Capítulo 3

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Christin

Eu estava em um canto bebericando uma bebida que eu não sabia ao certo o que era. Simon me deu e eu apenas aceitei. Ele é meu melhor amigo, não me faria mal. Meu único amigo, na verdade.
Eu nunca ia a festas. Mas era o aniversário de Simon. Eu não tinha a opção de ir ou não.
Estava levando o copo a boca quando escutei meu nome vir de algum lugar, que eu não sabia ao certo onde era. As pessoas sabiam meu nome? Aparentemente, sim. Só poderia ser coisa de Simon.
Levei um susto quando, do nada, um garoto que eu nunca tinha visto apareceu na minha frente, com o celular nas mãos.
- Parece que a excluída da escola têm mais vida social do que imaginavamos! - Ele disse, fazendo a festa toda rir.
- Não vai contar os detalhes para gente, Christin? Compartilha seus dotes com a gente, vai! - Todos riram mais uma vez.
Não era possível que isso estivesse acontecendo... Não, não era isso, não podia ser...
- Como assim? Do que vocês estão falando? - Perguntei, suando frio, com medo da resposta.
- Você não sabe? Olha, só! Esqueceu, foi? Deixa que a gente te mostra. - O menino disse, me entregando o celular e rindo, com malícia nos olhos.
Peguei o celular da mão dele. Respirei fundo e baixei os olhos para a tela.
- Como você conseguiu isso? - Perguntei para o garoto, jogando o celular nele.
- Bom, isso não vem ao caso. Queremos ver você reprodizir o video aqui para gente! - Ele zombou, fazendo algumas pessoas rirem e alguns garotos vibrarem.
- VÃO SE FODER! - Gritei, colocando o dedo do meio para todos, ao mesmo tempo em que ia até a saida.
Enquanto eu saía, meus olhos foram até uma menina que eu já tinha visto alguma vez na escola. Ela não parecia achar nada engraçado. Parecia estar preocupada; com pena.
Esqueci isso e peguei meu celular. Precisava ligar para meu motorista. Eu estava saindo bem mais cedo do que o combinado da festa.
Sentei na calçada para esperar por ele. Segurei o choro o máximo que pude, tentando não pensar em nada do que havia acontecido. Eu não poderia chorar, não ali. Uma lágrima acabou por vencer todo meu esforço. Alguns segundos depois, Tony chegou.

