Capítulo um

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|OMAR|

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Às vezes  a vida pode parecer pesada sobre nossos ombros, isto é um fato. Alguns dias quando acordamos pela manhã, tudo o que queremos é permanecer deitados durante o resto do dia na cama, e nos escondermos do mundo e das obrigações e cobranças que vêm com o mesmo. 

Sinto que em alguns momentos a carga se torna pesada demais, a jornada dupla e solitária de pai solo e empresário de sucesso, faz com que a falta de uma pessoa com quem compartilhar os desafios diários da vida se torne um buraco bastante evidente, pressionando-me cada vez mais ao limite. 

Limite este que já ultrapassei há muito tempo ao cometer a mais inteligente, idiota e perigosa loucura: mentir sobre um assunto delicado o qual nunca tive coragem de confessar, em todas as vezes em que fui questionado, a verdadeira história para Dafne sobre o que havia acontecido com a mulher que lhe colocara no mundo. 

Mas como eu poderia? 

Como eu seria capaz de magoar o coração da minha garotinha ao revelar que sua própria mãe, ou melhor dizendo a mulher que havia lhe gerado por nove meses na barriga, não teve amor suficiente para sequer esperar que eu a registrasse em cartório, antes de lhe virar as costas e desaparecer de mala e cuia no mundo? Se essa dura realidade já machucava profundamente meu interior, imagine o estrago que faria a uma frágil menininha de apenas nove anos de idade?

Isso destruiria seu coraçãozinho! 

E meu coração de pai jamais irá permitir que nada nesse mundo faça Dafne sofrer. Eu prefiro morrer mil vezes do que ver minha filha triste ou infeliz. No que depender de mim, eu Omar Sarajevo, jamais deixarei que minha pequena pimentinha sinta a dor e o sentimento de rejeição que a ausência de sua mãe possam causar em sua vida. Sou pai e mãe ao mesmo tempo, e tenho amor de sobra para suprir essa lacuna nãopreenchida.

Sempre fui um homem esforçado para lhe dar de tudo em todas as áreas, e assim continuarei até o final dos meus dias, por essa razão eu menti e minto até hoje. Sim, eu menti para minha filha há alguns anos atrás, sobre o real paradeiro de sua mãe, quando fui questionado sobre o porquê dela ser a única menina de sua  sala que não tinha uma mãe para leva-la ao colégio como as demais amiguinhas. Pego completamente desprevenido pela pergunta capciosa de uma garotinha de apenas seis anos de idade, não tive outra opção a não ser inventar a primeira coisa que se passou na minha cabeça, uma mentirinha inocente, que a cada ano que passa e Dafne fica mais esperta, se torna mais difícil de sustentar, transformando-se numa verdadeira bola de neve.

Para minha pequena pimentinha, sua mãe é uma mulher muito ocupada que viaja ao redor do mundo salvando a vida de milhares de criancinhas famintas que não têm o que comer. Uma verdadeira heroína que luta pela causa dos pobres e indefesos. Uma completa balela!  Se Dafne soubesse o ser humano egoísta que Dayse era, nunca acreditaria numa história como esta.  

Todavia eu prefiro assim, manter essa farsa ridícula, com a desculpa perfeita para a constante ausência materna, e com isso preservar a inocência e bondade infantis que existem no coração de minha garotinha vermelha. Dafne merece o melhor, longe das maldades do mundo,  e se para isso for necessário que eu crie um mundo ideal é fictício onde ninguém é capaz de magoa-la, então eu o farei sem um pingo de arrependimento. Pois no final das contas os fins acabam justificando os meios em momentos como este, em que sou agraciado com lindos olhinhos castanhos brilhantes a me fitarem sorridentes e animados.

O Clichê dos Apaixonados-DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora