Christin
Fiquei observando a cena por mais alguns minutos. O quarto estava todo em pedaços. Havia vidro quebrado (que eu nem sabia de onde havia saído), fotos, joias..., espalhados por todo lado. Olhei ao redor e vi minha mãe recostada na parede, perto da porta. Mesmo estando um pouco longe dela, consegui ouvir sua respiração; ofegante, pesada. Pude ver, entre tantas outras, a expressão de medo e de tristeza em seu rosto. Tanto ela quanto eu sabíamos como aquilo acabaria.
- O que... O que aconteceu aqui? - Perguntei, quebrando o silêncio.
Mamãe e papai se olharam, esperando para ver quem teria coragem de responder minha pergunta.
- Nós... É... Discutimos. E você sabe o motivo... - Mamãe, finalmente, se pronunciou, com o olhar ainda no quarto destruído.
Abri minha boca para fazer outra pergunta, mas a fechei novamente quando senti alguma coisa encostar em minha perna. Virei a cabeça para trás e olhei para baixo, vi que era Noah. Droga!
Antes que eu pudesse tirá-lo dali, ele entrou no quarto, passou os olhos por todos os cantos e parou em nossa mãe.
- Mamãe, você está bem?! - Ele perguntou, correndo até ela e abraçando-a.
- Estou, filho. Não se preocupe. - Ela respondeu, passando a mão em seu cabelo. - Eu imagino que sua irmã tenha dito para você ficar no quarto, Noah. Não disse? - Ela levantou a cabeça dele, para que pudesse ver seu rosto. Arqueou uma sobrancelha e olhou séria para Noah.
- Ela disse, mãe. - Ele balançou a cabeça. - Mas é que... Eu queria ver se estava tudo bem com vocês. E... a Christin bateu a cabeça hoje, mãe. - Ele mudou o assunto, tentando se livrar dos xingamentos que viriam.
- Você bateu a cabeça hoje, filha?! - Minha mãe perguntou, me olhando.
- Não! Eu disse para Noah que minha cabeça está exausta, não que eu a bati. - Fuzilei Noah com o olhar. - Bom, vamos sair do quarto e deixar papai e mamãe conversarem, Noah? - Falei, já caminhando até ele e pegando-o pelos ombros.
Antes de sair do quarto, falei baixinho com minha mãe.
- Se precisar de alguma coisa, me chama, okay?
Ela assentiu e sai junto com Noah do quarto.***
- Oi, mãe. - Falei, entrando em seu quarto e fechando a porta. - Cadê o papai?
Tinha se passado um bom tempo desde que deixei ela e meu pai sozinhos. Noah havia dormido em minha cama; mas eu não consegui dormir. Depois de caminhar muito por meu quarto, resolvi ir ver se estava tudo bem.
Ela bateu na cama, sinalizando para que eu sentasse em seu lado.
- Ele vai dormir fora de casa hoje. Você entende, não é?
- Entendo. - Respondi, sentando ao seu lado. - Não se preocupe comigo, mãe. Vou estar do seu lado em qualquer decisão que você tomar.
- Sinceramente, eu acho que ele não vai voltar mais. - Ela me abraçou, e começou a chorar. Se afastando e enxugando as lágrimas, ela continuou. - Essas brigas já estavam muito cansativas. Eu não aguento mais. Não consigo ter calma dentro da minha própria casa. Isso é muito cansativo. E isso vai ser bom para nós dois. Vamos continuar com uma amizade. Você e Noah vão continuar vendo-o. - Ela pegou minhas mãos e me olhou nos olhos. - Vamos ficar bem, filha. Eu prometo.
- Eu sei disso, mãe. Confio em você.
Nos abraçamos mais uma vez.
- Ah, mãe, vou dormir aqui com você hoje. - Falei, já me deitando. - E nem tente dizer que não.
Ela já havia feito tanta coisa por mim e por Noah. E hoje quem estava precisando de colo era ela. Era o mínimo que eu poderia fazer.***
Quando acordei de manhã, minha mãe, por um milagre, ainda estava dormindo. Me levantei bem devagar para não acorda-lá. Por sorte, ela não acordou.
Fui até meu quarto e vi que Noah também dormia. Peguei uma roupa no armário e fui para o banheiro tomar banho.
Desci para tomar café. Minha mãe já havia acordado e estava sentada a mesa. Ver ela ali, sozinha, me deu um aperto no peito. Mas eu sabia que aquilo era necessário.
- Como você está, mãe? - Perguntei, me sentando e colocando café na caneca. - Dormiu bem?
- Sim, estou bem. E não quero que você perca a atenção nas aulas por causa de tudo que aconteceu ontem, ok?
- Não se preocupe, mãe. Não é esse assunto que vai tirar minha concentração. - Falei, já me levantando da mesa.
- Como assim? Está acontecendo alguma coisa na escola, Christin? - Ela perguntou.
- Quando eu voltar conversamos. Amo você, mãe! Beijo! - Respondi, fechando a porta e saindo.
Tony já me esperava com o carro. Entrei, e fomos para a escola.***
- Qual é a novidade que estão comentando sobre mim hoje? - Perguntei a Simon, me recostando em seu armário, rindo, mas preocupada.
- Acho que agora o assunto morreu, amiga. Ninguém mais vai lembrar, você vai ver.
- Eu duvido, Simon.
Nem havia terminado a frase e alguém passou.
- Vai gravar outro vídeo daqueles quando, em? - Um menino perguntou, rindo.
- Viu só. - Falei para Simon, dando de ombros.
- Vão esquecer sim, Christin! - Ele falou, entrelaçando o braço no meu e me levando para a nossa sala.
- Claro que vão. Mas vai demorar muito tempo ainda.
- Bom, eu vou esperar esse tempo passar junto com você; xingando cada imbecil que te zoar. - Ele disse. - Essa gente toda fala como se nunca tivesse visto um vídeo pôrno antes, né. Pelo amor!
Eu ri. Só o Simon para conseguir me fazer rir daquela situação.
Quando chegamos na sala, o sinal ainda não tinha tocado. Aproveitei para contar a Simon sobre tudo o que havia acontecido ontem a noite.
- Chocado! - Ele exclamou, assim que terminei de contar. - Sempre achei que seus pais fossem o casal perfeito. Nunca consegui nem imaginar uma possível separação dos dois.
- Eles eram. - Eu dei de ombros. - Mas eu não acredito que um casamento possa durar para sempre.
Simon assentiu.
- Mas, como você está com isso tudo? E sua mãe?
- Na medida do possível, estamos bem. Só estou preocupada com Noah. Ele vai sofrer muito com tudo isso.
- Você é uma irmã maravilhosa, amiga! Vai cuidar bem dele. - Ele disse, me olhando e sorrindo.
- Bom dia! - Professor Xavier entrou na sala, carregando uma pilha de papéis nas mãos. - Dia de teste surpresa!
A sala toda foi tomada por burburinhos de desaprovação. Professor Xavier levantou a mãos, e a sala ficou em silêncio novamente.
- Se vocês seguissem meus conselhos e estudasse, não estariam preocupados. - Ele disse, pegando alguns papeis da pilha e começando a entregá-los. - Agora, silêncio. Vamos começar.
Revirei os olhos. Não havia estudado nada nessa última semana. Estava ferrada.
O teste acabou não sendo tão ruim quanto eu havia pensado.
O sinal tocou e fui até meu armário, pegar os livros da próxima aula. Teria mais um dia longo pela frente.***
Krystal
- Krystal? Você está me ouvindo?
- Ãhn... Não, Ethan, desculpe. Sobre o que você estava falando?
Depois da conversa com Christin no banheiro, não consegui mais pensar em outra coisa. Eu até entendia o motivo de ela me tratar daquele jeito. Mas, eu só queria ajudar ela... Queria que ela tivesse, pelo menos, me ouvido. Mas eu já havia pensado em uma forma de conversar com ela.
- Sobre o teste do Xavier... - O sinal tocou e Ethan parou de falar. - Ah, deixa 'pra' lá. Vamos, Krys. Estou morrendo de fome.
- Isso foi um convite para almoçar? - Perguntei, pegando minha mochila e saindo da sala junto com Ethan.
- Se você quiser ir al...
Vi Christin passar por mim e a agarrei pelo braço.
- Você ficou bem depois daquele dia no banheiro? - Perguntei, olhando para ela. - Não consegui falar mais com você.
- Escuta aqui, Krystal. - Ela falou, puxando o braço de volta e me olhando, séria. - Eu não sei o que você está pensando, e nem quero saber. Mas, se você acha que pode ficar me parando no corredor, se enganou. Nós não somos amigas. E nunca vamos ser.
Observei ela seguir seu caminho, bufando.
- O que você fez para aquela garota, Krys? - Perguntou Ethan, assustado.
- Nada. A gente só conversou. Talvez ela não esteja em um bom dia. - Respondi, ainda olhando para ela. - Eu preciso fazer uma coisa, Ethan. Pode ir, eu te encontro no carro. - Falei, dando um beijo na bochecha dele e saindo.
Precisava achar uma pessoa.
- Simon! Até que enfim achei você!
- Oi... - Ele respondeu, confuso, enquanto fechava o armário. - Precisa de alguma coisa?
- Sim! Eu... - Pensei na melhor desculpa que poderia dar a ele. - Eu estou com um caderno da Christin. E não tenho o endereço dela para entregar.
- Nem sabia que você e a Christin se conheciam... Bem, você não pode esperar até amanhã? Ou pedir para ela por mensagem?
- Não! - Exclamei. Percebi que havia exagerado um pouco e demonstrado meu desespero em estar mentindo. - Eu também preciso conversar com ela. Só não queria deixar ela preocupada, sabe...
Ele me encarou, desconfiado. Merda! Ele não havia caído. Iria dizer para tod...
- Tudo bem. - Ele deu de ombros. - Eu vou anotar para você aqui, calma.
Suspirei, aliviada. Sabia que não era nada demais, mas a sensação de mentir não era legal. Mesmo que fosse por um bom motivo.
Peguei o endereço e fui para o estacionamento, encontar Ethan e ir almoçar.
Depois de comer, iria até a casa de Christin. Precisava saber o motivo de ela me tratar assim. Só esperava que ela estivesse em casa.
Quando terminamos de almoçar, deixei Ethan em casa e fui para a casa de Christin.
Já na frente da casa dela, me preparei dentro do carro. Desci, respirei fundo, e toquei a campanhinha.
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Just Hold My Hand
RomanceDuas garotas, duas realidades totalmente diferentes: Krystal, a garota mais desejada da Universidade Loyola, a típica patricinha, o centro do universo; Christin, rebelde, tem apenas um amigo, Simon. Ela, obviamente, a mais odiada pelos professores. ...