Krystal
Quando acordei, olhei pela janela. Hoje é um daqueles dias lindos: céu bem azul, quase sem nuvens; calor na medida certa. Coisa rara em Louisiana. Um dia que faz a gente ficar feliz logo de cara, sabe? Bom, eu não fiquei.
Acordei triste; como já era de costume. Se quem me acompanha nas redes sociais, e até os meus amigos mais próximos, soubessem como realmente minha vida é...
Tive meus pensamentos interrompidos pelos gritos da minha mãe. Qual seria o motivo dos gritos dessa vez?
Me levantei e logo descobri o motivo da briga.
- JÁ CHEGA, MOLLY! Você NÃO vai com esse vestido para a escola. Ponto final!
- Mas mãe! Você já viu as roupas que a Krystal vai para a escola? - Se defendeu minha irmã mais nova.
- Ela tem 16 anos e está no Ensino Médio, Molly! Já chega! Você tem 12 anos e eu ainda mando em você! Não vai usar o vestido, e não se fala mais nisso!
Observei minha irmã passar por mim e colocar a língua. Ri e fui para a mesa tomar café antes da escola.
- Onde está a Amber, mãe? Ainda dormindo? - Perguntei, colocando um pedaço de pão na boca.
Amber é minha irmã mais velha. Talvez a única pessoa que me entenda de verdade. Apesar de ter 23 anos, ela ainda mora com a gente (não vou negar, eu acho isso ótimo; não sei o que faria nessa casa sem ela).
- Saiu mais cedo para procurar um emprego. Sua irmã sempre tão esforçada... Deveria aprender alguma coisa com ela, Krystal. - Respondeu minha doce e gentil mãe.
- Como se a senhora se esforçasse muito nessa vida. - Respondi, mais pra mim mesma do que para ela.
- Disse alguma coisa? - Respondeu, com aquele olhar crucificador que só ela tem.
- Cedo demais para brigas, não acha, mamãe? - Tentei evitar mais uma de nossas tão frequentes brigas. São só 07:00h da manhã! - Vou me trocar para não chegar atrasada na escola.- Disse, já me levantando da mesa e pegando mais um pedaço de pão.
- Vai acabar ficando gigante se continuar comendo tanto assim, Krystal! - Gritou minha mãe.
Revirei os olhos, já subindo as escadas.
***
Cheguei na na Universidade Loyola, minha tão querida e amada escola. Bom, tinha tudo para ser, mas não era bem assim.
Eu, a garota mais linda e popular da escola; queridinha e amada por todos, inclusive pelos professores. Famosa nas redes sociais. Convidada obrigatória para uma festa fazer sucesso. A vida dos sonhos, né? Talvez seja, mas a minha não chegava nem perto disso.
- Krysta! Até que enfim achei você! - Falou, quase chorando de felicidade minha amiga mais dramática, Katherine.
- Acabei de chegar, Keth. Qual a novidade de hoje?
- Ai, Krys, você nem imagina...!
Entramos na universidade enquanto ela me atualizava de tudo que aconteceu no final de semana.
A Katherine não é má pessoa, juro que não, mas é tipo aquela vizinha fofoqueira que todo mundo tem. Mas têm um bom coração. Não é isso que importa?
- Cadê a Ruby? Não vai vir hoje de novo? - Perguntei, enquanto guardava meus cadernos no meu armário.
A Ruby é minha outra amiga. Tem a cabeça mais no lugar, eu diria. É muito mais centrada do que a Keth. Mas tem um "defeito" (bom, eu considero um defeito) dela que me deixa, digamos, um pouco irritada: sofre (nivel máximo) por garotos. Ninguem merece, vai! Desde quando homem merece que alguma muher sofra por ele?
- Não. Acredita que ela ainda 'tá' mal por causa do ex?
Viu só? Eu não disse?
- Eu nunca vou entender como ela sofre por um gar... - Tive minha frase interrompida pelo Ethan, meu melhor amigo. Como eu ia dizer que garotos não prestam na frente do Ethan? Logo dele?
- Ethan! - Disse, quase dando pulinhos de alegria e abraçando ele.
- Oi, Krys. - Ele retribuiu o abraço, meio sem jeito. Ele morre de vergonha de demonstrar afeto em público, mas o que eu podia fazer? - Isso tudo é saudade? Mas a gente ficou só dois dias sem se ver! - Disse, rindo.
- Claro que é! Como você quer que eu sobreviva sem você? - Respondi, fazendo drama. - Você é meu melhor amigo de todo esse mundo Ethan! - Disse, apertando as bochechas dele. Ah! Como eu amo fazer isso!
- Ai, Krys, só você mesmo. - Ele respondeu, rindo e balançando a cabeça.
O sinal tocou e fomos rumo a mais um dia naquele que era um dos meus piores pesadelos.
***
- Vai fazer o que depois da aula, Krys? - Perguntou Kath, me tirando dos meus pensamentos e me trazendo de volta a realidade. - Algum problema se eu ir almoçar na sua casa hoje? O clima 'tá' meio tenso lá em casa. Meus pais brigaram de novo... - Disse, enquanto saíamos da sala, em direção ao estacionamento.
- Ah, sim. Claro que pode. - Eu disse, meio contrariada, mas eu não podia dizer que não. - Deixa só eu ligar pra minha tia pra ver se tudo bem. Você sabe, né, agora que minha mãe 'tá' trabalhando, ela cuida de tudo lá em casa. - Falei, rindo (de nervoso).
É, eu minto para as minhas amigas sobre onde e com quem eu moro.
Tia Leah é rica, riquissíma. E a gente, bem... Dá pra sobreviver. Então, eu tive a idéia brilhante de falar pra todo mundo que eu, minha mãe e minhas irmãs moramos com minha tia. E tia Leah, louca do jeito que é, aceitou me ajudar a mentir.
Liguei para minha tia. Ela, óbvio, disse que não tinha problema nenhum a Kath ir almoçar lá.
- Ela falou que tudo bem, Kath! - Fingi comemorar.
Eu odiava ter que mentir para as minhas amigas e para o Ethan sobre quem eu realmente era. Mas, como a garota mais popular da escola poderia ser de classe média? Ruby, Katherine e Ethan eram ricos. Será que eles iam me amar do mesmo jeito se soubessem da verdade? Bom, eu não queria saber...
- Aí! - Exclamei, quando uma garota que eu não lembrava o nome esbarrou em mim. - Olha por onde anda, menina! 'Tá' cega? - Falei, em um tom mais alto que o habitual. Qual é mesmo o nome dela...? Lembrei! É Christin!
- Ah, vai se ferrar, garota! - Ela falou e continuou caminhando, quase correndo.
- É cada pessoa que tem nessa escola... Olha, Keth, estou começando a achar que nós somos as únicas normais aqui. - Falei, rindo, enquanto entravámos no meu carro, rumo a "minha" casa.
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Just Hold My Hand
RomanceDuas garotas, duas realidades totalmente diferentes: Krystal, a garota mais desejada da Universidade Loyola, a típica patricinha, o centro do universo; Christin, rebelde, tem apenas um amigo, Simon. Ela, obviamente, a mais odiada pelos professores. ...