Ordo Veritais_Arquivo 3: Ivete II

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O clima estava calmo até, uma brisa fria de fim de tarde. As cores sempre eram mais vibrantes, mas parecia que tudo se deixava ser um tanto pálido.

O sabor apimentado das plantas ao redor roçava em seu nariz atiçando ainda mais a sua fome interna. Mais um sopro do vento, e um fio branco voou para as profundezas do céu.


A forma bruta como aquele homem barbado adentrou e se dirigiu a mais velha ferveram o sangue de Arthur, antes de se levantar da cadeira onde se sentava junto de Ivete a mesma lhe segurou o braço com firmeza.

- Um arrombado vem sempre acompanhado de outros.

Arthur entendia aquela frase, já havia lidado com momentos parecidos no passado...

- E você bixinha? - soou a voz grossa e esganiçada.

Arthur olhou para o homem, e esse estava virado para o garoto com cabelos ponto-roseados. Rafael, que até então estava olhando com a cabeça baixa a mesma garrafa de whisky nas luzes amareladas do balcão virou seu olhar entediado para o homem na mesa ao lado e, Arthur pode ver, um interesse passou em seus olhos, uma faísca de diversão e perversidade.

Rafael simplesmente passou a olhar seus dedos estirados junto de seus braços na mesa. O grande barbudo, que antes esbanjava uma cara debochada e superior, franziu levemente a cara deixando seu corpo um tanto mais tenso.

- A arrombadinha é surda é? - disse se virando mais um pouco com a cadeira para a sua direção.

- Não, eu escuto muito bem - Rafael se virou na direção do grande homem barbudo - Que que foi grandão?

- He, gostou disso é? - disse apertando a costura da sua calça um tanto desgastada - Que pegar no meu pau é?

A paciência de Arthur estava chegando em limites bem estreitos e torturantes, ele não queria dar trabalho para Ivete, mas aquele homem nojento já estava lhe dando quanto nos seus nervos. A única coisa que emperrou Arthur foi uma olhada do de cabelo pintado e a sua mudança de postura, ele se levantou da mesa e, apoiou a cara em sua mão, mantendo um contato de soslaio com Arthur.

- O que te faz pensar isso? - disse sorrindo, o que seria um sorriso encantador se não fosse aquele olhar perverso e divertido em seus olhos.

- É isso que boiola que nem você faz neh? Adora chupar o macho aqui? - falou mexendo ainda no tecido esbranquiçado e cinza, levemente rasgado da jeans. O olhar convencido e o sorriso de dentes amarelos o deixava com um ar de superioridade ao seu redor, um ar raso e irritável.

- Mas foi você quem propôs desde o início - disse se levantando e se dirigindo a mesa do cara - Além de que... - deu a volta até as costas da cadeira - Isso aí não nem um pouco impressionante, é bem decepcionante na real.

Rafael andou apressadinho dando alguns pulinhos em seus próprios calcanhares e foi para mais perto de Arthur.

- O que você disse seu viadinho de merda! - o cara grande se levantou derrubando a cadeira em que estava sentado.

Todo e qualquer ar de superioridade que o grande cara barbudo poderia ostentar se dissipou em uma expressão de raiva surreal. Porém antes de qualquer atitude por parte de ambos os lados as portas se abriram batendo na parede do bar.

- Carmão! Ce deixou agente pra trás foi? - disse um outro homem, musculos estranhamente bem arredondados, uma bandana preta na cabeça e cabelo estilo surfista preto.

- Seus porra vocês demoraram pra caralho, merda! - disse com o rosto levemente avermelhado.

- Oh Carmão que aconteceu aqui nessa merda de lugar? - perguntou um outro cara aparentemente mais velho, os óculos escuros reluziam as luzes brancas das lâmpadas do estabelecimento. Mesmo estando a metros de distância Arthur podia sentir o cheiro de fumo vencido e barato.

- Esses viadinhos aqui tão se achando demais!

Nesse momento Rafael se aproximou de Arthur e disse em um tom um tanto quanto auto, que, na opinião de Arthur foi a intenção.

- Relaxa, você é mais interessante nesse quesito. - Seu olhar divertido e perverso ainda se mantém no rosto, os lábios desenhados em um sorriso meio falso.

- Cês tão se achando é? Não sabia que viado tinha pau grande o suficiente para agir

assim?

- Ue? As putinhas vão chorar é?! Não querem engasgar lá trás com a gente não?

Todos os outros homens que passaram pela porta seguiram o rumo das brincadeiras e das ofensas rindo e gargalhando como gralhas em época de acasalamento. Ivete colocou com certa fúria quatro garrafas de cerveja na mesa, e se virou rapidamente para voltar ao balcão, ela sentia tanta fúria, mas tanto ela quanto Arthur sabiam que era melhor não arrumar briga, Ivete ainda tinha que quitar as prestações da sua nova máquina de lavar, mesmo que Arthur tivesse se disposto a fazê-lo. Ivete era dura nessa questão, sabia que Arthur a amava e que queria a ajudar com os problemas do bar e da casa, mas ela sempre soube se virar sozinha e não seria tão diferente agora, mas guiar o bar em uma cidade grande como em São Paulo era deveras difícil, não só ela teve dificuldades com o imóvel como também em começar o bar, já que, as bates pareciam bem mais atrativas.

Os homens da provável gangue pareceram se acalmar com a chegada de álcool, se sentaram nas mesas disponíveis e começaram as conversas altas e risadas exacerbadas. Assuntos como "peguei duas ontem...", "ela sentou com dificuldade mais..." ou "O cara me deu a seringa ontem na sala e.." começaram a se espalhar pelo ar do bar, um ar antes limpo e aconchegante que tinha se tornado nojento e irritadiço. Várias porções da cerveja caiam no chão o tornando grudento e sujo, um cheiro de suor e saliva também pairava no ar.

O cara que tinha chegado primeiro porém, ainda observava com olhos raivosos nosso garoto de cabelos roseados, ao qual tentava mostrar para Arthur um truque com os dedos que ele havia aprendido três mesas de distância.

A porta que havia sido fechada pela Ivete foi aberta mais uma vez, liberando para dentro do ar abafado e grudento do recinto um vento gélido e uma voz jovial e animada, apesar de bem grossa.

- Hey Iveteee! Nós trouxemos um presenteee! - disse

Um grupo de três garotos foi entrando no bar, um garoto loiro e barbudo com um sorriso no rosto, uma tatuagem de unicórnio em seu antebraço esquerdo e uma sacola verde cinza do mercado. Um outro garoto de cabelos pretos longos e jaqueta de couro cortada nas mangas estava ao seu lado sorrindo para a mulher em questão no fundo do balcão limpando alguns copos com uma certa força, copos limpos.

Uma garota com delineador preto e uma jaqueta de couro com um coração vermelho partido por uma adaga também entrou no bar junto de um garoto bem parecido com a mesma e usando o mesmo delineador e uma jaqueta igual porém com um coração roxo.

- Olha se mais boiolas e uma putinha gostosa não chegaram?

Os novos jogadores olharao com ódio e repulsa para os cinco homens nas mesas a sua frente, e recuaram alguns centímetros daqueles que começavam a se ajustar de forma superior em suas cadeiras.

- Ele! - disse Rafael apontando para o "garoto" com a tatoo de unicórnio de crina arco-íris - Ele sim é BEEEEM interessante.

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