Prólogo

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|TAFNE|

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|TAFNE|

Eu não sei dizer quando ou como as coisas começaram a ficar mais difíceis, ou melhor dizendo em termos mais específicos ruins, em minha vida. Talvez seja quando sofri minha primeira e mais significativa perda, a morte de minha mãe. Uma fatalidade que aconteceu quando ela atravessava a rua após voltar de um longo dia de trabalho e um poste de luz desabar sobre seu corpo frágil. Tâmara Oliveira até chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos graves ferimentos internos e ao traumatismo craniano, então as 00:42 horas daquele mesmo dia, ela se foi. Partiu deixando para trás uma garotinha orfã de mãe de apenas oito anos de idade, e um pai enlutado pela morte da jovem esposa. 

Foi um período estranho, cheio de palavras não ditas e sentimentos reprimidos os anos que seguiram, em que nós dois, eu e meu pai, tentávamos nos adaptar a nova realidade em que não havia mais a marcante presença de minha mãe em nossa casa. Mas nós superamos juntos, vivemos o luto e encaramos a dor como conseguíamos. 

Então aos poucos a vida foi voltando aos eixos novamente, isto é, até uma nova rasteira arrancar subitamente meus pés do chão e me derrubar na lona outra vez com bastante força. Era só mais uma manhã normal até eu acordar para fazer o café e encontrar meu pai caído com o rosto sobre a mesa de jantar, e então horas mais tarde, descobri no hospital que um infarto tinha decido levá-lo de mim durante a madrugada. 

Eu tinha apenas dezoito anos de idade e acabado de entrar no curso de administração, que era o meu sonho desde sempre, numa universidade particular. Contudo como eu tinha bolsa de cinquenta por cento e a ajuda de papai para complementar a outra metade, tudo estava dando certo, até o momento. 

Então ele também se foi, deixando-me com um terrível buraco no coração e várias contas para pagar, além da mensalidade e outras despesas que eu tinha com a graduação. O jeito foi começar a procurar por um emprego para manter um teto sobre minha cabeça e o restante... o restante eu teria que fazer um incrível malabarismo para poder sobreviver. Confesso que encontrar um emprego não foi tão difícil quanto achei que seria no início. Vagas, existiam muitas delas a serem preenchidas em vários estabelecimentos, para alguém com as páginas em branco do currículo como o meu, e zero em experiência em coisa alguma, era até que promissor os resultados que eu havia encontrado. 

Porém o grande problema consistia em um único e simples fato: dinheiro. O pagamento era péssimo, chegava a ser o mínimo do mínimo, bem no limite, quase a um passo de sair do que era imposto pelas leis trabalhistas. E isso era sem exceção. Todos os lugares em que fui entrevistada era a mesma coisa, o mesmo padrão de resposta, o mesmo tipo de serviço, e praticamente a mesma quantia medíocre ao final de cada mês. E era o máximo que eu conseguiria com a ficha em branco que eu possuía no auge dos meus dezoito anos. 

Era pegar ou pegar. 

Não havia outra opção na atual situação em que eu me encontrava. Se eu quisesse me formar, teria que trabalhar duro, fazer horas extras, e o que mais  fosse necessário para isso. Então aceitei o cargo de garçonete numa lanchonete, a que pagava menos pior do que todas outras propostas anteriores e ralei. Ralei para caramba cada dia da minha vida. E cada final de semestre concluído eu comemorava internamente, reconhecendo que as horas extras que eu pegava no serviço para pagar a mensalidade quando um mês ou outro as contas se apertavam um pouquinho, tinham valido a pena. Pois agora depois de tantos anos e muito esforço da minha parte, estou a um passo de me formar.

Falta apenas mais esse semestre e então terei em mãos o meu tão sonhado diploma de administração! Um sonho sendo realizado!

E as novidades não param somente por aí. Ultimamente a sorte parece que resolveu sorrir de vez para mim. Estou tão empolgada com a recente notícia que recebi a poucos minutos em minha caixa de email que mal me contenho. Salto da cadeira em que estou sentada, dou alguns pulinhos feito criança em manhã de natal e soco o ar em comemoração. Finalmente, após anos tentando novas oportunidades de emprego em outros lugares que possam me fornecer uma melhor experiência no meu ramo de trabalho, e inúmeras entrevistas fracassadas, eis ali diante dos meus olhos, exposto na tela máxima do computador, depois de eu ter lido umas mil vezes só para garantir certeza de que aquilo era verdade mesmo, eu grito. 

Eu consegui!

Eu consegui, mas não um emprego qualquer. É O EMPREGO! Num local chique e bacana que agente vê nesses filmes que passam na tv, elegante, caro e que só quem tem grana e muita paciência para enfrentar uma longa lista de espera para agendar uma reserva, é que frequenta esse tipo de ambiente. 

Todavia o mais importante para mim é o fato de que trabalhar num lugar de renome e prestígio com este enriquecerá e muito meu currículo, até então sem muitas experiências registradas lá, somado ao detalhe de que estarei exercendo uma função que contribuirá para minha formação acadêmica. E o melhor de tudo... O INCRÍVEL SALÁRIO que vão me pagar por isso! É uma boa bolada. Boa o suficiente para me livrar do antigo emprego na lanchonete, pagar meu curso de administração, as contas da casa e ainda sobrar uma razoável quantia que pretendo guardar na poupança para investir no futuro. 

-VOCÊ É MARAVILHOSA, LINDA,CHEIROSA E INCRIVELMENTE PODEROSA, TAFNE OLIVEIRA! -grito eufórica de frente para a imagem refletida no espelho. -O mundo agora está aos seus pés, garota! 

Bato os pés como um bichinho agitado, elétrica, ligada nos 220 volts. Arranco pela cabeça a velha camisa de uniforme da lanchonete, que a partir de hoje faz parte do passado, jogo no chão e me livro da calça jeans surrada que tem o mesmo destino que a peça anterior. 

-Você merece uma noite para extravasar, Tafne! -converso comigo mesma enquanto me enfio debaixo do chuveiro num jato de água quente para um rápido banho. -Precisa sair e comemorar pela primeira vez na vida algo bom que te acontece. Não é todo dia que uma novidade como esta cai do céu diretamente no colo da gente, garota!

Isso é verdade, a voz em minha cabeça concorda solenemente comigo. 

-E é isso mesmo que eu vou fazer, menina! -respondo para ninguém em específico. -Essa noite irei vestir minha melhor roupa... -digo abrindo as portas do guarda-roupas enrolada numa toalha. -Irei calçar meu melhor sapato... 

Vasculho as opções que encontro pela frente, umas me agradam, outras não. Faço um terremoto, uma verdadeira bagunça de roupas e calçados no pequeno retângulo de madeira em que guardo meus pertences, quando por fim escolho o que irei vestir. 

-Hoje é dia de arrasar, mulher! -meus olhos brilham em expectativa ao admirar o lindo vestido azul royal de alças finas e pedrarias no busto que seguro nas mãos. -Eu preciso apenas encontrar um bom lugar para me divertir, e me soltar como realmente mereço. -penso em voz alta enquanto imagino o lindo par de saltos altos que irão combinar perfeitamente com a roupa, então corro para me arrumar. 

Hoje a noite é minha! Prometo a mim mesma. Sinto uma ótima vibração de que as coisas estão prestes a melhorar ainda mais.

 Sinto uma ótima vibração de que as coisas estão prestes a melhorar ainda mais

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O Clichê dos Apaixonados-DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora