Capítulo 4

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Christin

- Precisa ser tão grossa?! - Ela falou, com aquela voz irritante que ela têm  - Eu percebi que você estava nervosa; angustiada. Eu não gostei do que fizeram com você. Só me coloquei em seu lugar, sabe.
- Muito legal da sua parte. - Falei, em tom de deboche.
- Olha, eu vim aqui para tentar te ajudar e ver se você estava bem. Não foi para você ficar debochando da minha cara. - Ela disse, arrumando a mochila nas costas. - Se você quiser conversar, tudo bem, eu vou te ouvir. Mas se é para ficar de deboche, eu vou embora. Só acho que não vamos conseguir ter nenhuma conversa com você dentro dessa cabine e eu na sua frente. - Ela completou, apontando para mim e dando um sorriso de leve.
- Verdade. - Digo, também sorrindo.
Abro toda a porta e saio da cabine. Caminho um pouco e me sento na bancada de mármore; em um dos vãos entre as cinco pias do banheiro. Krystal me segue e se recosta na bancada.
Ficamos um tempinho em silêncio, até que ela, finalmente, falou alguma coisa.
- E então? Quer conversar?
Levanto a cabeça e olho nos olhos dela. Começo a contar tudo que aconteceu, ate que percebo que não devia fazer isso.
- Mas, ué?! Por que estou contando para você? Nem somos amigas! Quase nem sequer conhecidas, e eu desabafando!
- Mas eu posso tentar te ajudar, se quiser, e...
Interrompo ela, descendo da bancada e chegando um pouco mais perto, mas não perto ao ponto de sentir sua respiração.
- Garota, entenda uma coisa, okay? Você não pode me ajudar. Aliás, ninguém pode. E você nem deveria se achar no direito de tal coisa. Esquece tudo que falei, foram delírios.
Pego minha mochila que ainda estava no chão da cabine e saio sem deixar a mostra qualquer expressão em meu rosto. Bato a porta, mas por causa do vento que corria dentro daquela escola, acaba por se abrir de novo. Aquele vento gelado; aquele vento que trás coisas ruins. Vento que me trouxe de volta as ondas de mentiras e deboches.
Eu sempre tenho que demonstrar que sou forte enquanto ando nos corredores. Aqueles olhares todos voltados para mim... Vejo o quão ridícula a sociedade é! Zoa a menina que confiou no garoto e que foi a vitíma na história; mas não zoa a atitude mesquinha e infantil dele de ter postado o vídeo.
Caminho até meu armário. Simon já estava lá, me esperando.
- Christin! Onde você estava, menina?! Enfim, você viu sobre o que estão comentando agora?
Simon parecia preocupado, e eu fiquei também.
- Não vi. O que aconteceu de ruim agora?
Simon me mostra em seu celular uma página que fizeram. Tudo apenas para me zoar; usando fotos íntimas e, claro, o video.
- COMO ASSIM?! COMO CONSEGUIRAM MINHAS FOTOS?! - Falo, em um tom bem alto, onde todos em minha volta riem; não parecendo nem um pouco surpresos com meu desespero.
- Perece que seu ex vazou as fotos junto com o vídeo. Agora que o vídeo resurgiu, as fotos vieram junto. - Ele falou, guardando de novo o celular no bolso. - Ele quis realmente acabar com sua reputação, né? - Ele balançou a cabeça. - Ele fodeu totalmente sua vida!
- Que reputação, Simon? Eu nunca tive! Preferio parecer a menina grossa que não gosta de nada. - Fecho meu armário e me volto novamente para ele. - Aliás, me chamavam de várias coisas né?! Gótica, rockeira... Tudo por causa de roupa preta?! Qual o sentido? Fico admirada!
- São todos loucos! - Ele diz, girando; apontando para todos os cantos do corredor. - Me admiro de você se admirar!
Simon ri, e eu também. Só ele para me fazer rir em tais momentos.
Logo em seguida, bateu o sinal. Estremeci só de pensar em ter que aturar mais uma aula. Enfim, fomos rumo a sala.
Assim que entrei, a sala toda me olhou. Revirei os olhos e caminhei até minha mesa. Simon fez o mesmo.
Parei quando uma garota que eu nunca havia visto na vida agarrou meu braço. Acho que o nome dela é... Ruby, talvez? Bom, não sei. Acho que ela é amiga daquela garota do banheiro (sim, eu me esqueci o nome da menina).
-  Por que você esconde esse corpinho nessas roupas de "machinho", amada? - Ela pergunta, fazendo aspas com os dedos.
- O que eu faço com meu corpo ou uso nele não te diz respeito. - Digo, tirando meu braço da mão dela. - Aliás, que tal cuidar da sua roupa, ein?
- É só um conselho de amiga, more! É que não precisa se vestir de preto só porquê está de luto pelo seu relacionamento que morreu, querida! - Ela ri, em tom de deboche.
Me debruço sobre a mesa, chegando meu rosto tão perto do dela que consegui sentir sua respiração.
- Eu juro... Juro que se você me incomodar de novo, quem vai ficar de luto vão ser as suas amigas por você. - Falo, sussurrando em seu ouvido.
Ela da uma risadinha e continua a lixar as unhas. Parecia não dar a mínima importância.
Já ia saindo, mas vi Simon surgindo atrás de mim. Como ele mesmo diria, louco do jeito que é, ele começou a xingar ela.
- Vai cobra; megera! Só falta botar a linguinha 'pra' fora! Fala do corpo dela por que tem in-ve-ja - Ele fala pausadamente. - Parece um palmito, ridícula! Quem vai dar na sua cara sou eu, viu, amiga! - Ele completa, aumentando o tom de voz.
- Deu, Simon? - Digo, puxando ele para minha mesa. - Ela nem deve ter prestado atenção em você! - Rio.
- Tô nem aí! Que vagabunda! Vem encher o saco em plena manhã! 'Num' tô com paciência 'pra' essas recalcada, não!
- É por isso que eu te amo! Você é incrível - Digo, rindo mais.
Assim que as aulas acabam, vou para minha casa. Longe de todos os olhares que pareciam me consumir; e o esforço que eu fazia pra evitá-los só piorava. Acho que lá pode ser, de alguma forma, meu "porto seguro".

                                  ***

- Oii! - Noah vêm correndo me dar um abraço assim que eu abro a porta. - Até que enfim você chegou, Christin!
- Cheguei, mas estou exausta!
- Você praticou muito esporte hoje? - Pergunta ele, confuso.
- Não, minha cabeça está exausta.
- Você bateu a cabeça?! - Ele diz, apavorado.
- Não, Noah! Calma! - Digo, tranquilizando-o e passando a mão em seu cabelo. - Meu deus, quanta pergunta! - Rio.
Ouço gritos no quarto da minha mãe. Deve ser meu pai brigando com ela de novo por causa de bebidas... Isso está ficando muito frequente, e me assusta!
- Isso está durando a quanto tempo? - Pergunto a Noah, apontando para cima, sinalizando os gritos.
- Faz um tempo já. Mamãe se negou a dar dinheiro para o papai...
Eu ficava muito angustiada em saber que Noah tinha que passar por aquilo. Eu também ficava assustada, mas podia superar. Ele ainda é só uma criança; não devia passar por nada disso.
- Quer ir pro meu quarto? - Pergunto a ele, me abaixando para ficar do seu tamanho.
- Quero... - Ele responde, com a cabeça baixa.
Levo Noah para o meu quarto e fecho a porta, tentando distrái-lo; abafando os gritos e xingamentos.
- Não fique triste com isso, okay? - Digo, sentando na cama. - Se tornou repetitivo. E você sabe que eles vão ficar bem super rápido, né? - Pego as duas mãos dele, forçando-o a olhar para mim. - Eu te amo muito, e sempre vou estar aqui para te proteger.
- Eu sei... Também te amo muito, Christin. - Ele diz, me dando um abraço apertado.
- Quer montar um quebra-cabeças? - Pergunto.
- Sim! Eu sempre quero! - Ele corre para a estante e pega a caixa com as peças.
Sempre tenho um quebra-cabeças em meu quarto; exatamente para esses momentos.
Ele espalha as peças em minha cama, sentando-se de frente para mim.
Ouço o barulho de algo quebrando no quarto de minha mãe. O barulho veio acompanhado de gritos.
- Está tudo bem, ok? - Digo para Noah, que já me olhava, assustado. - Eu vou ver o que aconteceu. Mas você não sai daqui, 'tá'?
Assim que Noah assentiu, saí do quarto e fui até o quarto dos meus pais.
Parei na porta do quarto, atordoada.
- MEU DEUS! PAI, VOCÊ ESTÁ LOUCO?!
Não consegui dizer mais nenhuma palavra; apavorada com a cena que vi.

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