. — Roy apenas levantou as sobrancelhas.
— Roy, você já ouviu falar do armamento super avançado que Ludo possuí? — Bex sugeriu com um sorriso de lado.
— Prossiga.

— Se for conosco, darei as instruções para o arsenal de Ludo e qualquer arma que quiser será sua. O que me diz? 

Roy parecia analisar a proposta, por fim, apenas deu de ombros e acenou positivamente.
— Já vocês dois, bom estavam roubando cargas, deve estar precisando de dinheiro, certo?
— Sim. — Zia e Krent falaram juntos.

— O Império Ludiano é um dos mais ricos da história. Se forem conosco, darei todas as informações para acessarem as riquezas de Ludo, podem enviar para suas contas e ficaram ricos! E aí? — Rebecca juntou as mãos em empolgação.

— Aceitamos. — Eles falaram juntos. Bex agradeceu mentalmente por todos terem aceitado.
— Ótimo! Vamos para o planeta 000789, precisamos da minha nave. — Rebecca vai até o painel de controle ligando a nave, todos se acomodam.

 Alguns minutos depois, tentando se esconder da polícia, os cinco chegam até a nave de Bex, que estava invisível, a princípio, ninguém entendeu, mas logo a nave surgiu em suas frentes.

— Nave legal. Como conseguiu? — perguntou Krent, seus olhos corriam por toda a nave.
— Comprei há alguns anos. Muito bem, todo mundo de cinto. — Bex os apressou pra que eles se sentassem.

— Rebecca, vamos precisar de armas. — disse Roy, colocando o cinto.

— Eu sei, nós vamos até uma amiga, ela consegue armas pra gente. — Bex apertava os comandos da nave, as luzes foram acendendo um por uma, e o som do motor ligando.

— E também de roupas. Estamos com roupas de presídio. — Zia apontou para seu macacão laranja.

— Claro, roupas também. Essa amiga tem de tudo. — Bex deu de ombros. A nave levantou voo.
— Ah, seria bom termos um líder. — sugeriu Vox.
— Eu voto em mim. — Roy levantou as mãos.
— Eu voto na Rebecca. — disse Zia.

— Eu também voto na Rebecca. — completa Krent.
— Eu também. — acrescenta Vox.
— Como estamos sobre a federação democrática, Roy, eu sou a líder. Tem algo contra? —   Rebecca perguntou, olhou para Roy por cima do ombro.

— Não, capitã. — Roy revirou os olhos, murmurou um puxa-sacos.
— Capitã. Combina com ela. — disse Krent.
— Capitã Rebecca Hantten. Soa bem. — Vox sorriu.
— Vocês podem me chamar de Bex. — Seus olhos estavam focados na rota que a nave precisava percorrer.

— Quem te deu esse apelido? — perguntou Roy, ajeitou o cinto sobre seu corpo, parecia apertado.
— Eu mesma, sempre achei meu nome muito grande. Bex rápido e prático. Então ficou. — Ela apenas deu de ombros enquanto traçava a rota para Jane.
— Vamos logo até sua amiga, Bex. Espero que ela tenha algo pra gente comer. — disse Krent, colocando a mão na barriga.

 Jane Mendyn morava em outra galáxia, e para chegar até ela demorava, Bex estava pilotando, ouvia Krent e Roy discutirem sobre algo que eles viram na prisão, Zia ouvia música e Vox estava olhando pela janela, Bex podia ver a tristeza no rosto dele.

— Vox, você está bem? Quer alguma coisa? — Ela perguntou.
— Estou bem, Bex. — O homem laranja sorriu fraco.
— Eu estou com vergonha de perguntar... — Rebecca desviou o olhar de Vox.
— Simples, só não perguntar. — Interrompeu Roy, enquanto olhava o teto.
— Então, Vox, posso perguntar uma coisa íntima? — Como de costume, Bex ignorou o comentário do contrabandista.
— Claro, à vontade. — Vox ajeitou sua postura.

— Como Ludo destruiu seu planeta? — Bex não sabia o motivo que estava querendo saber isso, já que conhecia os métodos de Ludo, porém, sentia que seu novo amigo precisava falar sobre o que aconteceu com alguém, ele perdeu tudo.
Vox parou por um segundo, mas depois prosseguiu.

— Ele fez praticamente uma lavagem cerebral no meu povo, quando eu vi, todos já estavam dizendo coisas sem sentido. Ele usou a fé para manipular elas, passando uma imagem preconceituosa de um Deus, colocou uns contra os outros, fazia questão de mostrar que determinado grupo valia mais que outro, com ódio e discriminação meu povo começou a guerrear entre si, eu não consegui parar aquilo. Falhei com a minha responsabilidade de governante, depois ele apareceu como salvador da pátria dizendo ter a solução para todos os problemas. Ele destruiu tudo. Matou até aqueles que, de certo modo, apoiava. A classe superior. Quando eu pensei que não podia piorar, Ludo matou minha esposa e levou a minha filha... eu não pude fazer nada. — Vox explicou. Silêncio.

— O que me importa agora é o bem-estar na minha filha, ela é a única coisa que restou, eu ainda ouvi quem defende ele, dizendo que a mídia manipula a imagem dele. Isso é tão triste. — continuou Vox. Os outros sentiram todo o peso de perder tudo, cada um deles já perdeu muito na vida, por isso, se identificaram um com outros, eram iguais.

— Sinto muito, Vox, eu perdi alguém pra Ludo também. Era o antigo líder da O.R, ele foi um pai pra mim. Penso que eu tive a oportunidade de acabar com Ludo com um laser, mas deixei a raiva falar mais alto e perdi a oportunidade. Se eu tivesse feito o meu trabalho direito Mirah poderia estar vivo, penso nisso diariamente. — Bex apertou o volante, as lembranças daquela época, de quando Mirah estava vivo vinham como uma avalanche em sua mente.

— Não se preocupem os dois, agora nós vamos acabar com ele. Ludo que nos aguarde! — Zia sorriu, colocou a mão no ombro de Vox que sorriu para a bela jovem, embora tudo que já passou Zia era muito gentil.
— Obrigado, Zia. Vocês são os únicos dispostos a me ajudar, obrigado a todos. — Vox olhou para cada um no lugar e sorriu.

São igualmente quebrados, deve ser por isso que se encontraram.

Entre As Estrelas | CompletoOnde histórias criam vida. Descubra agora