Fora da sala preparatória vários estudantes bêbados amontoavam-se dentro do porão – de longe o maior já utilizado –, gritando uns com os outros e fazendo suas apostas com Alex. O cronograma da noite era constituído por catorze lutas, sendo elas divididas entre introdutórias, decisivas (semifinais) e finais.
As primeiras lutas passam rapidamente, os lutadores não tão experientes contra aqueles mais fortes. Os torcedores ficam cada vez mais animados para presenciar a grande briga final. Ao passo em que Adam passava (finalmente!) para as finais pela primeira vez, Charlie perguntava-se quieta o porquê de seu pai ter faltado ao jantar marcado. Sua amiga, Helena, arrumava seus longos cabelos em duas tranças que quase chegavam ao quadril, iguais às que sempre usava pela parte da manhã.
– Ele vai aparecer. – Incentiva Helena.
– Não estou pensando nele.
– Está sim. E quando ele entrar pela porta do restaurante e ver que você não está lá... ah sim, eu daria de tudo para ver a cena.
Um suspiro é seguido de um longo silêncio que parece ecoar no ambiente quase vazio. O Teddy's estava abandonado assim (com exceção das duas garotas e de alguns atendentes) porque aquela era a famosa e tão esperada noite do torneio do Círculo.
O sino da porta bate e alguém entra no local.
– Eu quero um whisky!
Ambas as amigas se viram em direção da voz.
– Beth! – Chamam, em coro.
A pequena menina larga sua mochila no balcão, sentando em um dos banquinhos. Ela estava surpresa. Seu cabeço ruivo estava mais curto agora do que se lembravam as outras, em um estilo bagunçado e meio hipster. As sardas abundantes por todo o corpo emolduravam seu sorriso.
– Gatinhas! O que estão fazendo aqui? O torneio já está acontecendo lá no porão da Ômicron Pi. – Pergunta, se aproximando.
Helena lhe empurra a bandeja com batatas, que bate no braço da menina. Pegando algumas e passando para seus cães-guia, Hércules e Apollo, ela completa:
– Ouvi que está batendo o recorde de tanta gente amontoada em um cômodo só.
– Ah, sabe como é, Beth. O pai da Charlie combinou de jantar hoje, mas furou. Aí viemos comer alguma coisa, mas a panaca aqui não está nem com fome.
Helena acotovela Charlie, que dá um sorriso fraco com a referência que a amiga faz a ela. Elizabeth bufa:
– Ainda quebro aquele cara.
– Relaxa. – Acalma Helena, tomando mais um gole de sua cerveja e passando-a para Elizabeth. – Bebe aí.
– Quer dizer, por que ele tem a necessidade de ser tão babaca?
A recém-chegada apalpa indignada o balcão em busca da bebida, encontrando-a e levando até a boca. Com uma careta, ela coloca a língua para fora e devolve a caneca ao rejeitar o gosto amargo do lúpulo. Os minutos seguintes são preenchidos pela conversa animada de Elizabeth e Helena, que respeitam a escolha de Charlie de permanecer calada.
– Beth – chama a loira, depois um bom tempo.
A garota engole o que estava bebendo e responde, com a voz arrastada:
– Sim?
– Por que você sempre vai nessas lutas? – questiona, com sinceridade.
Elizabeth não podia ver (literalmente) o que estava acontecendo... poderia ser horrível pensar isso, mas, o que ela ia fazer lá? Era apenas um cômodo abarrotado com centenas de estudantes gritando e brigando. A amiga dá um risinho súbito, entendo o que se passa na cabeça de Charlie.

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Sobre os Ursos
General FictionCharlie Darcy é uma garota forte, não apenas no aspecto literal da palavra. Vivenciando abusos, aprendeu a ser quieta, e não faz questão de entrar em conflitos ou insultar alguém em uma discussão. Embora com alguns contratempos, sua vida está quase...