                                 ***

O caminho parece ter demorado uma eternidade, mas chegamos.
Desci do carro correndo, sem nem conseguir me despedir e agradecer a Tony. Mas não podia me preocupar com isso; tinha problemas muito maiores no momento.
Entrei em casa, tirei os sapatos e fui o mais rápido que pude para meu quarto.
- Chistin! Christin! - Veio correndo em minha direção e parando em minha frente, meu irmãozinho, Noah. - Quer montar um quebra-cabeça comigo? Papai comprou um de mil peças!
Olhei para meu pai, sentado na sala, com um copo de wisk nas mãos. Ele ria de alguma coisa que minha mãe havia falado. Eu não podia contar nada para eles no momento, estavam tão felizes.
- Desculpa, Noah. Não estou muito bem. Amanhã eu monto com você, tudo bem? - Eu falei, dando um beijo em sua testa.
- Tudo bem. - Noah parecia realmente muito triste. Isso só fez eu me sentir ainda mais mal.
Subi até meu quarto. Joguei minha bolsa no chão (minha mãe me obrigou a levar!) e fui direto para minha cama.
Abracei meus joelhos e chorei o máximo que pude. Solucei. Enquanto chorava, só consegui repassar a história inteira em minha cabeça, mais uma vez.
Eu estudava em outra escola, era uma pessoa totalmente diferente. A garota mais popular da escola (tenho calafrios só de lembrar). Eu era feliz daquele jeito. Ou achava que era.
Comecei a namorar Jonh no início do 9° ano. Ele era um cara incrível. Tudo que eu sempre sonhei (é, eu sonhava com um "garoto perfeito", eca!).
Já namoravamos há alguns meses quando Jonh fez uma pergunta. O começo do meu "inferno na terra".
- Você já transou com alguém, Chris? - Nunca mais aceitei que alguém me chamasse assim depois disso.
- Bem... É, não. Nunca. Mas, por que isso agora, Jonh?
- Ah, não sei, Chris. Você não acha que estamos juntos a muito tempo para não termos feito nada ainda?
- É, eu acho... - Falei totalmente o contrário do que realmente achava.
Depois desse dia, o assunto morreu. Nunca mais falamos nisso.
Um dia, depois da aula, fomos para a casa de Jonh. Os pais dele haviam viajado, então, estaríamos sozinhos.
Comemos e fomos ver um filme na sala. Nem haviamos chegado na metade do filme e já estavamos nos beijando.
Quando já estavamos na cama dele, Jonh parou e se levantou, me encarando, com o olhar mais malicíoso que eu já tinha visto.
- O que aconteceu, Jonh? Fiz alguma coisa errada? - Perguntei, sentando na cama, com vergonha da minha falta de experiência.
- Não, muito pelo contrário. - Falou, indo em direção a sua escrivaninha. - Só pensei que, como é nossa primeira vez, poderíamos deixar o momento registrado. O que acha? - Ele pegou seu celular e o balançou, me mostrando.
- Tipo, gravando um vídeo?
- Claro! Muitos casais fazem isso, sabia? - Ele se sentou ao meu lado na cama. - Todo adolescente já fez ou vai fazer um vídeo transando, Chris.
- É, talvez... Mas, não sei se é uma boa idéia, Jonh. Já pensou se o vídeo acaba na internet? - Falei, deixando transparecer minha preocupação. - Estaríamos fo...
- Não vai vazar, Chris. Vai ser uma coisa só nossa; um segredo nosso. - Ele se levantou e olhou fixamente nos meus olhos. - Você não confia em mim? É isso?
Então, eu fiz a pior escolha da minha vida inteira.
- Claro que confio, Jonh! - Exclamei, indo na direção dele e pegando sua mão. Eu o amava e ele me amava também. O que poderia dar errado? - Se você diz que vai ser só nosso... Eu aceito. - Falei por fim, me fazendo acreditar que estava tudo bem.
Gravamos o vídeo. E foi tudo incrível, perfeito, como eu sempre achei que ia ser. Naquele momento, foi.
Ficamos juntos por mais dois meses, mas nunca mais transamos.
Não tínhamos mais química; não éramos mais um casal. Por mais que doesse em mim, terminei tudo com ele. Jonh surtou.
Uma semana depois, o vídeo estava em todos os celulares da escola.
Bom, sofri, como nunca havia pensado que sofreria.
Mudei de cidade, de escola. Mudei, literalmente, de vida. E achei que depois de tanto tempo, estava livre de todo aquele pesadelo. Achei errado.
De volta a realidade, tentei parar de pensar naquilo tudo. E falhei.
Eu sempre sou tão durona na escola, tentando me blindar dos problemas (mas só arrumando novos). Mas é tudo por fora. Eu sou tão... Fraca.
Eu tenho consciência de que não sou a errada na história. Jonh é o único errado. Ponto final. Mas como doía ter tudo aquilo de volta. Todos aqueles sentimentos. Todas aquelas lágrimas. Toda aquela dor. Todo aquele vídeo.
Chorei por mais um bom tempo até tudo se acalmar dentro de mim. Então, comecei a pensar nos fatos. Como aquele vídeo havia retornado? Eu tinha ido até a delegacia de crimes virtuais e eles haviam retirado o vídeo da internet, eles me garantiram isso. Mas nunca podemos confiar na internet. Uma coisa que é colocada lá, nunca mais sai.
Tentei dormir, mas não consegui. Eu sabia do que precisava.
Estava saindo do quarto, quando percebi que não tinha tirado a roupa da festa. Coloquei meu pijama, e sai bem devagar, tentando não acordar ninguem.
Abri a porta do quarto de Noah, tentando não fazer barulho. Como eu já esperava, ele estava dormindo, abraçado em sua baleia de pelúcia.
Caminhei bem devagar até a cama, e o observei mais um pouco. Noah, apesar de ter 11 anos, era meu porto seguro. Eu não podia falar de todos os meus problemas com ele, não queria estragar sua inocência. Mas, só de ele estar ali, me abraçando, com aqueles bracinhos tão pequenos perto dos meus, e dizendo que tudo ia ficar bem, já bastava. Ele me fazia acreditar que isso era verdade. Eu iria protege-lo o máximo que pudesse.
Deitei ao lado dele. Ele nem se mexeu. Virei para o lado oposto ao dele, encolhi minhas pernas e chorei até pegar no sono.
Quando acordei, vi que já era de manhã. Noah ainda dormia. Tentei voltar a dormir, já que era domingo e não tinha escola. Como não consegui, resolvi tomar um banho e tirar todo aquele peso da noite anterior.
Quando desci para o café, meus pais já estavam sentados a mesa. Minha mãe me viu chegar e me deu um sorriso.
- Nossa, filha! Você está péssima! - Ela disse, assim que me sentei. - Aconteceu alguma coisa ontem? Quer conversar?
- Muito obrigada pelo elogio, mãe. - Brinquei, forçando uma risada. - É ressaca da festa de ontem, mãe. Está tudo bem. Depois conversamos. - Menti, tentando parecer confiante.
- Mas você nem é de beber, Christin! - Disse meu pai, entrando no assunto.
- Descobrindo coisas novas, pai. - Falei, colocando um pedaço de bolo no prato. - Como foi a noite de vocês?
- Boa. Montamos um quebra-cabeça com o Noah. Nada demais. - Falou meu pai, tomando um gole de café.
Não consegui comer nem um pedaço do bolo no meu prato. Aparentemente, meus pais não repararam em minha falta de fome, pois mudaram de assunto.
- Algum plano para hoje a tarde, filha? - Perguntou minha mãe. - Vamos levar Noah no aquário esta tarde. Ele não para de reclamar que quer ver as baleias. - Ela rio.
- Na verdade, sim. Estou planejando ficar no meu quarto o dia todo, ouvindo música e lendo. Ótimos planos, não acham? - Debochei. - Podem ir com ele, eu vou ficar em casa hoje.
- Ok, tudo bem, então. - Ela assentiu, levando sua xicára de chá até a boca.
Levantei da mesa, com a intenção de ir para meu quarto. Já estava saindo da sala de jantar quando lembrei de uma coisa. Dei meia volta e fui até minha mãe.
- Quando vocês voltarem, vai até meu quarto, por favor? - Pedi, cochichando em seu ouvido.
- Claro, amor. Pode deixar. - Ela disse, se virando na cadeira e beijando minha testa.
Fiquei o resto do dia no meu quarto. Simon havia me ligado várias vezes, mas eu não queria ver ninguém hoje. Se fosse possível, não queria ver ninguém nunca mais.
Estava ouvindo música, quando minha mãe bateu de leve na porta, a abrindo e colocando só a cabeça dentro do quarto.
- Posso entrar?
- Claro, mãe. - Disse, me levantando da cama, desligando a música e me sentando de volta.
Ela se sentou ao meu lado e colocou a mão na minha perna.
- O que foi, filha? Sei que aconteceu alguma coisa. Conheço você. Você nunca me ped...
- O vídeo, mãe. Todo mundo da escola viu. Todo mundo já sabe. De novo. - Contei, com a cabeça baixa, as lágrimas já escorrendo.
- Oh, meu amor. - Mamãe me abraçou. - Como isso foi acontecer?
- Não sei, mãe. - Falei, baixinho. - A senhora vai me dar um sermão? Dizer como fui irresponsável? Se for pra...
- Não, filha. Eu já falei que a culpa não foi sua. Não vou xingar você. - Ela me abraçou mais uma vez.
- Dorme aqui comigo hoje, mãe? - Pedi, choramingando. - Estou precisando tanto da senhora...
- Claro que durmo, filha. - Ela falou, já deitando ao meu lado, me abraçando e passando a mão por meus cabelos. Ficamos assim até eu dormir. Não sei se ela realmente dormiu na minha cama. Quando acordei com o despertador, ela já não estava ao meu lado.
Lembrei que hoje era segunda. Pensei em não ir a escola, mas eu tinha prova de matemática.
Me arrumei, contrariada, peguei minha mochila e desci para o café.

