Lanche de desculpas

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O ginásio estava escuro e ela não escutou o portão ranger, mas ele escutou os socos ferozes que eram distribuídos pelo saco de pancadas. Ela não o viu se aproximando, mas ele tinha uma perfeita visão dela treinando.

Adam ficou surpreso em vê-la ali, surpreso de ver gotas de suor em seu rosto. Os longos cabelos louros da garota permaneciam amarrados em duas tranças enquanto ela treinava, caindo por seus ombros. Ela usava um calção e um tipo diferente de sutiã, um que ele nunca havia visto. Parecia com uma regata só que curto, suado e colado ao corpo. Sem rendas ou desenhos frufrus, não era nada sexy: era feio.

Ele se sentia incomodado por ter se admirado com aquilo, mesmo que por alguns segundos. Qual era a dele? Ou melhor, qual era a dela? Ela continuava sendo estranha. Momentos se passam enquanto a garota continua a treinar, aparentemente ignorando sua presença, e Adam a observar.

O garoto, saindo de uma espécie de transe, decide largar suas coisas e começar a se exercitar. De que importava se ela estava ali? Era apenas uma garota, ele não poderia ser humilhado se não havia ninguém por perto para assistir. "Céus, que pensamento de derrotado imbecil" ele se xinga mentalmente.

Ao largar sua mochila e seus lanches, o som das sacolas preenche o ginásio escuro, um barulho que dessa vez foi percebido por Charlie. Ela procura ao redor e logo vê uma sombra a se aproximar. Não reconhecendo a pessoa que vinha, esconde-se atrás do saco de pancadas, envergonhada por suas vestes. Ela não costumava mostrar o corpo, o que a deixa com um frio no estômago pelo susto.

– Quem está aí? – pergunta, sua voz imperativa: alta e clara.

– Por que parou? – retruca ele, zombeteiro, sem se apresentar.

Os passos aproximam-se e, à medida em que o som aumenta, a garota fica mais nervosa. As cordas do ringue balançam quando ele passa pela barreira, chegando mais perto.

– Perguntei quem é. – Diz, firme.

– E eu perguntei por que se esconde. – Repete ele, com teimosia.

Adam chega ao lado do saco de pancadas, dando a volta nele apenas para perceber que não havia ninguém ali. Por baixo do saco de areia podia-se ver dois pés descalços que, a cada passo que Adam dava em sua direção, davam um passo para fugir dele.

– Me diga quem é você antes que eu...

– Antes que o quê? – Interrompe ele, sentindo uma leve queimação subir pelos braços. - Por que não para de fugir? – contrapõe, ainda dando voltas ao redor do saco em conjunto com ela.

– Você está invadindo uma propriedade da universidade. – Avisa ela, começando a ficar irritada assim como o rapaz.

– E o que você está fazendo então? – pergunta, indignado. Ela dizia aquilo como se não estivesse ali também!

– Eu sou a treinadora.

– Bem, e eu sou membro do clube. – "Sua esnobe", acrescenta em sua mente.

– Não, não é um membro. – Do contrário, ela com certeza reconheceria sua voz.

A raiva sobe pelo corpo de Adam, passando de seus pés até sua cabeça. Como assim ela não havia o reconhecido? Aquela luta de duas semanas atrás fora tão insignificante? Ele corre e ela o acompanha, porém o que Charlie não espera é que ele pare.

Com a súbita parada de Adam, a garota choca-se contra as costas do menino que, ao virar-se, levanta as sobrancelhas com um quê de ironia.

– Olhe só, apareceu.

Adam observa-a de cima a baixo, analisando suas curvas. Em poucos segundos a garota cora violentamente, o rubro tomando conta de sua pele clara. Ela tenta retomar seu lugar atrás do saco vermelho, mas uma mão segura firme em seu pulso.

Sobre os UrsosOnde histórias criam vida. Descubra agora