Ordo Veritatis_Arquivo 2: Ivete I

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O nascer da alvorada marcava mais um dia no laboratório. Todas as tubulações haviam sido colocadas nos lugares, a fiação parecia funcionar com louvor. A mulher de cabelos negros e pele acinzentada estava suspirando enquanto o sono conduzia seus enevoados pensamentos. Quando um raio frio da luz do sol alcançou seus olhos, ela acordou de novo.

Arthur havia sido instruído a viajar no mesmo dia para que o rastro fresco permanecesse desse jeito, porém antes queria dar uma passada na sua casa... a verdadeira casa.

- Quanto tempo até irmos aonde você vai?

O seu novo "parceiro" insistiu em acompanhá lo durante todo o trajeto, era uma pessoa quieta até, porém insistente, pediu para Arthur esperar enquanto pegava algum lanche em uma lanchonete próxima, ele não gostava disso, queria perder o mínimo de tempo possível para acabar com aqueles desgraçados.

- Falta pouco - disse - Você não precisa fazer suas malas para a viagem?

- Posso pegar ela no meu apartamento assim que sairmos do bar, e podemos ir na sua moto não? Você deixa ela lá não deixa? - Respondeu com certo divertimento em sua voz.

Arthur arregalou de leve os olhos em espanto, um segundo depois dessa reação porém, puxou o ombro dele de forma que o mesmo desviasse os olhos para Arthur. Olhando com raiva para a cara temerosa de Rafael apertou ainda mais o casaco do mesmo em sua mão.

- Como você sabe? Eu pedi para que deixassem ela fora disso.

Rafael olhou nos olhos de Arthur e relaxou, seu sorriso se limitou a um lado somente de sua cara, e seus ombros caíram como se realmente não se importasse com todo aquele drama.

- Quis saber um pouco da vida do meu parceiro, e como não tinham arquivos suficientes na Ordem eu procurei seus antecedentes... Lamento a morte do seu pai - disse no final com um olhar fixo nos olhos de Arthur, expressando o seu pesar pela perda.

- Isso... - disse o soltando - Isso foi a um tempo atrás - e desviou seu olhar para a janela, queria concentrar-se na missão, mesmo que o assunto o machucasse muito na verdade.

Nenhum dos dois se dispôs a falar durante o resto do trajeto, deixando que o motorista os conduzisse até o seu destino.

Quando chegaram na fachada de uma construção na parte de trás de uma praça longe de toda a parte movimentada de São Paulo, onde a estrada fazia uma curva na estrada interestadual seguindo reto até uma outra estrada um pouco acidentada. Aquela estrada foi esquecida depois de um tempo após a abertura de uma de acesso mais rápido ao grande centro, um lugar perfeito para disputar uma corrida de motos, e um lugar perfeito para o bar que a Ivete queria.

Ao descerem Arthur decidiu pagar no cartão mesmo enquanto Rafael se fazendo de desentendido olhava analitico para a construção de concreto a sua frente, a porta, estranhamente parecia chamar a sua atenção, era um pouco antiga podia-se ver, mas resistente para qualquer um que tentasse arromba-ba. A construção era um tanto estreita, havia um segundo andar com a varanda virada exatamente para a grande estrada.

Arthur bateu seu ombro no braço de Rafael o tirando de sua análise e entrando com a chave em seu bolso.

- Bem Vindo ao Suvaco Seco.... segundo - completou e entrou no bar.

Rafael nem tinha se dado o trabalho de analisar a grande placa néon alaranjado no meio da construção. Entrou sem cerimônia e sentou em uma mesa qualquer, Arthur ascendeu as luzes, enquanto Rafa olhava ao redor, o bar era extremamente limpo e bem cuidado, as garrafas de whisky estavam todas postas em uma prateleira atrás do bar, um whisky de teor 80% permanecia no balcão, a luz refletida em seu vidro e o emblema de caveira pareciam até desafiar a qualquer um para beber-la. As mesas lustrosas estavam bem dispostas junto de uma mesa de sinuca com todas as bolas espalhadas pelo tecido verde.

Arthur foi para os fundos do bar em uma porta lateral que subia para o andar de cima, porém antes que ele chegasse mais perto para abrir a porta com sabe se lá quantas travas, a mesma se abriu sozinha, revelando a bela mulher de 59 anos, os cabelos já totalmente grisalhos amarrados em uma trança frouxa que descia seu ombro, trajava-se com uma camisa vermelha e uma calça moletom cinza. Quando pulou um último degrau, um pouco mais elevado ao chão, sua trança indo mais a frente em seu ombro e o olha direto nos olhos de Arthur, Ivete rodeou seus braços no homem, um pouquinho mais baixo que a mesma.

- Arthur! - falou em uma nota alegre e preocupada - Eu recebi a sua mensagem, alguma coisa aconteceu?

- Oi Ivete - disse retribuindo o abraço - Eu recebi um chamado da Ordem, está tudo bem..... Ivete - disse separando o abraço logo após a mais velha o ter pressionado com mais força.

- Arthur eu ainda não gosto que você tenha entrado nesse grupo de caçadores dos terroristas, essas histórias de fantasmas Athu-

- São aqueles caras denovo Ivete - disse Arthur interrompendo as preocupações da mais velha - São os mesmos de três anos atrás Ivete.

Ivete olhou confusa para Arthur mas seus olhos se arregalaram instantes depois, ela se lembrou dos cinco forasteiros que vieram em seu bar, os cinco forasteiros que trouxeram tanta desgraça. Os joelhos de Ivete fraquejaram por um minuto e Arthur teve de segura-la para que a mesma não caísse, segurando os antebraços de Ivete o heterocromático pode ver a mais velha cerrando os punhos e tremendo levemente de raiva.

- Desculpa Arthur... Você vai atrás deles?

- ... Sim.

- Eu vou junto-

- Não, Ivete - disse a trazendo para as cadeiras acolchoadas do balcão - Ivete eu tenho experiência com isso, isso é tão perigoso para você e.... eu...

Arthur segurou as mãos de Ivete com carinho acariciando suas juntas e a pele levemente mais fina e enrugada, apesar de estar próxima de seus 70 anos, Ivete era conservada, a pele fria em contato com as mãos grandes e cheias de algumas pequenas cicatrizes.

- Eu não posso arriscar perder mais da minha família, entenda por favor Ivete -

Um estrondo na porta interrompeu o discurso de Arthur, um homem barbudo de aproximadamente 45 anos passou pela porta a passos pesados e relaxados.

Rafael se assustou com o barulho da porta e se levantou, porém, ao olhar para o homem com o pescoço todo tatuado e vestindo uma jaqueta de couro preto voltou ao semblante levemente entediado de sempre.

- Oh vadia, vê uma bebida pra gente.

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