                                ***

Logo no estacionamento da escola, notei algumas meninas rindo. Seria um dia bem difícil.
Fui até meu armário, com a cabeça baixa, tentando passar despercebida, como de costume. Não consegui.
- Mas quem diria! Nossa querida Christin apareceu hoje! Veio dar uma aulinha para a gente, foi? - Um garoto zombou, passando por mim e rindo.
- Pergunta pra tua mãe, ridículo. Ela vai te falar como a aula foi boa. - Falei, tentando fazer parecer que eu não ligava pra nada daquilo. 
E os comentários seguiram pela primeira aula inteira.
Chegou um momento que não aguentei mais. Quando o sinal tocou para a penúltima aula, fui o mais rápido que pude para o banheiro. Pretendia me esconder lá até o última pessoa sair da escola.
Notei uma menina me seguindo. A mesma que me olhava estranho na festa. Não dei bola. Ela devia estar indo para outro lugar.
Entrei na primeira cabine que vi no banheiro. O banheiro estava vazio, ainda bem. Tranquei a porta da cabine e me sentei na tampa do vaso sanitário. Tentei segurar as lágrimas, mas não consegui. Aquele pesadelo todo estava acontecendo de novo. Eu iria ter que mudar minha vida inteira mais uma vez? Logo agora, que estava indo tudo tão bem. Eu não...
Tive meus pensamentos interrompidos por uma batida na porta da cabine.
- Oi? Tudo bem com você? - A menina perguntou, com a voz doce e calma. - Meu nome é Krystal. Eu vi você corren...
Abri a porta e a olhei o mais séria que pude. Não me contive em olhar de cima a baixo para ela. Têm cabelos médios e castanhos bem claros; é levemente bronzeada, como se pegasse sol o ano todo; não é muito alta. Eu já havia reparado nela antes, no dia da festa, mas as roupas dela continuam a me dar enjoos. Se tiver calor? Ela está de saia. Frio? De saia. Talvez seja muito calor sempre na cabeça dela, né? E, para quê tantas cores?! Parece que um unicórnio vomitou nela! Será que ela não consegue usar roupas normais nunca?!
Devo ter ficado olhando para ela um bom tempo, pois, quando voltei a realidade, ela me olhava com um cara... Bem, não muito boa.
- O que você quer garota? - Perguntei, enxugando as lágrimas e voltando com minha postura de durona.

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